Assembléia
ignora governo e eleva Orçamento paulista
Inflada em
R$ 1,3 bi na visão do governo, previsão de receitas
cresce mais R$ 425 mi
CATIA
SEABRA
Apesar de
o governo já ter apontado um buraco de R$ 1,3 bilhão
na previsão de receitas, a comissão de Orçamento da
Assembléia Legislativa ampliou em R$ 425,4 milhões a
estimativa de arrecadação do Estado de São Paulo para
este ano, apresentando como principal fonte a venda de
bens: R$ 325 milhões. Graças à ginástica, R$ 186
milhões serão destinados ao atendimento de emendas de
parlamentares, sendo R$ 2 milhões para cada deputado,
à exceção do presidente da Casa.
Aprovado
ontem pela comissão, por 7 votos contra 2, o relatório
-que deverá ser submetido ao plenário na terça-feira-
também prevê R$ 42,217 milhões para a Alesp, dos
quais R$ 11 milhões para divulgação dos trabalhos
legislativos. O Tribunal de Justiça foi contemplado com
R$ 40 milhões e o Ministério Público, com R$ 28 milhões.
Só que,
segundo cálculos da equipe econômica, a previsão
estava inflada em R$ 1,3 bilhão já no projeto
originalmente enviado pelo governo à Assembléia.
Agora, engorda para R$ 1,7 bilhão o volume de receita
que poderá não se concretizar.
Hoje, a
proposta de Orçamento prevê R$ 1,1 bilhão de arrecadação
com a venda de ativos. Embora o texto não especifique
quais bens seriam vendidos, só existem, segundo os técnicos
do governo, duas opções: ações do banco Nossa Caixa
ou da Cesp (Companhia Energética de São Paulo). O
governador José Serra, no entanto, ainda não se
decidiu pela venda das ações.
Ainda
assim, é à "alienação de bens" que o
relator Edmir Chedid (PFL) recorreu para aumentar as
despesas do Estado. No relatório, Chedid diz que
apresentou a emenda "com intuito de aprimorar a
proposta e contando com uma ação mais eficaz do fisco
do estadual".
Apesar da
aposta, há expectativa de redução da arrecadação do
ICMS em R$ 200 milhões, já que a expectativa de
crescimento econômico foi revista.
Mas, mesmo
com esse cenário, Chedid deixou claro, até em discurso
à comissão, que conta com o aval de Serra. Pressionado
pelos petistas -segundo os quais a previsão de receita
de R$ 84,5 bilhões está subestimada- Chedid argumentou
que só fora possível ampliar em R$ 425 milhões e
reafirmou a promessa do governo de atender a
parlamentares do governo e da oposição. "Espero
que o governo Serra, com o compromisso assumido, pague
as emendas. Não é melhor um pássaro na mão do que
dois voando?"
Ele se
referia ao protesto dos petistas que apresentaram relatório
paralelo, propondo o atendimento de emendas regionais.
Chedid foi categórico ao lembrar que seu parecer era
produto de acordo no colégio de líderes. Disse que as
emendas poderiam ser acatadas se os deputados não
tivessem optado pelo TJ, pela Defensoria Pública ou
pelo MP. "Foi uma questão de opção. Traduzi o
desejo do colégio de líderes."
Segundo
deputados, o secretário do Planejamento, Francisco Luna,
chegou a participar de reuniões sobre o parecer.
Acompanhada
pelo assessor parlamentar da secretaria, a sessão teve
um contratempo: a ruidosa decisão de retirar o deputado
Romeu Tuma dos quadros da comissão.
Reclamando
do que chamou de rolo compressor do governo, o petista
Renato Simões -também contemplado com R$ 2 milhões em
emendas- ameaçou obstruir a votação. "Temos
[direito a] 18 horas de obstrução em plenário. A
gente troca tempo por conquistas no orçamento".
Ontem, o líder do PT, Enio Tatto, se reuniu com o
presidente da Alesp para discutir o ritmo da votação.
Fonte:
Folha de S. Paulo, de 23/02/2007
SP começa recadastramento
O
recadastramento dos 684.233 servidores estaduais começou
ontem em São Paulo. Empregados afastados e licenciados
também devem atualizar seus dados. O processo terá
duas etapas. Na primeira, até 1º de abril, o novo
cadastro poderá ser feito pela internet. Na segunda
fase, entre 2 de abril e 11 de maio, será a vez de os
funcionários temporários e eventuais da educação se
recadastrarem.
