Editorial
|
_______________________________________________________________________ |
Independência e luta:
ousar lutar, ousar vencer!
Esta
é a última edição de O Procurador produzida pela atual gestão da
Apesp. As eleições para renovar a direção da entidade ocorrem nos dias 9
(interior e Brasília) e 11 (Capital e Grande São Paulo) de março. Não
farei aqui balanço da gestão que se encerra – tarefa para edição
especial de nosso boletim Apesp em Movimento. Contudo, merecem
registro duas lições importantíssimas confirmadas em nossa caminhada nos
últimos dois anos.
A primeira delas: uma
entidade representativa deve preservar completa independência em relação
a governos, partidos políticos e transitórios dirigentes de nossa
instituição. E prestar fidelidade exclusivamente aos direitos e interesses
coletivos dos associados e às decisões das assembléias. Doa a quem doer,
irrite a quem irritar. Do contrário, a entidade cumpriria papel de pelego.
Pelego é o nome da manta
lanosa e macia que os cavaleiros do sul usavam no passado, no lugar da cela
de couro, para amenizar o impacto de seu peso sobre a montaria. O peleguismo
alastrou-se como erva daninha pelo movimento sindical e associativo
brasileiro. Em última análise, atende os poderosos do momento. Não se
reconhece o pelego pela fala, mas por sua prática, por sua vocação de
bajular o poder, e dele beneficiar-se secretamente. O peleguismo é a
antípoda da independência da entidade associativa.
Ser independente não
significa oposicionismo sistemático a governantes ou a dirigentes da nossa
instituição. Significa, sim, criticar quando preciso for, mobilizar o
conjunto dos associados para lutas coletivas, representá-los com firmeza e,
até mesmo, caminhar lado a lado de governantes ou dirigentes da
instituição se, em alguma conjuntura a ser cuidadosamente reconhecida,
agirem de modo a coincidir com os interesses dos associados.
Segunda lição de nossa
caminhada: lutar incansavelmente! Para bem defendermos o interesse e o
patrimônio da sociedade, os direitos dos cidadãos carentes e os
princípios da legalidade e da indisponibilidade do interesse público,
precisamos de dignidade remuneratória e laboral. Enfrentar inimigos,
barreiras e interesses opostos.
Lutar é preciso, mediante
todas as formas que vierem a se mostrar eficientes – desde a pressão
coletivamente exercida em momentos cruciais, passando por movimentos
ostensivos, via imprensa ou outros meios, até o exercício, pelos
dirigentes de nossa entidade, do assédio insistente a gabinetes atapetados
– buscando, sempre que necessário, aliados externos (políticos,
personalidades influentes) sem afetar nossa independência nem jamais
"confiar" que lutarão em nosso lugar se cruzarmos os braços.
Contemporização, omissão ou "tapinhas nas costas" não
funcionam. Supor que bajular poderosos de maneira omissa nos levasse a algum
porto seguro equivaleria a deixar-se iludir pela fata morgana.
Durante o fugaz verão dos
mares do Norte, em especial nas águas gélidas do Báltico, produzem-se,
por efeito de longínqua refração da luz, verdadeiras miragens oceânicas
semelhantes às do deserto, na forma de cidades luzentes, portos
movimentados, ilhas tomadas por casario e fervilhantes de vida. Os
marinheiros chamavam a esse fenômeno de fata morgana, e não foram poucos
os navios que por ele enveredaram e se perderam.
Hoje, mais experimentados,
capitães de barcos não se entregam à sua sedução. Nossa carreira,
experimentada no combate, também não se deixa mais iludir por fatas
morganas.
Numa frase: independência e
luta são os dois braços capazes de brandir armas na defesa de nossos
direitos e interesses coletivos. Os últimos dois anos da Apesp não
deixaram dúvidas a esse respeito!
José Damião de Lima Trindade
Presidente da Apesp
|