Um Augusto poeta em nossos Campos

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Associado ilustre da APESP, Augusto Luiz Browne de Campos recebeu a “Comenda Jubileu de Diamante” pelos 75 anos da Associação

Como é possível equilibrar um relevante trabalho em uma repartição pública e uma carreira artística premiadíssima e com reconhecimento internacional? Essa resposta é dada com uma clareza singular pelo poeta modernista, tradutor e ensaísta Augusto de Campos  – um dos mais ilustres associados da APESP.

“A minha participação como Procurador do Estado foi sempre em um momento muito feliz da minha vida e eu consegui articular isso com a do homem sem profissão, que é o poeta. Espero que essa convivência seja frutífera para vocês como foi para mim. Eu acho que a poesia, as artes visuais, as artes musicais só enriquecem e enobrecem o ser humano”, ressalta Augusto de Campos.  

“Ao mesmo tempo, o estudo do Direito significa para nós a defesa da liberdade e da democracia. É um ramo da humanidade que devemos cultivar com muito afeto e respeito por traduzir a luta pela dignidade do ser humano, hoje tão hostilizada por forças mais conservadoras”, complementa o poeta.

A mensagem foi transmitida por ocasião da visita que o Presidente da APESP, José Luiz Souza de Moraes, fez na tarde de segunda-feira (25) ao associado para lhe entregar “Comenda Jubileu de Diamante”, em comemoração aos 75 anos da Associação.

“Essa comenda simboliza um agradecimento da nossa Instituição para as pessoas que engrandeceram a nossa carreira, a Advocacia Pública e deram notoriedade à nossa Procuradoria. O senhor fez isso com muita galhardia e qualidade técnica. É uma homenagem também à sua vida de poeta que orgulha não só a Procuradoria como também o Brasil internacionalmente”, celebrou Moraes. A visita foi acompanhada pela associada Márcia Machado, que foi colega de Augusto na Assessoria Técnico-Legislativa.

Da esq. para a dir: Lygia Azeredo Campos, Augusto de Campos, Marcia Machado e José Luiz Souza de Moraes.

Trajetória na PGE-SP

Augusto de Campos ingressou na PGE-SP, por meio de concurso público, em 1962, e aposentou-se em 2001. Foram 40 anos atuando na Assessoria Técnico-Legislativa, redigindo e analisando vetos, projetos de lei e outras normativas enviadas à Assembleia Legislativa.

“Achei algo em comum entre o meu trabalho de poeta e o da redação jurídica, no sentido de buscar-se, num ou noutro caso, o que Flaubert chamava de mot juste. Na redação das leis, uma palavra ou uma vírgula a mais ou a menos podem gerar ambiguidade e perturbar o cumprimento da forma”, disse em depoimento ao livro “Advocacia Pública  – apontamentos sobre a história da PGE-SP”.

Oposição à Ditadura Militar

Dois anos após a sua nomeação como Procurador de Estado, o Brasil passou a viver, em 1964, sob a égide de uma Ditadura Militar, que Augusto de Campos tanto abominava.

Em dezembro daquele ano, estreou na Galeria Atrium, na Av. São Luiz (onde ficava a sede da ATL), a mostra “Popcretos”,  na qual o artista exibia poemas-colagens satíricos contra a ditadura.

Entre as obras, estava “Olho por olho” – atualmente uma peça que integra o acervo Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires –, que é uma pirâmide de olhos encimada pelos sinais de tráfego “perigo geral”, “esquerda proibida” e “direita livre” (assista ao vídeo abaixo).  

Foi nesse contexto que, em 1965, o  assessor-chefe da ATL, José Antônio da Fonseca, solicitou que Augusto redigisse a mensagem do Governador Adhemar de Barros, político alinhado com o regime militar, para a abertura do ano legislativo paulista.

“Recusei-me de pronto. Fonseca, que era um cumpridor severo dos deveres funcionais, fechou o semblante por um momento, mas logo abriu um sorriso e perguntou: ‘nem as vírgulas?’ Ele entregou a missão a outro”, lembra o poeta.

Declamação exclusiva

Em um momento de descontração, Augusto de Campos declamou para o Presidente José Luiz o poema “Cidade City Cité”, de 1962.

Principais prêmios recebidos por Augusto de Campos

 

  • 2015 – Prêmio Iberoamericano de Poesia Pablo Neruda.
  • 2015- Grã-Cruz da Ordem Cultural (outorga: Presidente da República do Brasil).
  • 2017- Grande Prêmio de Poesia Jannus Pannonius (Hungria).
  • 2022-Título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal Fluminense
  • 2023- Homenageado na Flip – Festa Literária Internacional de Parati