Fonte:
O Estado de S. Paulo, de 23/02/2007
Supermercado não pode compensar créditos de ICMS de
aquisição de bens
O
Carrefour Comércio e Indústria Ltda não tem direito
à compensação de créditos de ICMS provenientes das
aquisições de bens de uso e consumo, energia elétrica
e serviços de telecomunicações. A decisão é da
Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
que, ao prover recurso da Fazenda Pública do Distrito
Federal, anulou decisão proferida pelo Tribunal de
Justiça do Distrito Federal (TJDF).
Segundo o
processo, a empresa de alimento impetrou mandado de
segurança pedindo o reconhecimento do direito à
compensação de créditos de ICMS provenientes da
aquisição de bens de uso e consumo, energia elétrica
e serviços de telecomunicações, com correção monetária
e juros, bem como a determinação de abstenção, pela
Fazenda, de proceder ao estorno dos créditos extemporâneos
(fora do tempo próprio).
Em
primeira instância, a segurança foi parcialmente
concedida para assegurar o direito à compensação dos
créditos provenientes da aquisição de bens destinados
à composição do ativo fixo, no período de junho de
1996 a junho de 2001, com correção monetária pelo índice
nacional de preço ao consumidor (INPC).
Tanto o
Carrefour quanto o fisco apelaram. Em segunda instância,
o recurso da empresa foi negado. Já o recurso
interposto pela Fazenda foi parcialmente provido ao
entendimento de que, com a criação da “Lei
Kandir”, que teve vigência entre 1º/11/1996 a
31/12/2000, ampliou-se o rol dos créditos compensáveis,
permitindo em regra, ao contrário do convênio 66/88, a
compensação, sem qualquer restrição, dos créditos
relacionados aos serviços de energia, comunicação e
à aquisição dos bens de consumo interno. Para o TJDF,
nesse período, não há como se negar aos impetrantes o
direito à compensação dos créditos de ICMS pagos
pelos bens e serviços utilizados em seus
estabelecimentos comerciais.
Inconformada
com a decisão, a Fazenda recorreu ao STJ alegando que,
ao decidir pela possibilidade da compensação de créditos
ICMS provenientes da aquisição de serviços de
telecomunicação, bens de consumo e energia elétrica,
sem qualquer restrição, o acórdão recorrido
contrariou o artigo da Lei Complementar 87/96. De acordo
com a lei, “não dão direito a crédito as entradas
de mercadorias ou utilização de serviços resultantes
de operações ou prestações isentas ou não
tributadas, ou que se refiram a mercadorias ou serviços
alheios à atividade do estabelecimento”.
Por fim, a
Fazenda sustentou que a empresa não prestaria serviços
de comunicação e não produziria energia elétrica,
bem como não comprovou que os bens de uso e consumo
adquiridos foram utilizados no exercício de sua
atividade empresarial.
Em sua
decisão, o ministro Luiz Fux, relator do caso, destacou
que o STJ, apreciando questão semelhante, entendeu não
ser possível considerar a energia elétrica e os
insumos de telecomunicações como insumo para fins de
aproveitamento de crédito gerado pela sua aquisição.
“O parágrafo 1º do artigo 20 da Lei Complementar nº
87/96 restringiu expressamente as hipóteses de
creditamento do ICMS à entrada de mercadorias que façam
parte da atividade do estabelecimento. Dessas limitações
legais decorre, por imperativo lógico, que a utilização
de supostos créditos não é ilimitada, tampouco é do
exclusivo alvedrio do contribuinte”, explica. O
ministro destaca, ainda, que os bens de uso e consumo
interno que entraram no estabelecimento da empresa têm
natureza extremamente abrangente, não estando
diretamente vinculadas à sua atividade-fim, conforme
destacado no acórdão do TJ.
Fonte:
STJ, de 22/02/2007
Estados e municípios também podem intervir em caso de
interesse econômico
Pessoas
jurídicas de direito público estadual poderão
intervir nas causas em que figurarem como autoras ou rés
autarquias fundações públicas, sociedades de economia
mista e empresas públicas federais. Segundo a 1ª Turma
do STJ (Superior Tribunal de Justiça), as pessoas jurídicas
que representam, além da União, Estados e municípios,
podem adotar a medida judicial pertinente sempre que o
seu declarado interesse econômico se transformar em
interesse jurídico.
O
entendimento foi firmado em petição interposta pelo
Estado de Alagoas contra o INSS (Instituto Nacional de
Seguridade Social). O relator, ministro Luiz Fux,
estendeu a aplicação do artigo 5º da Lei nº 9.469/97
às pessoas jurídicas de direito público estadual.
