Nusdeo
é 1º procurador geral oriundo
da liderança da
carreira
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Pela primeira
vez, um presidente da APESP é nomeado procurador geral do
Estado. Eleito em março de 2006 para presidir nossa entidade,
Marcos Fábio de Oliveira Nusdeo marcou o período em que a
conduziu pelo dinamismo e, agora, por esse fato inédito.
Graduado em direito e mestre em direito constitucional pela
USP, ele ingressou na PGE ainda em 1989, pela Procuradoria
Judicial, na área do Contencioso. No biênio 1997/1998, foi
conselheiro da PGE e, entre 1999 e 2001, corregedor geral. Na
APESP, ocupou ainda o cargo de diretor financeiro nos biênios
2002/2004 e 2004/2006. |
Enfrentará agora, no comando da
PGE, o
desafio de dar respostas a proposições e reivindicações
que ele próprio capitaneou, à frente da APESP. Algum
paradoxo nisso? Na entrevista a seguir, Nusdeo afirma que
não, e que sua gestão na PGE será marcada pela busca de “soluções
conjuntas” e pela “transparência”. A seguir, a primeira
entrevista de Nusdeo como procurador geral.
JP – A
nomeação do senhor traz como diferencial
o fato de ser o primeiro procurador geral do Estado
oriundo de uma entidade de classe. Como o senhor
entende que deve ser a postura dessas combativas entidades
durante o seu mandato?
Nusdeo – As
entidades de classe devem ter a mesma postura que sempre
mantiveram nos últimos anos, ou seja, devem atuar com
absoluta independência, em relação ao gabinete da PGE. De
minha parte, as divergências que surgirem serão
exaustivamente debatidas e discutidas, sob a perspectiva de
buscar uma solução conjunta, que sempre atenda ao interesse
público.
JP – A
paridade remuneratória não foi alcançada
em 2006. Como será a atuação do senhor para atingir
esse objetivo?
Nusdeo –
Há uma sistemática remuneratória, que vem sendo adotada nos
últimos anos, de revalorização anual das quotas da verba
honorária. Esse é o caminho que existe para alcançar essa
meta. A partir de fevereiro, iniciaremos os estudos
necessários que sempre precederam à discussão com os
órgãos técnicos do governo, relativos à avaliação do
impacto financeiro e ao ajustamento ao orçamento da PGE. Em
razão da alteração dos técnicos do governo que atuavam
nessa matéria, especialmente da Secretaria da Fazenda, serão
necessários mais esclarecimentos a respeito dessa
sistemática e da legislação aplicável. Atuaremos de forma
bastante transparente, deixando a carreira permanentemente
informada do andamento das tratativas.
JP – Como
será a postura do novo gabinete em relação
à ação coletiva que transfere o controle do Fundo da
Verba Honorária para o Conselho da PGE?
Nusdeo – A
postura será a que obrigatoriamente é imposta a qualquer
advogado na defesa de seu cliente; ou seja, os colegas que
são responsáveis pela defesa do Estado nessa ação terão
absoluta liberdade e autonomia para adotar as medidas
judiciais que entenderem corretas e adequadas para realizar a
melhor defesa do Estado.
JP – Com
relação à assunção do serviço jurídico
das autarquias, quando a PGE terá uma noção mais
definida sobre o volume de trabalho que isso representará?
Nusdeo –
Conheço todas as áreas de atuação da PGE, haja vista que
fui corregedor por dois anos. Sei que atualmente o volume de
trabalho do Contencioso e da Consultoria é excessivo.
Destaquei o procurador geral adjunto Marcelo de Aquino para
coordenar a assunção dos serviços jurídicos das
autarquias, recomendando-lhe que proceda inicialmente um amplo
levantamento dos dados numéricos, a fim de que, após ouvir
os procuradores do Estado e os procuradores autárquicos, seja
apresentado à Carreira um projeto de organização bem
planejado e exeqüível, capaz de atender ao interesse
público e à valorização da advocacia pública e de seus
profissionais.
JP – Para a
absorção dessas novas atribuições, a
contribuição dos colegas que ainda estão na Assistência
Judiciária será fundamental. Como o senhor pretende
conduzir o término da transição para a Defensoria
Pública?
