Remuneração
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Identidade reforçada
pela luta remuneratória
Mobilização contra o reajuste zero transforma carreira,
que ganha com a força e união conquistados
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Reunião
do Conselho foi transforma pelo "silêncio" |
Procuradores e
conselheiros participaram da Operação Silêncio no dia 5 de
agosto |
Desde setembro de 2000 foi
perdida a paridade remuneratória com as demais carreiras
jurídicas. Neste ano, a prometida sistemática de reajustes anuais
que a recomporia não foi cumprida. Já se fala em novo aumento para
as demais carreiras jurídicas. E o diálogo com o governo que mal
se iniciou, foi interrompido. Quem perde com isso é a Advocacia
Pública, o interesse público e, em última análise, o próprio
Estado de São Paulo.
Sabedores de que sem luta
nada se alcança, os procuradores do Estado têm dado mostras de sua
garra, talvez num dos momentos mais difíceis vividos na PGE. Foram
duas assembléias em que a participação expressiva e as
significativas votações – muitas delas unânimes – a favor de
atividades que pressionassem o governo a mudar de atitude,
demonstraram a disposição de luta dos procuradores.
Obedecendo à decisão
soberana da assembléia, o Conselho viveu um dia inédito em que as
palavras foram suprimidas. A Operação Silêncio transformou a 28º
Sessão Ordinária do Conselho no dia 5 de agosto. Tão logo abertos
os trabalhos, o presidente da Apesp, José Damião de Lima Trindade
avisou: "em cumprimento à deliberação da assembléia
soberana eu faço o discurso do silêncio em protesto contra o
reajuste salarial zero, pela dignidade da advocacia pública, contra
o diálogo até agora infrutífero. Silêncio em defesa da dignidade
remuneratória dos procuradores do Estado". Imediatamente,
dezenas de colegas que lotavam a sala, assim como quase todos os
conselheiros eleitos, ergueram seus cartazes de protesto,
reafirmando o "silêncio".
A decisão soberana da
assembléia foi quebrada por dois colegas que recorreram ao
microfone para dar informes no "Momento do Procurador". E
foram respeitados. Os conselheiros eleitos Márcia, Maurício, Ivan,
Cláudia, Shirley e Cristina permaneceram em silêncio. O
conselheiro Vitore Maximiano explicou os motivos do silêncio e
avisou aos demais conselheiros que os eleitos não utilizariam a
tribuna naquele dia (veja box à página 4). Elival da Silva
Ramos, procurador-geral do Estado, protestou. "Tenho jogado o
jogo democrático, não acho o protesto desrespeitoso, mas não
contribui para o debate." O silêncio não foi quebrado sequer
na discussão da proposta da nova lei orgânica da PGE: os
conselheiros eleitos fizeram proposta no sentido de adiar a
discussão. Como bem ressaltou Vitore, "hoje deve falar o
silêncio". Os demais conselheiros entenderam a situação e o
projeto foi retirado de pauta. "À medida que os conselheiros
decidam não debater o assunto, poderíamos votar com o polegar para
cima ou para baixo, ao estilo do império romano. Mas seria um
espetáculo lamentável. Posto, retiro da pauta", encerrou o
PGE.
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Os
aposentados, a exemplo de Gisela Zilsch, juntaram-se aos
colegas da ativa para exigir que o governo dê reajustes
satisfatórios e cumpra os acordos que faz |
Paralisação
– O Dia do Advogado foi escolhido pela carreira, em assembléia,
para um protesto contra o reajuste zero que alcançasse todo o
Estado. O principal ato de protesto foi realizado na manhã do dia
11 de agosto, em frente ao prédio da Procuradoria de Assistência
Judiciária Cível de São Paulo quando os procuradores paralisaram,
por um período, suas atividades. Logo nas primeiras horas do dia
11, vários procuradores esclareciam à população que naquele dia
não haveria atendimento ao público na PAJ do bairro da Liberdade.
Uma carta aberta entregue aos cidadãos informava que "a
remuneração dos procuradores, que era semelhante à recebida por
juízes e promotores, vem sofrendo uma defasagem que tem levado
dezenas a se transferirem para outras instituições". O
documento avisava, ainda, que várias unidades da Procuradoria de
Assistência Judiciária da PGE foram fechadas recentemente e seguia
questionando "A quem interessa que a população carente tenha
acesso a apenas uns poucos procuradores e que eles ganhem menos do
que promotores que realizam a acusação contra as pessoas
pobres?".