Segundo o
STJ, as pessoas jurídicas de direito público estadual
poderão intervir nas causas cuja decisão possa ter
reflexos e que tenham natureza econômica, para
esclarecer questões de fato e de direito. Para isso,
poderão juntar documentos e memoriais úteis ao exame
da matéria e, se for o caso, recorrer.
Fonte:
Última Instância, de 22/02/2007
Para Hélio Bicudo, TSE tem responsabilidade na queda de
nível do Congresso
Roberto
Cosso e Camilo Toscano
A queda na
qualidade da representação parlamentar no Brasil tem
raízes na formação dos partidos políticos e na atuação
do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que deveria barrar
candidaturas de pessoas sem reputação ilibada. A
avaliação é do jurista Hélio Bicudo, que olha do
alto de sua experiência como advogado, político e
grande defensor dos direitos humanos no país.
“Por que
o TSE não faz isso [ver a vida pregressa das pessoas] e
deixa passar gente com folha corrida de 300 metros? Isso
fez com que caísse o nível do Parlamento e também dos
governos dos Estados. Senti esse declive em oito anos
que fiquei na Câmara. No primeiro mandato, a gente
ainda tinha com quem conversar; no segundo, já era mais
difícil”, afirmou Bicudo.
Atualmente
presidente da FidDH (Fundação Interamericana de Defesa
dos Direitos Humanos), Bicudo concedeu entrevista
exclusiva à reportagem de Última Instância, na qual
falou de seu livro “Minhas Memórias”, lançado em
2006. Ex-vice-prefeito de São Paulo de 2001 a 2004,
Bicudo contou histórias relatadas no livro, do período
anterior ao regime militar (1964-1984), de como o ITR
(Imposto Territorial Rural) foi abarcado pela União e
lembrou dos políticos da época. Na comparação com os
atuais políticos, o diagnóstico é desolador: “Hoje,
a gente vê um deserto”.
Bicudo
considera que o “deserto” é resultado “de um
defeito na formação dos partidos políticos, que começam
tentando organizar as bases, para depois crescer como
partido”. Ele cita o PT e o PMDB como exemplos desse
processo e diz não saber como os partidos poderiam se
organizar de forma diferente.
Leia a
entrevista:
Última
Instância – A coisa mais polêmica do seu novo livro
é a crítica que o sr. faz ao governo federal...
Bicudo –
Ao próprio Lula, né? O PT encanto, o PT desencanto...
Última
Instância – Para o leitor que ainda não leu o livro,
o que o sr. poderia adiantar a respeito do livro?
Bicudo –
Em primeiro lugar, por que escrevi esse livro? Vinha
falando com várias pessoas, amigos meus, que têm histórias
de vida para contar, perguntando: “Por que vocês não
contam?”. E um dos meus filhos me cobrou: “Se você
está cobrando dos outros, por que não escreve a
sua?” (risos). Isso já há uns quatro ou cinco anos,
e o livro ficou com 400 páginas. Depois, fomos
enxugando para tornar mais agradável o livro, também
porque tem coisas muito pessoais. Na última versão do
livro, contei com o auxílio de um jornalista, que me
ajudou a dar organicidade aos textos. Bom, acho que tem
muita coisa interessante no livro, muitas coisas que as
pessoas ignoram. Como elas passam em ambientes que não
tenham o testemunho de muitas pessoas, passam batido. O
episódio da renúncia do Jânio [Quadros, em 25 de
agosto de 1961], por exemplo, que se dizia que o [Carlos
Alberto Alves de] Carvalho Pinto [então governador de São
Paulo, que ficou no cargo de 1959 a 1963] tinha levado
um pontapé do Jânio, quando ele veio a São Paulo e se
instalou em Cumbica, na Base Aérea. Eu assisti à
entrevista dele com o Carvalho Pinto e não houve
absolutamente nada.
Última
Instância – O que mais?
Bicudo –
Conto também outras coisas em relação ao governo
Carvalho Pinto e a maneira como ele conduziu [o
governo], que, depois do governo de Jucelino Kubitschek,
foi o primeiro governo estadual planificado. E antes de
pegar o governo e começar a trabalhar, ele tratou de se
organizar, planejando a maneira pela qual ele iria
governar por quatro anos, tendo em vista realmente a
infra-estrutura do Estado, para o Estado fazer o
desenvolvimento que ele visualizava e que todos
visualizavam que São Paulo iria ter. A questão da
energia elétrica, a questão da Educação, da Saúde,
foi onde ele investiu maciçamente e produziu frutos.
