Escrevo em 13 de maio. Nossa
questão remuneratória pende de decisão na mesa do governador desde 25 de
abril. Não sei se já estará resolvida quando este editorial for lido.
Portanto, só me resta raciocinar mediante conjecturas – e elas são
três.
A primeira, novo
"reajuste" zero. Nem pensar, um insulto à nossa instituição. O
governador teria acendido o rastilho de pólvora com suas próprias mãos.
Explosão da carreira, ingovernabilidade da PGE. O procurador-geral,
dignamente, restituirá seu cargo ao governador, seus auxiliares diretos
deverão acompanhá-lo em ato de igual dignidade, e nós retomaremos a via
crucis. O impacto não nos dispersará – ao contrário, liberaremos
coletivamente do peito aquela imensurável, aquela terrível energia
combatente que a indignação em chamas suscita.
Segunda possibilidade:
"algum" reajuste, mantendo-nos, contudo, distantes da paridade
remuneratória com as demais carreiras jurídicas. Quebra de palavra,
rompimento de compromisso, a "sistemática" salarial combinada
teria ido às favas. As conseqüências talvez fossem semelhantes às da
primeira hipótese – talvez sem tantos atos de dignidade.
Terceira hipótese (praticamente
certa, afiança-nos o procurador-geral): reconquista da paridade para os
níveis I a IV, o nível V ficando 5% aquém da remuneração do seu nível
paradigma das demais carreiras jurídicas. A prevalecer este desenlace,
teremos, aritmeticamente falando, chegado mais perto da paridade do que
estávamos antes, na medida em que um segmento majoritário de nossa
carreira a terá recuperado e outro segmento terá dela se aproximado. Ainda
aritmeticamente falando, essa relativa descompressão salarial trará, para
muitos, certo alívio para o sufoco do congelamento anterior. Malgrado
tardio e incompleto, não será o caso de dizermos que esse reajuste "de
nada adiantou".
Mas o princípio da paridade
– estandarte de sucessivas assembléias da Apesp e promessa do governante
estadual – continuará desatendido enquanto um só procurador remanescer
remunerado aquém desse princípio. E essa paridade relativa, ou relativa
disparidade, poderá revelar-se fugaz: assim que o Congresso elevar o
teto do subsídio da Magistratura – está prestes a fazê-lo –
repor-se-á um degrau ponderável entre nós e as demais carreiras
jurídicas. Tropeçaríamos nesse "degrau" até, no mínimo, o
início de 2006: o procurador-geral externou nas últimas sessões do
Conselho da PGE que, obtido o reajuste proposto, "dá por encerrada"
nossa questão remuneratória em 2005 – nas palavras dele, "fecha
essa gaveta".
Em síntese: com a paridade para os
primeiros quatro níveis, teremos avançado, mas não o suficiente; teremos
avançado, mas não por muito tempo; teremos avançado – na exata medida
das forças que fomos capazes de arregimentar.
Para nossa carreira, em qualquer das
três hipóteses aventadas, a "gaveta continuará aberta".
José Damião de Lima Trindade
Presidente da Apesp