Em vários outros pontos da
cidade e em inúmeros municípios do interior, os procuradores
realizaram seus protestos contra o reajuste zero. À capital, vieram
colegas de todos os pontos da cidade e muitos de fora dela. Ativos e
inativos, unidos por um ideal – o da dignidade da Advocacia
Pública. Todos relataram a satisfação de participar do movimento.
Dentre os vários depoimentos, destacaram-se algumas frases.
"Uma atividade como essa reúne as pessoas em torno de um mesmo
objetivo. E a carreira só é forte quando seus membros se
valorizam", disse uma procuradora. Uma outra ressaltou que o
movimento era justo e pacífico. "Mas não estamos vendo
diálogo. E isso causa indignação com a desvalorização da
carreira. Essa atividade é um alerta. Estamos vivos!"
Um procurador demonstrava
sua insatisfação com o tratamento recebido neste ano.
"Estamos muito chateados com essa história do reajuste zero,
mas um movimento como esse melhora a auto-estima". Um outro
ressaltou que o trabalho hoje realizado é massacrante. "Mas
não é isso que assusta", afirmou. "O pior é não poder
prestar melhor serviço à população. Essa falta de apoio chateia,
desestimula. Estamos aqui porque sabemos que essa é a única
maneira, sem mobilização vamos ficar massacrados. Não gosto da
questão política, mas essa é a única saída, não há outra
maneira de sermos respeitados", completou.
Uma colega acha que quem tem
dignidade, está reagindo. "Não é só o reajuste zero, mas
uma coleção de desrespeitos que demonstra como esse governo não
considera seus advogados públicos." Uma outra, concorda.
"Nosso poder aquisitivo diminuiu bastante nos últimos anos.
Nessa defasagem com as demais carreiras você vê a falta de
reconhecimento."
Os aposentados também
marcaram importante presença e se somaram aos centenas de corajosos
colegas – saudados pelo presidente Damião – que se manifestavam
em frente ao prédio da PAJ Liberdade. Gisela Zilsch destacava o
flagrante descontentamento com o PGE. "A carreira está
mobilizada. O governo precisa levar em conta que o trabalho dos
procuradores traz enormes lucros ao nosso Estado." Para o
procurador aposentado Sebastião Borin, "a carreira sente-se
muito desprestigiada à medida que o governo há mais de três anos
não concede reajustes satisfatórios e nem cumpre os acordos que
faz".
Mas a carreira segue fazendo
seu trabalho, apesar das dificuldades e dentro do mais admirável
espírito público. A paridade remuneratória ainda não chegou, mas
a dignidade desses procuradores permanece forte e é garantia de que
a justiça será conquistada.
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Centenas de
procuradores da capital e de outras cidades do estado pararam
no dia 11 de agosto |
Conselho
em silêncio
Conheça trechos da
mensagem lida pelo conselheiro
Vitore Maximiniano (foto) durante a Operação Silêncio
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Pedimos licença especialmente aos colegas presentes para
utilizar uma exceção ao silêncio.
Este espaço, que tem sido democraticamente utilizado por
toda a carreira, agora é palco de mais uma legítima
manifestação de indignação e inconformismo com o
tratamento que o Governo de São Paulo dedica a seus
advogados públicos, quando rompe a regra de paridade que
nos guiava, deixando de restabelecê-la quando se sabe que
há meios para isso. Enorme insatisfação com a quebra da
sistemática adotada pelo próprio procurador-geral, que
exigia nova majoração da verba honorária neste ano de
2004.
Tantos
foram os discursos, os documentos, mas, nesta manhã,
falamos por meio de nosso eloqüente silêncio. O silêncio
que muitas vezes fala mais alto do que o grito mais alto. O
silêncio que faz lembrar nosso passado e refletir nosso
futuro. Hoje, o Governo Paulista e o comando da PGE têm
nosso respeitoso e alarmante silêncio, em prol da
instituição. Isto porque a luta pela paridade é a luta
pela dignidade da advocacia pública de São Paulo e do
Brasil. Mais do que discurso, queremos atitude que possa
propiciar a paridade para todos, não apenas para alguns.
Dando
fiel cumprimento ao que decidiu a assembléia de nossa
Associação, pedimos licença aos demais conselheiros e
fazemos registrar que os conselheiros Vitore, Cristina,
Shirley, Ivan, Claudia, Maurício e Márcia deixarão hoje
de usar esta tribuna. Por tal motivo, consideramos que a
discussão a respeito da Lei Orgânica, nesta oportunidade,
restará prejudicada. Hoje deve falar o silêncio.
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