Novo programa da
dívida ativa promete otimizar recuperação de créditos
No Estado de São Paulo, a inscrição, o controle
e a cobrança da dívida ativa são prerrogativas
da PGE, previstas no artigo n°
99 da Constituição paulista. No entanto, tal preceito constitucional
vem sendo cumprido apenas parcialmente.
Hoje, antes de inscrito na Dívida Ativa,
o débito é de responsabilidade da Secretaria da
Fazenda, por meio dos agentes fiscais de renda.
Há três anos
sendo desenvolvido pela Prodesp, um
programa de gerenciamento, que permitirá o controle
total da dívida ativa pela PGE, está em fase final
de implantação. “A Fazenda inscreve e ajuíza todos
os débitos. A partir daí, damos andamento nas
execuções fiscais. Após a efetiva assunção, teremos um
maior controle sobre o nosso trabalho, que
será otimizado. Poderemos apenas inscrever, e
não ajuizar, débitos de uma empresa falida, sem faturamento.
Ou ainda intensificar mais as cobranças administrativas”,
comenta Ana Cristina Leite, conselheira
da PGE.
O efetivo controle
da dívida ativa representará um
ganho institucional para a PGE, reafirmando o
seu papel constitucional na recuperação de créditos para
o Estado. “Parece-nos evidente o significado da
assunção do controle da dívida ativa: a oportunidade
de prestar melhores serviços ao nosso cliente
(o Estado), atender de modo mais eficaz às
suas necessidades e cumprir o nosso propósito de
modo ainda melhor. Acredito que participar desse
momento da Instituição seja motivo de orgulho
para todos os procuradores”, afirma Ary Porto,
subprocurador geral do Contencioso (veja entrevista
na p. 6).
A assunção chega
em momento crucial, justamente quando
a pressão para uma terceirização da cobrança
da dívida ativa, para instituições financeiras, ganha
força. Em julho de 2006, o Senado Federal
aprovou a Resolução n° 33 autorizando Estados,
Distrito Federal e Municípios a transferirem a
cobrança de suas dívidas ativas, por meio de
endossos-mandatos. A resolução é alvo de uma ADIn
– ainda aguardando julgamento no STF –, proposta
pela Anape e apoiada pela Apesp , que consideram
a medida inconstitucional. Em março último,
o ministro da Fazenda Guido Mantega enviou
à presidente do STF, Ellen Gracie, dois projetos
de lei, que entre outras coisas, prevêem a
cobrança terceirizada de débitos inferiores a R$
10 mil. “Vale destacar que uma previsão constitucional pode
ser revista por meio de uma PEC. O governador
José Serra conta com a ampla maioria na
Assembléia de São Paulo”, adverte Ivan de Casto, diretor
financeiro da Apesp .
Apesar dos
excelentes resultados na recuperação de
créditos que a PGE vem obtendo nos últimos anos
(mais detalhes na reportagem “Eficiência da
PGE gera recordes de arrecadação”, nas p. 4 e 5, da
edição n° 26 do JP), o procurador geral, Marcos Nusdeo,
afirmou em recente sessão do Conselho da
PGE existir uma cultura – por parte dos administradores públicos
– de que os procuradores cobram
pouco do estoque da dívida ativa. Por isso, segundo Nusdeo, a assunção será vital para que a
carreira
mostre sua eficiência. Para Ana Cristina Leite
Arruda, conselheira da PGE, a atuação do procurador
ganha relevância também por coibir a
sonegação e a impunidade dos devedores. “O excelente
trabalho do procurador mostra para o cidadão
que um dia a dívida será cobrada”, diz a conselheira.
Para Sidnei Farina de Andrade, coordenador geral
do projeto de gerenciamento, “a assunção
do controle da dívida representa também
o desafio de unir
esforços em prol desse objetivo comum,
de utilizar todos os recursos existentes da melhor
maneira possível para, juntos, alcançarmos resultados
que nenhum de nós, isoladamente, jamais poderá
obter”.
