Como será a PGE do século XXI?
Há
possibilidade de finalmente contarmos
com a quantidade necessária de
procuradores do Estado. O desafio será racionalizar o
serviço para que
continue sendo prestado como merece a população do estado de
São Paulo
Por Marcos Nusdeo
A
PGE iniciou
este ano de 2005 com 930 procuradores do Estado ocupando
cargos efetivos, nas três áreas de atuação hoje existentes
em nossa instituição (Consultoria, Contencioso e
Assistência Judiciária). Até o presente momento, nove
desses colegas já deixaram a carreira: três por motivo de
aposentadoria, cinco por exoneração e uma por falecimento.
Assim, em pouquíssimo tempo, a PGE perdeu quase dez
procuradores. Penso não ser absurdo imaginar que podemos
perder outros colegas num prazo não muito longo: |
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há colegas
prestando outros concursos, há colegas pleiteando vagas em
tribunais e há vários colegas que já possuem tempo para se
aposentar, o que poderão fazer a qualquer momento. Não
podemos, ainda, deixar de considerar os colegas que estão
"pagando o pedágio" instituído pela Reforma da
Previdência e algum dia irão se aposentar.
É sabido que
a PGE mudará de cara, num curto espaço de tempo. Muito em
breve, acreditamos, surgirá uma Defensoria Pública forte em
nosso Estado que assumirá as atribuições hoje exercidas
pela Assistência Judiciária. Com essa nova instituição,
vários procuradores do Estado vocacionados para exercer esse
trabalho acabarão por optar pela Defensoria e, assim,
deixarão nossa carreira. De outro lado, a PGE, face à
aprovação de Emenda à Constituição Estadual que, no ano
passado, alterou a redação dos artigos 98 a 101 da
Constituição Estadual, passará a ficar responsável pelo
serviço jurídico das autarquias estaduais. Em
conseqüência, um novo, importante e difícil trabalho
passará a ser feito pelos procuradores do Estado. Há, ainda,
projetos importantes em andamento que demandarão muito
trabalho dos procuradores. Nesse sentido, podemos colocar
tanto a assunção da dívida ativa do Estado, como possíveis
alterações na lei das Execuções Fiscais, sem contar os
encargos cada vez maiores das Consultorias e das unidades da
PGE. Trabalho, seguramente, não nos faltará.
Essa
constatação torna-se muito importante, eis que, face a esse
quadro de transformações, há uma questão subjacente que
já foi trazida à Apesp por alguns colegas. Ela pode ser
colocada da seguinte forma: haverá trabalho para todos, se
muitos colegas hoje em exercício na área da Assistência
Judiciária optarem por permanecer na PGE?
Como
procurador do Estado relativamente antigo na carreira e que
já ocupou vários cargos na PGE, inclusive o de
corregedor-geral, posso afirmar, com toda a convicção, que
já há muito trabalho para ser realizado pela PGE e com as
modificações em curso haverá mais trabalho ainda. Assim,
todos os colegas que permanecerem na PGE seguramente terão
muito o que fazer. Dito isso de outra forma: haverá trabalho
para todos. Hoje, os quadros do Contencioso e da Consultoria
que estão preenchidos já se mostram visivelmente
insuficientes para a carga atual de trabalho. Esse cenário
certamente se agravará com a assunção dos serviços que
virão das autarquias. Hoje, o volume de trabalho é enorme e
muitos colegas estão visivelmente à beira da estafa. O
quadro de lotação das unidades da PGE foi estabelecido pelo
Decreto nº 36.775 de 1993, ou seja, há doze anos atrás
(referido decreto havia sido parcialmente alterado pelo
Decreto nº 46.911 de 2002 o qual, todavia, não alterou as
vagas nas respectivas áreas da PGE). Esse decreto foi
recentemente revogado pelo Decreto nº 49.839 de 2 de agosto
deste ano. O Decreto nº 36.775, de 1993 previa 172 vagas na
Consultoria, 600 vagas na Assistência Judiciária e 648 vagas
no Contencioso. Com algumas alterações, as vagas estão
mantidas no decreto que hoje está em vigor. Assim, por dados
de 12 anos atrás, cada área da PGE necessitava daquele
número de procuradores do Estado. De acordo com elementos que
nos foram fornecidos pelo gabinete do procurador-geral do
Estado, em junho deste ano, atualmente, ainda sem o serviço
que a PGE receberá das autarquias, há 127 colegas
classificados na Consultoria e 444 classificados em todas as
áreas do Contencioso, na capital e no interior. Em
conseqüência, há atualmente 45 vagas na Consultoria e 204
vagas no Contencioso. De se ressaltar que a quantidade de
procuradores prevista no decreto em vigor reflete a suposta
necessidade de trabalho nas diversas unidades em 1993.
Recordemo-nos, todavia, o quanto o trabalho aumentou nestes 12
anos. E o quanto ainda aumentará com os novos projetos da PGE
e com a vinda do trabalho das autarquias. Cabe ainda um
último comentário. O serviço não é permanentemente feito
por todos os procuradores classificados nas diversas unidades,
eis que, freqüentemente, os colegas devem substituir outros
em virtude do gozo de férias ou licenças, ou ainda os que se
encontram permanentemente afastados de suas funções para
exercê-las em outros órgãos, como o gabinete do
procurador-geral, a Corregedoria e ainda a ATL e AJG.
Há
muito trabalho para ser realizado pela PGE
e com as modificações em curso haverá mais trabalho ainda
Portanto, sem
contar os 600 cargos que hoje, nos termos do Decreto nº
49.839, de agosto deste ano, estão destinados à Assistência
Judiciária, já existem cerca de 250 vagas nas áreas do
Contencioso e da Consultoria. Com a criação da Defensoria
Pública serão extintos 400 desses 600 cargos hoje destinados
à Assistência Judiciária. Seguramente, os restantes 200
cargos deverão ser redistribuídos às demais áreas da
PGE para que ela possa bem receber os serviços que virão das
autarquias.
Assim, os
colegas que hoje exercem suas atribuições na Assistência
Judiciária e que optarem por continuar na PGE certamente são
extremamente bem-vindos, eis que ajudarão os procuradores que
hoje estão tanto na Consultoria como no Contencioso nos seus
atuais trabalhos e naqueles que ainda estão por vir. Com
esses colegas e com os que virão no próximo concurso de
ingresso, possivelmente acabará o pesadelo vivido há
décadas pela PGE, de total carência de procuradores do
Estado.
Em suma, a
PGE do século XXI contará, após décadas, com a quantidade
necessária de procuradores do Estado para bem cumprir todas
as suas atribuições. Nosso desafio será racionalizar o
serviço para que ele possa continuar sendo prestado da
maneira que merece a população de São Paulo. Quanto a isso,
a Apesp já está dando sua contribuição, comparecendo a
todas as unidades da PGE para colher dos colegas soluções
que em breve serão encaminhadas ao procurador-geral do
Estado.
Marcos Nusdeo é diretor financeiro da
Apesp
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