Depois dele, o governador foi Adhemar de Barros, que
seguiu [a linha de Carvalho Pinto], inclusive porque
muitas dessas coisas estavam amarradas. Por exemplo,
Urubupungá, que naquele tempo era a maior usina elétrica
da América do Sul, estava inteiramente amarrada
contratualmente. A obra prosseguiu e foi inaugurada
quando o [Lucas Nogueira] Garcez era o presidente da
Cesp [Centrais Elétricas de São Paulo], já durante a
ditadura militar. Quer dizer, essas coisas todas muito
pouca gente sabe o que aconteceu, por exemplo, esse
governo Carvalho Pinto se perdeu no tempo. Quem foi
Carvalho Pinto? Ninguém sabe.
Última
Instância – Aquele que dá nome à estrada...
Bicudo –
(risos) Pois é...E ele era uma figura muito
interessante, acho que era um homem talhado para ser
presidente da República, mas naquele torvelinho político
de Jango [João Goulart, presidente deposto pelos
militares em 1964], de [Leonel] Brizola [que governou o
Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro], depois veio o
golpe...
Última
Instância – Carvalho Pinto sequer foi candidato...
Bicudo –
Foi candidato uma vez para o Senado e ganhou. Na segunda
vez, ele foi candidato, e eu aconselhei que não fosse.
Fui à casa dele para tentar convencê-lo a não ser
candidato, porque ele tinha se filiado à Arena contra a
vontade dos amigos mais políticos. A família achava
que deveria ser da Arena, mas os amigos achávamos que não.
Ele entrou e se elegeu bem, mas na segunda vez já havia
um movimento contra a ditadura militar, contra aqueles
que representavam o sistema, e a Arena naturalmente
representava o sistema. E o [Orestes] Quércia [que
disputou pelo MDB] deu uma lavada. Eu disse a ele que não
entrasse na disputa porque não iria ganhar. “Lá em
casa, quem vota no sr. somos eu e minha mulher. Os meus
filhos não votam”, eu disse. E ele quase desistiu,
mas, já no portão da casa dele, disse que não poderia
deixar de ser candidato porque havia dado sua palavra ao
[general Ernesto] Geisel [presidente militar entre 1974
e 1979].
Última
Instância – Essa parte que fala do Carvalho Pinto é
a que o sr. mais gosta do livro?
Bicudo –
É verdade (risos). Trabalhei com ele, fui para o Ministério
da Fazenda com ele, aquela loucura. Lembro uma vez que
estava no exercício do ministério, porque o Carvalho
Pinto estava nos EUA para tratar com o FMI. E havia uma
carga pesada em cima do governo através do [Carlos]
Lacerda, queriam acabar com o governo do Jânio, e a reação
era desproporcionada, porque o Jânio, aconselhado pelos
ministros, militares e civis, requereu o Estado de Sítio.
Numa primeira reunião, estava presente e disse que era
absolutamente contrário, porque a inflação já estava
alta e o Estado de Sítio poderia comprometer, não
sabia nem se o Ministério da Fazenda tinha dinheiro físico
para agüentar o baque. Fizeram uma segunda reunião e
decidiram convocar o Estado de Sítio. E foi um equívoco,
porque nem a esquerda queria. O PTB foi contra.
Telefonei para o Carvalho Pinto, que foi informado que
era coisa dos ministros militares. Procurados, os
militares disseram que não era bem assim. Quer dizer,
ninguém era responsável pelo Estado de Sítio.
Última
Instância – O PTB que naquela época era de
esquerda...
Bicudo –
Pois é. Até hoje não entendi bem porquê pediram o
Estado de Sítio, na situação política, que deviam
avaliar muito melhor que a gente, em que nós estávamos.
Depois, a saída do Carvalho Pinto, porque perceberam
que ele poderia ser uma pessoa que pudesse ser candidato
à Presidência da República com chances. Foi um bom
ministro da Fazenda, era conservador, mas tinha um viés
de esquerda. Em São Paulo, por exemplo, tentou realizar
uma reforma agrária, que chamou de revisão agrária.
Com o dinheiro do Imposto Territorial Rural. Quando o
Congresso percebeu que ele iria usar o dinheiro para
fazer essa reforma, o imposto, que era estadual, passou
a ser federal.
Última
Instância – E até hoje é federal.
Bicudo –
É, e ele não teve recursos para fazer a reforma, que
começou timidamente lá pelos lados de Rio Preto. Por
isso que digo que era conservador, mas com viés de
esquerda. Na Educação, ele investiu maciçamente em São
Paulo. Ainda hoje se encontra escolas feitas pelo
governo Carvalho Pinto.
Última
Instância – O sr. sente uma certa frustração hoje
em dia ao comparar os políticos daquele tempo com a
classe política atual? Falta uma figura desse nível?