Exatamente por
compreender esse desafio dadívida ativa
e a magnitude do programa de assunção que
muitos colegas vêm propondo alternativas para
ultimar a fase de transição, minimizando ao máximo
os percalços. “Pretendemos colaborar sempre
no sentido de tornar a assunção da dívida ativa
um eficiente mecanismo na busca do incremento da
arrecadação”, comenta Paulo Novaes, diretor
de comunicações da Apesp . Foi com essa intenção
que Novaes levou ao Conselho da PGE proposta
de uma resolução conjunta, da PGE e da
Secretaria da Fazenda visando ao treinamento dos
funcionários da Fazenda, que hoje atuam no serviço
da dívida ativa, para que possam operar o
novo sistema e continuar auxiliando a PGE.
“Não podemos
prescindir de uma mão-de-obra especializada,
sobretudo em unidades do interior, que
não possuem nenhum servidor à disposição”, continua. Sidnei Farina de Andrade informa que
“está previsto o treinamento
de pessoal da Secretaria da
Fazenda para utilizar o sistema da dívida ativa.
Isso não
significa, entretanto, a transferência de funcionários
daquela pasta para a PGE. A Secretaria da
Fazenda mantém, ligados à Diretoria de Arrecadação
e às DRTs, especialmente nos CRAs e
nas UFCs, muitos agentes fiscais e um corpo de técnicos,
os TAAT’s, para cuidarem dos serviços relativos
à dívida ativa. Esses fiscais e funcionários não
serão, ao menos no que diz respeito à dívida ativa,
transferidos para a Procuradoria, o que não impede
que pleitos individuais e locais sejam formalizados e
apreciados pelas duas pastas”.
Outra preocupação
inerente à falta de servidores na
PGE refere-se ao atendimento ao contribuinte que,
segundo Sidnei Farina, será “reduzido e
simplificado, pois através do site da dívida ativa será
possível obter guias de recolhimento para liquidação
ou pagamento parcial do débito, bem como
obter parcelamentos”. Porém, Ana Cristina Leite
argumenta que muitos contribuintes ainda não
têm acesso à internet e que, por ser necessário um
período de adaptação, o contribuinte
continuará
demandando atendimento presencial durante
um período. Ary Porto, subprocurador geral
do Contencioso, reiterou, durante reunião do Conselho
da PGE, que os Postos Fiscais não serão extintos
e continuarão prestando atendimento direto
aos contribuintes. Segundo ele, tal colaboração está
garantida, uma vez que a assunção da dívida
ativa não é apenas uma política da PGE, mas um
compromisso de todo o Governo estadual. Ou seja,
caso ocorra uma falta de colaboração, poderse- á
publicar um decreto do governador para o seu
cumprimento.
Com relação ao
aumento de demanda para os
procuradores que atuam na área, a equipe responsável
pelo programa de gerenciamento da dívida
ativa aponta que “em princípio, todas as atribuições
disciplinadas nas Rotinas do Contencioso permanecerão
em vigor”. Os procuradores continuarão
a cancelar débitos, a inibir inscrições, a
substituir certidões ou analisar a possibilidade de
emissão de certidão positiva de débitos, com efeito
de negativa. “No entanto, esses atos que hoje
são realizados manualmente, serão praticados diretamente
no sistema, e não mais por meio de processos
administrativos que são encaminhados a
setores da Secretaria da Fazenda. (...) A inscrição de
débito na dívida ativa, por sua vez, que hoje é realizada
ou simplesmente autorizada pela Procuradoria Fiscal
e Regionais, será totalmente automatizada ou
inserida no sistema pelas Secretarias e
órgãos de origem”.
A totalidade do
trabalho, desde a recepção do débito
para inscrição, até a cobrança administrativa ou
o ajuizamento, será centralizada na capital.
Para isso, serão
criados “inicialmente dois grupos de
trabalho, um encarregado das funções que mais tarde
serão exercidas pela Coordenadoria da Dívida Ativa
e outro das funções que serão exercidas pela
Procuradoria da Dívida Ativa”, afirma Sidnei Farina.
