Assembléia
paralisa votações para exigir verbas de Lembo
"Rebelião"
foi causada por anúncio de arrecadação acima das
previsões com anistia fiscal
Cada
parlamentar quer liberação de R$ 1 milhão para
atender a emendas; o próprio governador revelou existência
de receita extra
ROGÉRIO
PAGNAN
DA
REPORTAGEM LOCAL
Um grupo
de deputados da Assembléia Legislativa de São Paulo
anunciou ontem o trancamento, por tempo indeterminado,
da pauta de votação como forma de pressionar o
governador Cláudio Lembo (PFL) a liberar recursos para
as emendas pontuais.
Os
deputados querem a liberação de R$ 1 milhão por
parlamentar para atender às emendas apresentadas por
eles próprios ao Orçamento de 2006.
Essa reação
dos parlamentares foi provocada pelo próprio governador
Lembo ao anunciar, em entrevista à Folha, uma arrecadação
superior a R$ 1 bilhão com o programa de redução de
juros e multas do ICMS -cerca de R$ 500 milhões acima
da previsão.
A revolta
dos parlamentares ocorre porque até agora o governo não
liberou recursos para grande parte das emendas sob a
alegação de falta de verbas devido à frustração de
receitas do ICMS e à diminuição de repasses pelo
governo federal. Agora, com o anúncio feito por Lembo,
não há mais justificativas, dizem.
O aviso do
trancamento da pauta foi feito na tarde de ontem no colégio
de líderes da Assembléia, que se reuniu para discutir
a votação de projetos, entre eles a LDO (Lei de
Diretrizes Orçamentárias).
As votações
na Assembléia paulista só ocorrem após um consenso
entre os líderes dos partidos, já que a obstrução de
projetos pode ser feita por um único deputado.
Outro
projeto que aguarda votação, em regime de urgência,
é uma extensão do programa de anistia do ICMS de Lembo.
O benefício deve se estender para as multas feitas em
fiscalizações. Esse item fazia parte do primeiro
pacote de benesses, mas foi vetado porque o prazo dado
para a quitação dos débitos era muito curto.
O grupo
que pressiona o governador é encabeçado pelo líder do
PV, Ricardo Castilho, e tem o apoio da maioria dos 50
deputados não reeleitos. "Não vamos aprovar mais
nada enquanto não pagarem", afirmou.
Logo após
a reunião de ontem, o líder do governo, Edson
Aparecido (PSDB), ligou para o Palácio dos Bandeirantes
para comunicar a revolta dos parlamentares. Uma nova
reunião dos líderes deve ocorrer hoje.
"O
governo vai liberar. Vai ser um pouco menos, mas vai
pagar", afirmou o tucano.
Segundo
Castilho, os deputados estão cansados de promessas e só
vão liberar a pauta com medidas concretas. Ainda
segundo ele, até a votação do programa de redução
de multas e juros do ICMS, que arrecadou mais de R$ 1
bilhão, ocorreu após a promessa do governo de que
parte desse recursos seria utilizada para o pagamento
das emendas. "Não vamos passar por palhaços."
A apresentação de emendas pontuais, no valor total de
R$ 2 milhões, foi autorizada pelo ex-governador Geraldo
Alckmin (PSDB).
Fonte:
Folha de S. Paulo, de 08/11/2006
Lembo anuncia receita de R$ 1 bilhão e afasta risco de
déficit
Dinheiro
foi arrecadado com programa de redução de multas sobre
o pagamento de ICMS atrasado e superou estimativa
inicial de ganhos de R$ 500 mi
CATIA
SEABRA
DA
REPORTAGEM LOCAL
O governo
de São Paulo já arrecadou cerca de R$ 1 bilhão com o
programa de redução de multas sobre o pagamento de
ICMS atrasado. A receita é praticamente o dobro dos R$
500 milhões previstos com a medida, adotada para cobrir
um buraco nas contas do Estado.