Bicudo –
Falta. Havia gente de altíssimo nível, pessoas de
passado, que sabiam o que estavam fazendo. Hoje, a gente
vê um deserto. Acho que esse deserto na classe política
é decorrência de um defeito na formação dos partidos
políticos, que começam tentando organizar as bases,
para depois crescer como partido. Foi o caso do PT. Mas
geralmente um grupo consegue tomar conta do partido e só
cresce quem eles queiram que cresçam. Quem estiver
dentro da entourage, cresce; quem não estiver, pode
esquecer. Fui deputado duas vezes e nunca tive apoio do
PT. Foi um esforço próprio, pessoal, meu nome ligado
aos direitos humanos. Enquanto isso, os sindicalistas
com ajuda maciça. Há um defeito e não sei como se
pode evitar que grupos tomem conta dos partidos. Isso
aconteceu no PMDB também, não há renovação. Isso
diminui a vontade das pessoas que queiram participar da
vida parlamentar ou do Executivo. Há também a questão
das inelegibilidades, que já abordei na minha coluna de
Última Instância (leia o texto). Hoje, o Supremo
entende que só uma sentença transitada em julgada que
pode impedir o registro de uma candidatura. Na verdade,
não tem nada a ver uma coisa com outra. Essa questão
está dentro do artigo 5º da Constituição, que trata
dos direitos fundamentais, e esse artigo especificamente
cuida do direito à liberdade, ou seja, não pode ser
preso sem sentença transitada em julgado. Isso que o
artigo quer dizer, que não tem nada a ver com o artigo
14º, que fala das inelegibilidades e diz claramente que
se deve ver a vida pregressa das pessoas. Por que o TSE
não faz isso e deixa passar gente com folha corrida de
300 metros? Isso fez com que caísse o nível do
Parlamento e também dos governos dos Estados. Senti
esse declive em oito anos que fiquei na Câmara. No
primeiro mandato, a gente ainda tinha com quem
conversar; no segundo, já era mais difícil.
Última
Instância – O sr. acha que o TSE então é
fundamental para a composição do Parlamento?
Bicudo –
Acho.
Última
Instância – A Justiça Eleitoral como um todo?
Bicudo –
Sim. O Rio de Janeiro recusou, mas o TSE manteve essa
interpretação que é inteiramente equivocada. Uma
coisa é liberdade fundamental, que existe para evitar
prisões ilegais. Outra coisa é o que fala na
probidade, na ética. E deixam passar uma pessoa que já
está denunciada por crime contra o poder público.
Totalmente sem sentido.
Última
Instância – O sr. tocou em um ponto importante. Qual
seria o critério para barrar candidaturas?
Bicudo –
Vou dar um exemplo terrorista. Alguém mata uma pessoa,
abre-se o inquérito policial, o acusado é ouvido, a vítima
é ouvida, as provas todas se encaminham para mostrar
que o acusado é responsável. Se não há sentença
transitado em julgado, pode ser candidato. Acho que
precisa haver é um exame claro, com direito de defesa
do candidato: “Você tem uma folha corrida, como
explica isso, isso, isso?”. E temos que confiar no juízo
que o Judiciário faz de cada candidato. Geralmente não
faz errado, no Rio de Janeiro não fez errado, aqui em São
Paulo vimos quem passou...
Última
Instância – Sob esse ponto de vista, as candidaturas
de Paulo Maluf, Orestes Quércia, Antonio Palocci,
eventualmente até, do Lula estariam ameaçadas.
Bicudo –
Lógico. Quando se estabelece os Três Poderes harmônicos
e autônomos entre si...o Poder Judiciário. Só se
entra nele com moral ilibada, pelo menos formalmente,
mas se não tiver moral ilibada não passa. Para o
Executivo e Legislativo, passa qualquer um, não precisa
ter moral ilibada. Há um desequilíbrio na própria
organização dos Poderes, a partir desse exame de cada
pessoa. Um ministro do Supremo, por exemplo, passa por
uma sabatina no Senado, que deveria ser uma sabatina que
não é, porque o presidente alicia os senadores para
que o fato se dê e o ministro seja aprovado. A verdade
é que os próprios tribunais podem rejeitar um
candidato que não preencha os requisitos. O Supremo não
faz isso? Não faz. Se os Poderes puderem funcionar como
foi determinado, não de hoje, do tempo do Espírito das
Leis de Rousseau, teríamos um equilíbrio no exercício
do poder. Aí, não precisa cooptar deputado para fazer
maioria, ou fazer maioria no Supremo. As coisas correm
com mais fluidez em um sistema onde as pessoas sejam
realmente iguais.