As atualizações e adequações do sistema ficarão
a cargo da Prodesp, “mediante contrato de
manutenção do sistema, supervisionada pelos grupos
de trabalho constituídos, que concentrarão as
sugestões de alteração que eventualmente sejam feitas
por qualquer procurador, a exemplo do que ocorre
hoje em relação ao SEF – sistema de acompanhamento de
execuções fiscais”, completa.
Outro avanço
apontado pela equipe responsável pelo
programa é que “ao contrário do sistema da SF, que disponibiliza informações esparsas por
meio
de acessos diferentes e não contempla todos os
débitos”; no novo sistema todas as informações estarão
concentradas, dentre as quais: situação dos débitos,
cadastro de devedores, conta corrente, informações
de parcelamentos e telas de cancelamento de
dívidas, de substituição de CDAs. Além disso,
haverá um aumento da velocidade do fluxo das
informações. “Se for determinado no sistema o
cancelamento de uma CDA, imediatamente, via web,
pode ser obtida a certidão negativa em relação a
esse débito; ao ser processada a GARE de liquidação de
um determinado débito, caso ele tenha sido objeto
de ajuizamento, imediatamente será disparado um
‘alarme’ para o procurador encarregado do
acompanhamento da execução fiscal”.
Por uma questão de
segurança, aventou-se ainda a
possibilidade de manter o atual programa da SF funcionando
concomitantemente com o novo sistema.
O procurador
Arnaldo Bilton Junior, membro da
equipe responsável pelo programa de gerenciamento da
dívida ativa, explica a impossibilidade de tal
procedimento: “Não há motivo e nem condições técnicas
para se manter dois sistemas, um na PGE e
outro na SF, realizando as mesmas operações simultaneamente
e tratando de modo diverso uma mesma
situação. Além disso, os sistemas da Fazenda não
estão preparados para permitir a inscrição e o não
ajuizamento imediato”. Arnaldo destaca ainda que
o sistema da SF é composto por vários programas.
“O mapeamento de
todos os programas que precisarão
ser desativados já foi feito pela Fazenda e
pela Superintendência da Prodesp, ligada àquela pasta,
e serão desligados no momento em que o sistema
da PGE for definitivamente implantado”.
Segundo o
procurador, todos os procedimentos de transição
entre os sistemas estão sendo cuidadosamente estudados.
“Constatada qualquer falha em algum
ponto dessa transição, os coordenadores de cada
fase do processo poderão interrompê-la, suspendendo- a
até que os problemas sejam corrigidos.
Caso abortada a
transição, os sistemas da Fazenda continuariam
em funcionamento”, conclui. A
transferência de dados de um sistema para outro
é um procedimento altamente complexo.
Dessa forma,
Arnaldo argumenta que a Prodesp “será
também responsável pela segurança do sistema,
pelo tempo que for previsto na contratação da
manutenção do sistema, e não apenas nos primeiros
meses. No entanto, tanto a Secretaria da Fazenda
quanto a PGE, acompanhadas e assistidas pelas
equipes técnicas correspondentes da Prodesp, estão
adotando todas as cautelas para acompanhar a
transição. Se houver algum problema na transferência,
a transição será suspensa, até que os problemas
sejam corrigidos. Antes disso, todavia, serão
feitos inúmeros testes de desempenho, de intercâmbio
de informações e de transferência de informações
de arrecadação”.
Com relação à
segurança contra hackers e invasões ao
sistema, Arnaldo explica que existe garantia total
da Prodesp quanto à segurança do programa: “Foram
instalados em nossa rede e Unidades equipamentos
de segurança de rede (firewall e antivírus),
que bloqueiam a ação de intrusos e de softwares
nocivos. Com todas essas
providências, pode-se afirmar
que o sistema é tão seguro como outros
que utilizamos atualmente, como o GDOC, o
Posto Fiscal Eletrônico ou mesmo os emuladores de
terminal (quick e mocha), que acessam o DPH, DND
e outros sistemas da Fazenda”.
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