Como, ao
longo de outubro, foi concedida anistia de 90% das
multas aplicáveis, o governo ainda não fechou
oficialmente os números do mês. Mas o governador Cláudio
Lembo (PFL) adiantou:
"Pelos
números preliminares, foi além da expectativa: cerca
de R$ 1 bilhão já", comemorou Lembo.
Segundo o
governador, graças a esse bom desempenho, fica
praticamente afastado o risco de déficit nas contas no
fim do ano. Ainda de acordo com integrantes da equipe de
transição, houve crescimento na arrecadação de
outubro.
"Estou
com uma voz tranqüila, não é? É um dinheirão. Vai
dar para o Serrinha fazer festinha no ano que vem",
disse Lembo em referência a seu sucessor, José Serra
(PSDB).
No dia 30,
Lembo assinou um despacho suspendendo novas contratações
na administração direta e autarquias, sob a
justificativa de que é um momento de transição.
"Nos escaninhos dos burocratas tinha contratação
para todo lado. Como faziam por conta própria, é
dificil saber o que iria acontecer, que impacto
teriam", disse.
Ao fazer
um balanço de sua atuação, lembrando que a legislação
proibia contratação em período eleitoral, Lembo
brincou: "Este governinho não fez nenhum
sacanagenzinha".
Crise
Confirmadas
as projeções de Lembo, é o fim de uma crise que
abalou a campanha de Geraldo Alckmin à Presidência.
Em março,
ainda no governo, Alckmin assinou um decreto para contenção
de gastos num total de R$ 1.458 bilhão. A medida teve
que ser adotada porque a arrecadação do Estado ficou
menor do que a projetada em setembro do ano passado.
O governo
do Estado atribui a frustração de receita
especialmente ao tímido crescimento econômico. Todas
as secretarias foram alvo de contingenciamento, à exceção
de Saúde, Educação, Segurança e Administração
Penitenciária.
Nesses
casos, o governo suspendeu o pagamento do que fosse
produto de emenda parlamentar, liberando os recursos
previstos na proposta original do orçamento.
Para
compensar essa perda de arrecadação, o governo
apostava na venda de ações da Nossa Caixa -mas a operação
foi suspensa a pedido de Serra- e em duas fontes
alternativas de receita: o programa de anistia de multas
do ICMS e uma blitz para a cobrança dos contribuintes
com IPVA em atraso. Os dois programas foram adotados.
Fonte:
Folha de S. Paulo, de 4/11/2006
Projeto das súmulas vinculantes será votado amanhã
O Projeto
de Lei 6636/06, que disciplina a edição, a revisão e
o cancelamento de súmulas vinculantes pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), deve ser aprovado amanhã,
conforme acordo entre os integrantes da Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania e o relator da
proposta, deputado Maurício Rands (PT-PE). Uma das
regras do PL é a exigência de que estejam presentes
pelo menos 8 dos 11 ministros do STF em sessões para
decidir sobre a aprovação ou rejeição de súmulas
vinculantes.
Fonte:
Câmara
União ajuíza ADI contra norma capixaba que reverteu
para o estado fundo de competência federal
A
Advocacia Geral da União (AGU) ajuizou a Ação Direta
de Inconstitucionalidade (ADI) 3818, com pedido de
liminar, para anular os efeitos de dispositivo de uma
lei capixaba que reverteu ao Tesouro daquele estado
recursos de um fundo de desenvolvimento de competência
federal. O ministro Carlos Ayres Britto é o relator da
ADI.
A União
questiona a eficácia do artigo 1º, da Lei Estadual
7.667/03, que repassou ao caixa do Espírito Santo
valores de dedução de Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) previstos para
investimento no Fundo de Recuperação Econômica do
Estado do Espírito Santo (Funres).
