Boato falso, ameaça verdadeira
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Fim do 13º salário não passa
de boato falso
Mas existe uma ameaça real – e
muito mais séria – que, se for aprovada em 2006 pelo
Congresso Nacional, poderá, sim, colocar em risco muitos dos direitos
arduamente conquistados
pelos trabalhadores públicos e privados nos últimos cem anos
volta e meia circula
na internet uma "informação" que, além de desinformar,
leva dezenas de colegas a telefonarem ansiosos para a APESP.
Trata-se de mensagens eletrônicas afirmando que o Congresso Nacional
"acaba de aprovar", ou estaria prestes a aprovar, o fim do
13º salário ou de algum outro direito trabalhista. Essas
"notícias" são completamente falsas.
FHC tentou mesmo –
A proposição legislativa que mais se aproximava disso, o PL nº
5.483/01, enviado ao Congresso Nacional pelo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, tinha, de fato, a indecente finalidade de
"flexibilizar" a CLT, mediante modificação no seu artigo
618, para permitir a "prevalência do negociado sobre o
legislado".
Ou seja, aquele PL
autorizava mesmo a que a negociação coletiva pudesse reduzir ou
eliminar direitos trabalhistas. O projeto já havia sido aprovado na
Câmara e aguardava votação conclusiva no Senado (onde tramitava sob
o número de PLC 134 /01). Mas enfrentou acirrada resistência do movimento sindical
brasileiro, inclusive das entidades representativas do funcionalismo
público, a ponto de forçar o governo Lula a retirá-lo de
tramitação já no primeiro semestre de 2002.
Portanto, a
"notícia" de que o 13° salário já acabou, ou que estaria
para acabar, é falsa – ao menos, por enquanto .
Ameaça real –
O grande risco atualmente em curso no Congresso Nacional é a PEC nº
157/03, já aprovada em duas Comissões da Câmara dos Deputados. A
proposta visa a criar uma "Assembléia de Revisão
Constitucional", mediante a outorga de poderes constituintes aos
senadores e deputados federais a serem eleitos em 2006. Pelas normas
da atual Constituição Federal, uma emenda
constitucional, para ser aprovada, necessita de 3/5 dos votos dos
membros da Câmara dos Deputados, e mais 3/5 dos votos dos membros do
Senado, em dois turnos de votação em cada Casa. Pela proposta
aprovada na CCJ da Câmara, tudo seria "facilitado": na
"revisão" constituinte, bastaria a maioria absoluta (50% +
1) dos votos de cada uma daquelas Casas legislativas. Ou seja: o que
as forças socialmente regressivas não conseguiram mediante emendas
constitucionais (devido a seu quórum qualificado), poderão conseguir
por meio dessa "revisão" com quórum simplificado.
Aproveitando-se da
atual crise política, que vem abalando a idoneidade do Executivo, do
Legislativo e até do Judiciário, aquelas forças do atraso social
tentarão colocar em questão o que não está em questão, ou seja, a
Constituição Federal – para conseguirem o que vêm tentando há
décadas, ou seja: eliminar os resíduos de Estado de bem-estar social
e de soberania popular e nacional. Ou alguém supõe que uma revisão
constituinte, na atual conjuntura e na atual correlação de forças,
seria para ampliar direitos e garantias, para aumentar a soberania
popular ?
Tamanho do retrocesso
– Para se ter uma
idéia dos riscos que a aprovação dessa PEC nos traria, basta
recordar algumas das "reformas" que andam pelas cabeças do
governo federal e dos governadores, várias delas já tentadas e que
só não foram aprovadas devido ao atual quórum elevado para a
realização de alterações constitucionais:
• equiparação da
mulher ao homem no tempo de serviço e na idade para aposentadoria;
• aumento para 40
anos do tempo de contribuição previdenciária obrigatória para
ambos os sexos;
• elevação para
65 anos, para homens e mulheres, na idade mínima de aposentadoria;
• fim da paridade
de reajustes entre ativos e inativos;
• eliminação de
subtetos remuneratórios diferenciados;
• desvinculação
dos reajustes dos aposentados pelo regime geral da Previdência dos
reajustes do salário mínimo;
• redução dos
atuais benefícios sociais;
• prevalência do
"negociado" sobre o "legislado" nas relações de
trabalho;
• encolhimento do
princípio de que a saúde é "direito de todos e dever do
Estado";
•
"flexibilização" de direitos, em favor da
"livre" negociação
Em suma,
"recolhimento" do Estado aos papéis de legislar, policiar e
julgar, com mínimas exceções, tais como controle de epidemias,
escola primária para os pobres e ajuda emergencial em casos de
calamidade pública. Esse receituário neoliberal tem claro
propósito: aumentar a taxa de lucros empresariais e
"aliviar" o poder público de suas obrigações sociais, à
custa de cassar direitos dos trabalhadores públicos e privados.
Em vigília –
Essa PEC anti-social e anti-nacional poderá ir a voto no Congresso Nacional já neste
primeiro semestre de 2006. Se aprovada, seguramente será a maior
ameaça enfrentada em décadas pelos assalariados brasileiros, tanto
do setor público, como do privado. Mas a APESP, a ANAPE,
as demais associações estaduais de Procuradores e a grande maioria
dos sindicatos estão alertas e atuantes. Qualquer desdobramento no
assunto, a APESP informará imediatamente aos seus associados
– para organizarmos nossa mobilização coletiva, se necessário
for.
EXPEDIENTE
Informe da Associação
dos Procuradores do Estado de São Paulo - APESP.
Veja o Apesp em Movimento pela internet: www.apesp.org.br
- E-mail: apesp@apesp.org.br
Redação: R. Líbero Badaró, 377, 23° andar, cj. 2308 - CEP
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Tel: (11) 3293-0800 Fax: (11) 3293-0809 |
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