Última
Instância – Agora, a parte do livro que teve mais
repercussão na imprensa foi a mais recente, com relação
ao Lula. Como o sr. vê essa repercussão específica?
Bicudo –
Como são fatos atuais, têm poder de atração maior.
Essa questão, por exemplo, do Lula. Entrei no PT logo
depois de sua fundação, estava trabalhando na fundação
de um partido socialista e não vingou, então, veio o
PT e foi a porta para muitas pessoas que trabalhavam na
formação de um partido socialista. É o caso do
[Francisco] Weffort, do Plínio [de Arruda Sampaio], o
meu caso, Francisco de Oliveira. No início, é uma
maravilha. Fui candidato a vice do Lula, quando ele se
candidatou a governador em 1982, para equilibrar a
chapa, porque o Lula seria muito radical, e eu não
seria radical (risos). Seria uma pessoa tirada da
burguesia. Fizemos uma campanha que foi, para mim, uma
lição de vida, porque andávamos de automóvel
emprestado, dormíamos muitas vezes embaixo de mesa de
bar, uma pobreza.
Última
Instância – Dormia embaixo de balcão de bar?
Bicudo –
Sim (risos). Sabe que quando o Lula foi eleito
presidente da República [em 2002], estava eu em casa, já
estava bastante distanciado dele, e estava vendo a festa
da vitória e minha mulher me perguntou: “Você não
vai lá?”. Acho que devo ir, respondi. E ela: “Acho
bom, você trabalhou tanto para isso”. (mais risos)
Fomos, eu e o Marcelo Nobre [advogado que depois foi
chefe de gabinete de Bicudo, na Prefeitura de São
Paulo], e estava o Lula, a Marisa, o José Alencar. E a
Marisa disse logo: “Você lembra quando vocês dormiam
em colchonete?”. Foi uma fase heróica do partido. O
Lula se saía muito bem, dizia o que as pessoas queriam
ouvir, então, cada comício era uma festa. O último
comício na Pça Charles Muller, naquele tempo, acho que
o Lula reuniu 100 mil pessoas, e o [André Franco]
Montoro, que venceu as eleições, não reuniu 20 mil. E
a regra é: comício não elege ninguém. O Lula ficou
aborrecido, porque estava confiante numa vitória.
Última
Instância – O sr. também estava?
Bicudo –
Não tanto (risos), porque ouvia coisas de outros lados
que o Lula não ouvia. Depois, fui para a direção
nacional do partido, tive a oportunidade de trabalhar
com o Weffort, com o [José] Dirceu, com o próprio
Lula. Cronologicamente, as coisas começaram na
prefeitura, quando fui secretário de Negócios Jurídicos
[na gestão Luiza Erundina, de 1989 a 1992]. Eu era também
o presidente do diretório municipal do PT, e o partido
estava fazendo uma guerra contra a Luiza Erundina. Não
sei porquê, mas estava fazendo. Provavelmente, nomeação
para cargos, pessoas, uma história que ela não queria
fazer e como realmente não fez na medida que o partido
queria. Eles acharam que eu no diretório municipal
estaria prejudicando a atuação do partido frente ao
governo Erundina. Como tinha um ano de mandato ainda,
resolveram fazer uma renovação geral nos diretórios
municipais. E o Zé Dirceu veio me consultar. Eu disse
que tudo bem, mas que iria concorrer. “O sr. vai
concorrer? Então, vou lutar contra sua candidatura”,
ele disse. respondi: “Fique à vontade”. Mas eles
tinham a máquina na mão. Dirceu, o Lula, porque isso não
se faz sem o acordo com o Lula. Dizer que o Lula não
sabe ou não viu não é verdade. Lula quer saber e sabe
de tudo o que ocorre dentro do partido, não é nenhum
inocente nessas coisas. Então, perdi o diretório
municipal, houve um golpe de regimento, que foi mudado
na hora.
Última
Instância – O sr. tinha o apoio da prefeita?
Bicudo –
Tinha.
Última
Instância – O sr. guarda alguma crítica à gestão
ou à pessoa da Luiza Erundina?
Bicudo –
Não, guardo uma impressão muito boa. Uma mulher séria,
pode ter cometido alguns erros, como a questão do
transporte coletivo, na questão do túnel sob o Rio
Pinheiros que estava quase pronto, e ela não quis
terminar, o contrato com a Shell no que diz respeito ao
autódromo de Interlagos. Acho que não foi feliz nessas
questões, mas de um modo geral ela tentou, e com a
guerra que o partido moveu a ela, guerra mesmo.