Gerido por
um órgão colegiado vinculado ao Ministério da Integração
Nacional, o Funres tem como objetivo incentivar
empreendimentos econômicos com capacidade de promover o
desenvolvimento regional. Ele atua da seguinte forma: as
empresas deduzem parte do ICMS – e também do imposto
de renda – em favor do fundo, o qual, em
contrapartida, lhes garante o recebimento do certificado
de participação ou investimento para serem trocados
por ações de empresas financiadas pelo próprio Funres.
Entretanto,
de acordo com a União, o Espírito Santo ficou com os
valores das deduções de ICMS cujos certificados de
participação ou investimento não foram emitidos até
o dia 18 de dezembro de 2003, dia da publicação da
lei.
“Em
suma: ao contrário do que fez a legislação federal,
no que tange à sistemática aplicada ao imposto de
renda, a legislação estadual não assegurou aos
empreendedores que, até a data de sua entrada em vigor,
contribuíram com o Funres, destinando parcela do ICMS
ao mesmo, o respeito ao seu direito adquirido de receber
o certificado de investimento do fundo e de realizar
operações de seu interesse”, afirma. “E mais:
desviou os recursos que durante anos foram recolhidos
para o Funres, destinando-os de forma totalmente ilegal,
à conta do Tesouro Estadual, desconsiderando,
completamente, as normas relativas à competência para
gerência do fundo”, completa a União.
Segundo a
AGU, o Espírito Santo não repassou ao fundo, entre os
anos de 1994 e 2003, os valores das deduções de ICMS
realizadas em seu favor. A União calcula que o
“enorme prejuízo financeiro” que aquele estado tem
causado ao Funres totalizava, conforme dados do próprio
órgão de arrecadação do governo, R$ 275.667.350,26
até o final de 2003.
Dessa
forma, a representante legal da União requer a concessão
de liminar para suspender a eficácia do artigo 1º, da
Lei estadual 7.667/03 até o final julgamento do
processo. No mérito da ADI, a União pede que seja
julgado procedente o pedido para declarar a
inconstitucionalidade do dispositivo da lei do Espírito
Santo.
Fonte:
STF
Para Rui Fragoso, advocacia foi esquecida pela atual
gestão da OAB-SP
João
Novaes
O advogado
Rui Celso Reali Fragoso, que concorre à presidência da
seccional paulista da OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) pela chapa “Em defesa da Advocacia”, é o
primeiro dos quatro candidatos a ser entrevistado por Última
Instância. Leia mais aqui sobre a série de
entrevistas.
Com fortes
críticas à atual administração, ele conta com o
apoio de ex-presidentes da entidade como Antônio Cláudio
Mariz (coordenador de sua campanha) e Carlos Miguel
Aidar. Para Rui Fragoso, o presidente licenciado e
candidato à reeleição, Luiz Flávio Borges D’Urso,
aparece demais na mídia, promove culto à sua
personalidade, além de estar ligado a grupos políticos
fora da esfera classista, esquecendo-se da advocacia.
Rui
Fragoso diz que entre suas principais propostas está o
combate à proliferação dos cursos de direito, por
meio de mudanças na legislação federal, para aumentar
a força dos pareceres da OAB em relação ao tema.
Apesar de
ser apontado como um representante da elite dos
advogados, reputação que lhe foi atribuída por
presidir o Iasp (Instituto dos Advogados de São Paulo),
Rui Fragoso conta também com o apoio de líderes do
setor sindical, como Valter Uzzo, ex-presidente do
Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo.
Trajetória
Especialista
em direito constitucional e comercial, Rui Fragoso
nasceu em Mogi das Cruzes, em 1955. Aos sete anos,
mudou-se para São Paulo, tendo estudado no externato
Assis Pacheco e no Colégio Rio Branco, mantido pelos
rotarianos, no bairro de Higienópolis. Formou-se em
direito pela PUC, em 1980, e lá permaneceu como
professor até 1990. Também passou a lecionar direito
comercial nas FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), de
1985 até 1990, quando tornou-se diretor do curso de
direito da instituição, cargo que ocupou até 1993.
