“Inteligência Emocional – Será que eu tenho?”, por Marcela Mercante Nekatschalow

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Inteligência Emocional – Será que eu tenho?

Por Marcela Mercante Nekatschalow

Na teoria muito se fala nela e quando lemos ou ouvimos os especialistas, parece facilmente compreensível e até mesmo fácil ter a famosa inteligência emocional.

No entanto quando a coisa acontece na nossa pele, na prática, tudo muda de figura, e até mesmo quem já se julgava mais inteligente emocionalmente, se depara com grande fragilidade emotiva, com dor, medo e até pânico. Como eu sei disso? Você já adivinhou!

Há quatro anos atrás dei uma grande guinada na minha vida quando passei pelos treinamentos do especialista Rodrigo Fonseca, o Lotus, Gaivota e Livre, completei a trilogia, como chamamos. Fiz depois o curso de especialista em IE e não parei mais, numa senda de aprendizado constante, com cursos, leituras e alguma prática.

Descobri uma grande paixão, que é ajudar as pessoas e a psicologia, e já estava me julgando um pouco mais equilibrada, quando então fomos todos nós terráqueos, surpreendidos por essa pandemia.

Foi então que me descobri muito mais frágil e bem menos inteligente emocionalmente do que imaginava.

A experiência mostrou-me que, de fato, acho que não somente eu, mas a grande maioria de nós não sabe lidar com o desconhecido, a perda, os medos, o isolamento, a falta de distração da nossa consciência.

É duro minha gente.

E o que é então, na pele, no couro como dizem, viver toda essa adversidade com inteligência emocional, se no fundo, é nesse momento que todas nossas sombras e crenças negativas e limitantes, arraigadas em nosso cérebro emocional aparecem com toda força?

A crença da escassez, da doença, da tragédia iminente, da solidão, do descaso, da culpabilidade, de que tudo sempre dá errado para mim, de que sou azarado, rejeitado, de que sou o maior responsável, e tantas outras, que foi ao longo de cada vida impressa no cérebro límbico e estavam disfarçadas, nesse momento se reavivam com toda força, e em muitos momentos nos dominam.

Quem já passou por isso entende o que estou falando: a gente entra num tipo de surto em que as fantasias (por exemplo, estou doente, vou ficar pobre, perder o emprego…) se tornam tão reais ou palpáveis como um pedaço de pão ali na sua frente

Eu tenho várias dessas aí e muitas outras na minha vida, e todos dias procuro prestar atenção e aplicar o que chamo do benefício da dúvida: questiono cada uma delas e coloco sobre o crivo da razão: porque estou pensando isso, existe algum motivo sério, racional? Se encaixa na minha vida de hoje ou estou revivendo o passado? É um árduo trabalho, às vezes sou atropelada pelo meu tigrão (emoções) mas trazendo isso para a consciência, depois consigo retornar à realidade e sair do delírio.

Mesmo assim várias vezes elas me pegam no contrapé e de repente estão ali, dominando e trazendo uma enorme angústia, medo, pânico, tristeza; as emoções negativas mandando em tudo e deixando a razão lá atrás.

Como falei, na teoria até que é fácil entender como evitar tudo isso usando ao nosso favor o equilíbrio das emoções, mas na vida real nem tanto assim.

Comecei então a observar as pessoas que estão melhor do que eu. Aquelas que estão bem, mesmo com essa pandemia, tocando a vida e até tirando um suco desse limãozinho azedo.

Essas pessoas vivem um dia de cada vez. Elas procuram manter-se ocupadas, no ato bom, ou seja, sendo úteis, mesmo se for fazendo coisas extremamente prosaicas, como limpar um armário ou arrumar o depósito da casa; elas se esforçam para ajudar o próximo, nas mínimas coisas (pequenas mesmo, como dar um telefonema ou mandar uma mensagem); elas tomam um solzinho ou um ar fresco quando dá; ouvem uma boa música e não se sentem culpadas.

Não precisamos sofrer. Parece que de alguma forma a vida que muitos de nós levamos, na correria, stress, sem ter tempo para curtir as coisas simples da vida, alivia a enorme culpa que carregamos por erros que jamais nos perdoamos ou até que pensamos que cometemos.

É nessa hora que devemos olhar para essa culpa (se algum de vocês já a identificou), e perceber que ela não deveria estar ali, pois nós fazemos jus a todo o bem da vida. Deus fez tudo perfeito para a gente usufruir, sermos felizes e espalharmos luz na vida uns dos outros, evoluindo… Sem culpas!

Aceitar amorosamente nossos erros, acolhê-los como aprendizado, com humildade, mas também aceitar o bem da vida de braços abertos.

Podemos aproveitar essa oportunidade de parada forçada e olhar com calma para o que estamos fazendo com nossas vidas, como temos nos maltratado amigos!

Estar bem, buscar um sentido maior para nossa existência, algo que nos faça feliz realmente, quebrando de uma vez por todas com a escravidão que a sociedade impõe do – tem que ser – tem que comprar, tem que fazer!

E afinal, quanto tempo você tem?

Marcela Mercante Nekatschalow

09-04-2020

A autora é Procuradora do Estado de SP., especialista em inteligência emocional pela Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional (SBIE), pós-graduanda em Gestão de Conflitos pela Fatri – Faculdade Trilogia Analítica Keppe e Pacheco, São Paulo/ SP.