Confronto claro e absoluto, mas ela manteve uma linha ética,
que acho importante, durante todo o governo. Tive plena
liberdade para montar meu gabinete, porque o PT tem essa
história, dá o cargo para você, mas o chefe de
gabinete é nomeado por outro.
Última
Instância – O sr. acha que o partido repetiu esses
erros na gestão da Marta Suplicy? De que forma isso foi
mudado?
Bicudo –
Aí, o partido já ganhou uma expressão maior e o
governo municipal trabalhou em grande parte para o
partido. O que interessa ao partido, o governo faz, o
que não interessa, não faz. Então, ela [Marta] tinha
excelentes relações com o Lula e pode conduzir nessa
linha, favorável a esse movimento todo em torno do
Lula. Ela soube incorporar São Paulo a esse movimento.
Não acho mau o saldo do governo da Marta, em matéria
de educação, de atendimento à periferia, ela fez
coisas interessantes. Favela do gato, por exemplo. E
mesmo do ponto de vista da saúde, até cito o exemplo
do hospital do Tatuapé. Era um caos. Voltei lá no
final da gestão dela, era outra coisa. Funcionava
direitinho. Não me meti na administração, fiquei mais
na área de direitos humanos. Quando ela saía, era uma
substituição eventual, de três, quatro dias. No fim
do governo, de dez dias, quando ela foi para França,
contra o meu conselho. Eu achava que deveria entregar
para o governo do [José] Serra limpo, e não entregou.
Tentei mexer nesses 15 dias, mas o secretariado não deu
nenhuma resposta positiva.
Última
Instância – Foi gratificante?
Bicudo –
Foi gratificante por contribuir com a cidade em algum
sentido.
Fonte:
Última Instância, de 23/02/2007
Resolução da PGE de 22-2-2007
Designando
o Doutor José Roberto de Moraes, Procurador do Estado
na assessoria do GPGE, para representar o Estado de São
Paulo, nos termos do art. 1º. do Decreto n. 50.067, de
29 de setembro de 2005, sem prejuízo das atribuições
normais de seu cargo. (14)
Fonte:
D.O.E. Executivo I, de 23/02/2007, publicado em
Procuradoria Geral do Estado – Gabinete do
Procurador-Geral
Comunicado do Centro de Estudos
A
Procuradora do Estado Chefe do Centro de Estudos da
Procuradoria Geral do Estado comunica aos Procuradores
do Estado que se encontram abertas 10 (dez) vagas para o
Curso “Técnicas de Monografia Jurídica (Diretrizes
para apresentação
de
monografia de conclusão de curso, dissertação de
mestrado e de tese de doutorado), a realizar-se no dia
24 de março de 2007, das 7h45 às 12h30, na Av.
Vereador José Diniz, 2088 (estacionamento próprio),
entrada para automóveis pela Rua Prof. Henrique Neves
Lefrève, 58, São Paulo - SP.
Fonte:
D.O.E. Executivo I, de 23/02/2007, publicado em
Procuradoria Geral do Estado – Centro de Estudos.
Tribunal mantém direito a créditos
Zínia
Baeta
O Tribunal
de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) concedeu à
empresa Cobra Rolamentos e Autopeças uma liminar que a
autoriza a aproveitar créditos do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) de produtos adquiridos
do Distrito Federal. A restrição ao creditamento está
prevista na Instrução Normativa nº 48, de 2004, do
governo do Rio Grande do Sul. Na prática, a medida veda
o uso de créditos do ICMS gerados pela entrada, no
Estado, de mercadorias provenientes de outros Estados
que oferecem benefícios fiscais não autorizados pelo
Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).
O advogado
que representa a autopeças na ação, Leandro Martinho
Leite, do escritório Leite, Martinho Advogados, afirma
que a norma veda o aproveitamento total de créditos de
mercadorias vindas de Estados como Goiás e do Distrito
Federal, que oferecem desconto de ICMS. Segundo ele,
assim como no Rio Grande do Sul, há normas de outros
Estados no mesmo sentido. Ele cita o Comunicado CAT nº
36, de 2004, do Estado de São Paulo, a Resolução nº
3.166, de 2001, de Minas Gerais, e ainda o Decreto nº
989, de 2003, do Mato Grosso.
No caso do
Rio Grande do Sul, o advogado afirma que esta é uma das
primeiras decisões do tribunal em relação ao tema. O
relator do recurso, o desembargador Carlos Roberto
Lofego Caníba, considerou que o Estado não pode
restringir o alcance da sistemática constitucional da não-cumulatividade
do ICMS. O magistrado também entendeu que o Rio Grande
do Sul tem meios para questionar incentivos concedidos
pelos demais Estados por meio de uma ação direta de
inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal
(STF) - e não por meio da restrição de créditos.