Foi diretor da Escola Paulista de Advocacia e
vice-presidente do Iasp, chegando à presidência do
instituto no período de 1998 a 2000. De 2001 a 2003 foi
conselheiro da OAB, presidindo a Comissão de Ensinos
Jurídicos.
Leia a
seguir os principais trechos da entrevista com Rui
Fragoso:
Última
Instância — Por que o sr. decidiu candidatar-se à
presidência da seccional paulista da OAB?
Rui Celso
Reali Fragoso — Por duas razões: a primeira, de
natureza subjetiva, porque acredito que o advogado ainda
é um instrumento do qual a sociedade depende, apto a
diminuir as diferenças sociais e de se tornar um
instrumento em prol de uma sociedade mais justa e
fraterna. Acho que o advogado ultrapassa as relações
de tribunal, de consulta, para ser o grande instrumento
de cidadania da sociedade. Sobre um aspecto objetivo,
por constatar que nossa profissão vem sendo muito
desprestigiada. O advogado está muito desacreditado
perante a sociedade. Nunca, em épocas passadas ou
recentes, se viu a figura do advogado tão
desprestigiada na sociedade como atualmente. Acho que a
seccional de São Paulo, nos últimos dois anos e meio,
vem se preocupando muito com o culto à personalidade de
seu principal dirigente, com o excesso de aparição na
mídia. E, na verdade, as grandes questões da
advocacia, as que o advogado enfrenta no dia-a-dia, a
valorização profissional, as prerrogativas, a assistência
judiciária, não foram cuidadas da forma como deveriam.
Última
Instância — Qual a razão do slogan “Em defesa da
advocacia”?
Rui
Fragoso — Acho que a advocacia precisa de defesa
urgentemente. Estamos tão diminuídos e menosprezados
perante toda a sociedade brasileira e paulista, tão sem
orgulho, com nossa auto-estima tão baixa, que é
preciso que saia um grupo de advogados em defesa da
advocacia para recuperar o orgulho de ser advogado.
Última
Instância — Quais suas principais críticas em relação
à atual administração, além dessas citadas?
Rui
Fragoso — As críticas que eu faço nunca são
pessoais, até porque muitos dirigentes atuais da Ordem
são meus amigos. Inclusive, o presidente é meu amigo.
Mas são críticas sérias em relação à política que
a Ordem vem impondo nesses últimos dois anos e meio.
Acho que a Ordem aproximou-se demais de partidos e
interesses políticos. Nós vemos o presidente da Ordem
ao lado de determinados candidatos, andando para cima e
para baixo. Não acho isso adequado, acho que o
presidente da Ordem tem que ser uma pessoa que, embora
tenha convicções políticas, não pode estar atrelado
a interesses político-partidários. A seccional
paulista da OAB não pode ser um biombo político nem
estar ao lado deste ou daquele partido. Tem que estar ao
lado do cidadão e dos advogados. Mas o que se viu aqui
em São Paulo foi um atrelamento profundo do presidente
a determinado partido político e isso nos preocupa
muito. Além desse aspecto, achamos que houve uma falta
de ações políticas para as questões do dia-a-dia do
advogado. Questões como a assistência judiciária foi
relegada a um segundo plano. A Caasp [Caixa de Assistência
dos Advogados de São Paulo] perdeu a sua principal função.
Verificamos também uma política contemplativa na violação
das prerrogativas dos advogados. Os escritórios foram
invadidos, advogados foram presos, acusados, e nós não
encontramos uma resposta eficaz da instituição em nome
dos advogados e da advocacia.
Última
Instância — Em contraposição às críticas, quais são
suas principais propostas para um eventual mandato?
