“A exuberância da simplicidade no Desembargador”, por Feres Sabino

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De repente, na conversa entre iguais, como operadores da ciência do direito, eis que surge o nome de uma pessoa que de alguma maneira está vinculada à vida pessoal ou profissional dos presentes, naquele almoço.

Estavam ali, junto à mesa, advogados e desembargadores, quando eclode MARCOS NOGUEIRA GARCEZ, como paradigma que orgulhava a todos, por igual.  O Desembargador,  já falecido, cresce na memória  e no verbo de quem o conheceu.

Se não existe uma biografia alentada dessa figura humana, há o primoroso discurso do Desembargador Arthur Marques que, num texto escorreito na forma e fluente e cuidadoso e rico no conteúdo, traça o perfil desse homem, cujo nome está gravado sintomaticamente na biblioteca do Tribunal de Justiça de São Paulo.

O lugar dessa homenagem foi uma escolha feliz, pois se numa biblioteca adormecem, nos livros e alfarrábios, todas as virtudes e paixões humanas, ela também significa, que ali está a figura histórica com toda produção de historiadores e literatos, examinando, enaltecendo, o sacrifico e a ressureição da cruz, que marcou indelevelmente a pessoa, a  personalidade  e a vida de Marcos Nogueira Garcez, que amava os livros.

Católico praticante era a exuberância da simplicidade. Assistia à missa da manhã, com a irmã. À noitinha, era a vez de ir acompanhado com a mulher. No trato do dia-a-dia era sempre o conciliador dos conflitos, era sempre o que encontrava uma saída honrosa para quem desejasse disputar. E saiam os litigantes persuadidos e convencidos de que ele dera a melhor solução.

Uma vez, Juiz de uma Comarca, foi convocado para ir à outra, para arbitrar o movimento grevista, que terminou, dois dias após sua chegada e intervenção.

Elegante no trato, compreensivo na percepção da realidade, chegou à 1ª. Vice Presidencia e depois à Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, do qual ainda foi seu Corregedor.

Respeitadíssimo. Dispensava o transporte pelo cargo oficial, até que o motorista lhe confessou que ficaria numa situação estranha e difícil se ele fosse considerado um inútil, por falta de sua utilização, como profissional. De vez em quando, ele o ocupava.

Sua Magistratura não perdeu em intensidade pedagógica por causa de sua discrição. Ao contrário, vivenciando sua profissão rigorosamente dentro de seu discreto dever, passava distante e longe dele qualquer dúvida quanto ao seu esforço decente de imparcialidade em qualquer julgamento. Ganha forte atualidade, nos dias que correm, esse exemplo de Magistrado digno e silencioso, na marcha de homem da lei.

De uma família de 10 (dez) irmãos, um foi governador do Estado, os demais traçaram caminhos diferentes, mas trazendo na ética da vida à formação cristã, que tanto ele reverenciava. Das suas irmãs, três foram freiras carmelitas.

Um dia, um seu vizinho, não o conhecia, e comentou que naquela casa morava um louco que amanhecia escrevendo, e continuava à noite esse estranho oficio de escrever, escrever.

Pai de família exemplar, deixou órfãos no mundo todos os que o conheceram e o tinham com ele o parentesco da ética e a admiração da simplicidade, mesmo sem a exuberância que ele naturalmente exalava.

Formou-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ingressando nela em 1939.

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