No Estado
de São Paulo, no entanto, o Tribunal de Justiça (TJSP)
cassou no ano passado praticamente todas as liminares
que os contribuintes haviam obtido para aproveitar os créditos
vedados pelo comunicado CAT. Com isso, eles só poderão
aproveitar o crédito proporcional ao valor que foi
efetivamente recolhido no Estado de origem. Na norma
paulista são listados onze Estados e o Distrito
Federal, cujos créditos são restritos.
Em Minas
Gerais, conforme Martinho Leite, a questão está
dividida no TJMG. Já no TJMT há decisões favoráveis
ao contribuinte autorizando o aproveitamento integral do
ICMS em relação à alíquota interestadual de 12%.
Segundo o advogado, há uma decisão do Supremo que
considerou inconstitucional a restrição do Mato
Grosso.
Fonte:
Valor Econômico, de 23/02/2007
ANAPE atuará em face de decisão do MT de terceirização
da dívida ativa
Assunto:
[Diário de Cuiabá] Governo quer privatizar dívida
ativa
POLÍTICA
COBRANÇA
ÁGIL
Governo
quer privatizar dívida ativa
Projeto
semelhante implantado em outros estados apontou eficiência
de 90% na cobrança dos créditos públicos por uma
instituição financeira
MARCOS LEMOS
Da
Reportagem
O governo
de Mato Grosso vai privatizar os créditos inscritos ou
não na dívida pública. Uma instituição financeira
receberá a incumbência de efetuar a cobrança dos créditos
da dívida ativa. Uma minuta do projeto de lei, que será
encaminhado para a aprovação da Assembléia
Legislativa, aguarda apenas a assinatura do governador
Blairo Maggi.
A
mensagem, que promete ser uma das mais polêmicas deste
segundo mandato de Maggi, deve centralizar as atenções
do parlamentares e de setores específicos da sociedade
mato-grossense, até pelo montante dos créditos que estão
estimados em cerca de R$ 4 bilhões.
Estes
valores são relacionados às dívidas ativa e de
inadimplência gerada mensalmente pela falta de
pagamento dos impostos que não são honrados com a
Fazenda Pública.
A minuta
do projeto de lei foi elaborada pela Secretaria de
Fazenda do Estado e, segundo o secretário-adjunto de
gestão, Marcel de Cursi, a proposta já é
utilizada em cinco estados brasileiros. Conforme ele,
projeto semelhante praticado em outras unidades da
Federação, alcançou 90% de eficiência no recebimento
de créditos inscritos em dívida ativa ou não.
A instituição
bancária, responsável pela cobrança, ganha apenas por
documento chancelado, ou seja, cada vez que o
contribuinte pagar, um percentual mínimo do valor
recolhido passará a ser da instituição bancária.
“Será
uma concorrência pública aberta, onde contrataremos
uma instituição financeira para cobrar
administrativamente os créditos tributários não-inscritos
em dívida ativa e por um valor compensatório”, disse
Cursi, apontando que os valores por documento serão os
menores possíveis e mais rentáveis ao Poder Público.
A proposta
do governo do Estado é dividida em duas etapas. A
primeira: a cobrança administrativa que nada mais é do
que a aceleração no processo de recolhimento de
impostos que, se aprovado, será feito através de um
banco que pode fazer a execução extrajudicial dos
devedores, o que no caso do Poder Público é vedado
pela legislação.
A segunda
etapa é a privatização, venda ou cessão onerosa de
direitos creditórios decorrentes de acordo de
parcelamento de crédito tributário inscrito ou não em
dívida pública, ou seja, o Tesouro Estadual está
vendendo por um determinado valor créditos inscritos ou
não em dívida ativa, que somam hoje R$ 4 bilhões,
para uma instituição financeira que poderá
representar um aporte inicial de R$ 400 milhões aos
cofres públicos, ou seja, um sinal de 10% pela negociação
do valor global.
Se tiver
sucesso em seu intento, o governo do Estado vai se
utilizar da capacidade de cobrança e execução
extrajudicial de instituições financeiras privadas
para assegurar o recebimento de seus créditos, diante
da ineficiência do aparelho estatal em conseguir
receber créditos devidos por parte de empresas, indústrias
e comércios, além dos intermináveis e demorados
processos judiciais de execução fiscal de devedores
inscritos ou não em dívida ativa.
Fonte:
Anape, de 22/02/2007