Rui
Fragoso — Além do aspecto das prerrogativas, as
propostas passam por vários campos. Primeiro,
combatermos a proliferação dos cursos de direito através
de uma iniciativa de mudança da legislação federal
efetiva, para que o parecer da Ordem tenha uma força
maior do que a atual, que é nenhuma. Na questão da
gama de serviços que a Caasp vem prestando, precisamos
reequilibrar a perda de orçamento que a Caixa teve com
uma criatividade maior para desempenhar um papel
fundamental na vida do advogado, no aspecto de assistência
ao advogado, quer com exames, quer com o oferecimento de
preços mais acessíveis para remédios e livros. Enfim,
a Caixa precisa voltar a ter a importância que teve no
passado. Também me preocupo muito com o jovem advogado.
É preciso criar mecanismos para que ele possa se situar
na profissão. Hoje, é dificílimo alguém se formar e
iniciar-se como um profissional liberal, em razão do
preço altíssimo dos materiais para o início de uma
atividade. Então, é importante que a Ordem estimule o
novo advogado. Talvez através da criação de uma
cooperativa na qual ele posa ter acesso a equipamentos
por um preço por aquele ofertado pelo mercado. Há também
a necessidade de revermos o aperfeiçoamento do
advogado, principalmente no que diz respeito aos cursos
que a Ordem deve oferecer. Ao lado da ESA (Escola
Superior de Advocacia), para onde pretendemos trazer a
professora Ada Pellegrini Grinover —que se desligou da
atual gestão para se ligar à nossa candidatura.
Pretendemos que a escola superior volte a ter o destaque
do passado. Ao mesmo tempo, que a diretoria cultural se
preocupe em levar para o interior os cursos que os
advogados do interior reclamam, e não aquilo que a
seccional impõe. Um dos pontos fundamentais de nosso
plano de governo é a renovação da verba da assistência
judiciária. Hoje, o advogado que atua na assistência
judiciária tem uma remuneração muito baixa. É necessário
que ela seja revista.
Última
Instância — Quais são os principais nomes de apoio
de sua candidatura?
Rui
Fragoso — Acredito que, quanto ao apoio, nenhuma outra
candidatura, respeitando os ilustres apoiadores das
candidaturas adversários, reúna nomes tão expressivos
quanto a nossa. Basta dizer que praticamente todos os
ex-presidentes da OAB me apóiam, com exceção de um
[Rubens Approbato Machado]. Posso dizer que o doutor
Antonio Cláudio Mariz de Oliveira é o
coordenador-geral de nossa campanha. Doutor Carlos
Miguel Aidar e o doutor Mário Sérgio Duarte Garcia,
outros ex-presidentes que me apóiam. Doutor José de
Castro Bigi, doutor José Eduardo Loureiro. Dos
ex-presidentes do Iasp (Instituto dos Advogados de São
Paulo), Cláudio Antônio Mesquita, Nelson Kojranski. Da
associação, temos Mário de Barros Duarte Garcia,
professor Celso Bandeira de Mello, Válter Uzzo, Rosana
Chiavassa, João José Sady, Vitorino Antunes Neto. Líderes
do interior, como Benedito Dias Neto, Zelmo Dennari,
Laerte Biasotti. Tantos e tantos nomes expressivos da
advocacia paulista. Nomes conhecidíssimos, como Ada
Pellegrini Grinover, Edgar Silveira Bueno, Antonio
Carlos Mendes, Américo Lacombe, o ex-ministro da Justiça
José Carlos Dias, o advogado José Luiz de Oliveira
Lima. Fico com receio de anunciar nomes, pois decerto
esquecerei alguns e depois vou receber inúmeras ligações
dizendo que não citei o nome. Ficam aqui apenas alguns
dos nomes que me telefonaram hoje.
Última
Instância — O sr. acredita que tem chances de chegar
à vitória?
Rui
Fragoso — Tenho certeza absoluta que nós temos grande
chance de vitória. Não gosto de me auto-proclamar um
vencedor, porque eleição se ganha no dia, abrindo os
votos. E eleição se perde de duas formas: quando você
acha que já ganhou ou quando acha que já perdeu. Não
quero ter a pretensão de achar que vou ganhar, mas
acredito totalmente nas minhas possibilidades, tendo em
vista os apoios que tenho recebido ultimamente,
principalmente nos últimos 40 ou 50 dias. Apoios
expressivos, principalmente no interior do Estado. Na
capital, já detinha uma certa vantagem. Mas, no
interior, sou seguido de um apoio que me deixa em uma
posição muito confiante para o próximo pleito. Claro,
respeitando sempre os meus adversários.