Nusdeo – O
ideal seria que todos os procuradores da Assistência
Judiciária estivessem, em 9 de janeiro de 2007 (um ano depois
da promulgação da Lei Orgânica da Defensoria), atuando nas
áreas do Contencioso e da Consultoria da PGE. No entanto, um
serviço essencial, como é a prestação de assistência
jurídica à população carente, prestado por quase sessenta
anos pela PGE, não pode sofrer solução de continuidade.
Esse não é um assunto de uma ou outra instituição. É um
assunto que envolve o interesse do Estado. Acabou de ser
publicada a Resolução Conjunta PGE/DPG dispondo sobre a
transferência à Defensoria Pública dos serviços de
Assistência Judiciária, que são atualmente prestados pela
Procuradoria. Ocorrerá em duas etapas: 200 procuradores
passarão a atuar nas áreas do Contencioso e da Consultoria,
a partir de 1º de junho, e os remanescentes – cerca de 60
– virão em 1º de outubro.
JP – A
gestão do senhor na PGE se iniciará
em concomitância com uma nova composição do Conselho.
Como será a relação do Gabinete com este órgão
vital para a construção da democracia na
Carreira?
Nusdeo –
Fui conselheiro eleito da PGE e sei da importância desse
órgão superior da Instituição, que assim será tratado
durante a minha gestão. Todas as questões institucionais
serão discutidas e compartilhadas com os conselheiros, que
deverão assumir efetivamente a responsabilidade pela
formulação e discussão de projetos para a Instituição.
Não basta ao conselheiro apenas apontar os problemas e as
dificuldades existentes, pois eles são de conhecimento geral.
É necessário que os conselheiros avancem, debruçando-se em
estudar, debater e propor soluções consistentes e
factíveis. Um bom exemplo do passado é a gratificação paga
aos nossos funcionários (PIPQ). A proposta teve início no
Conselho e foi encampada pelo então procurador geral do
Estado Marcio Sotelo Felippe.
JP –
Pode-se dizer que a carreira vive um momento
ideal para a discussão do anteprojeto da nova Lei
Orgânica da PGE? Já existe um anteprojeto de nova LO,
inclusive já discutido no Conselho. A
idéia é retomar o tema no Conselho?
Nusdeo –
Parece-me que, no momento, o ideal é que o projeto de Lei
Orgânica da PGE retorne ao Conselho para reavaliação do seu
conteúdo, reabrindo a discussão com a Carreira sobre os
pontos essenciais. Em seguida, avaliaremos o melhor momento
político para ser deflagrado o processo legislativo.
JP – Os
procuradores criticam muito a resolução
que dispõe sobre a distribuição das quotas da verba honorária,
em relação à disparidade entre os valores fixados
para os níveis e para os cargos em comissão. Como
o senhor pretende resolver essa situação?
Nusdeo – De
fato, a carreira questiona bastante a diferença entre as
quotas atribuídas aos níveis e aos cargos em comissão. A
oportunidade para solucionar total ou parcialmente essa
situação será quando houver a revalorização da quota da
verba honorária. Pretendo debater com o Conselho a revisão
da resolução, estabelecendo novos patamares para os cargos
em comissão e os níveis da carreira, sem ferir o princípio
da irredutibilidade de vencimentos, que também se aplica à
verba honorária.
JP – A
APESP requereu que fosse suspensa a
dupla incidência do Ipesp sobre a verba honorária, mas
o então procurador geral não acolheu esse pedido da
entidade de classe. O senhor pretende rever administrativamente
essa decisão?
Nusdeo –
Por ter sido presidente da APESP, não me parece ético e
correto rever essa decisão do procurador geral que me
antecedeu. Delegarei à subprocuradora do Estado da Área da
Consultoria Maria Christina Tibiriçá Bahbouth, caso haja
provocação administrativa, a análise e a decisão dessa
questão.
JP – O
concurso de promoção dos procuradores
Nível I para o Nível
II será desvinculado?
Nusdeo –
Haverá só um cargo para o Nível V em disputa, no próximo
concurso, que será provido por merecimento. Portanto, o
concurso poderá ser realizado simultaneamente, sem nenhum
prejuízo aos procuradores do Nível I. Conclamarei os
conselheiros para aprovar as listas de classificação de
todos os níveis, na primeira sessão após o encerramento das
inscrições. Se surgir algum entrave que possa resultar em
atraso, aí sim estudaremos a possibilidade de encaminhar
separadamente as listagens.
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