Última
Instância — Como o sr. se define politicamente?
Fragoso
— Sou de centro-esquerda. Aliás, meus colegas de
faculdade me definiam dessa forma desde meus tempos de
bancos acadêmicos.
Última
Instância — Em quem o sr. votou para presidente e
governador, no primeiro e no segundo turno?
Fragoso
— No primeiro turno, para governador, votei em José
Serra. Para presidente, em Geraldo Alckmin. E respondo a
essa pergunta mesmo sabendo que um de meus adversários
não irá responder essa questão.
Última
Instância — Qual a sua posição a respeito do
aborto?
Rui
Fragoso — Essa é uma questão extremamente delicada.
Acho que, pessoalmente, não podemos ficar contrários
ao aborto. É um tema que, eu sei, suscita muitas
controvérsias, fere demasiadamente àqueles que têm
convicções de natureza diversa, e eu respeito.
Particularmente, o ideal nessa questão é,
efetivamente, você prevenir. Essa seria a grande
alternativa. Mas não vejo como hoje fugirmos da
legalização, por várias razões. Uma delas é a
proliferação desses abortos feitos de forma
indecorosa, para fugir da ilegalidade, que acaba muitas
vezes também, além do feto, matando a própria mãe.
Última
Instância — Qual sua posição a respeito das drogas?
Rui
Fragoso — Não sou a favor de uma liberação total.
Acho que essa mudança na lei vai permitir uma melhor
interpretação por parte dos magistrados. Achava
inadmissível que aqueles que eram apanhados com uma
pequena quantidade da substância viessem a ser
considerados traficantes. A legislação agora acompanha
uma tendência. Mas não sou a favor da legalização
plena das drogas nem sou a favor da criminalização do
viciado. Acho que este merece tratamento, e o traficante
deve ir para a prisão.
Última
Instância — Qual sua posição a respeito da eutanásia?
Rui
Fragoso — Uma questão delicada....[pensa um pouco].
Sou a favor da eutanásia nos casos em que
cientificamente ficar comprovado de que não há
possibilidade de recuperação da vida.
Última
Instância — Como se define religiosamente?
Rui
Fragoso — Sou católico praticante com uma dose de
espiritualidade muito forte.
Última
Instância — Qual sua posição em relação à união
civil entre pessoas do mesmo sexo?
Rui
Fragoso — Acho que é uma tendência natural que a
sociedade vai ter que admitir. Acredito que o casamento
na forma tradicional é óbvio que é destinado a
pessoas de sexos diferentes. Mas a união de pessoas do
mesmo sexo, quer para gerar direitos patrimoniais ou de
outra natureza, ainda que não sob uma forma idêntica
ao do casamento, mas muito próxima, que permita que as
opções sexuais sejam respeitadas, sou plenamente a
favor.
Última
Instância — O sr. foi presidente do Iasp, que não
deixa de ser um representante da elite da classe. Por
outro lado, também tem apoio de Válter Uzzo, que já
foi presidente do sindicato. Ou seja, sua candidatura
conta tanto com o apoio da elite quanto da advocacia
chamada “popular”. O senhor se considera um
representante de qual setor? Da elite ou dos
“populares”?
Rui
Fragoso — De ambos. Pelo seguinte: quando eu era
presidente do instituto [Iasp], tinha uma visão muito
mais acadêmica e teórica do que era a advocacia. Após
esses nove meses de campanha, tenho uma adesão mais
ampla, que me aproxima muito mais das necessidades que o
advogado enfrenta. Dentre esses, 48 mil advogados são
dependentes da assistência judiciária. Acho que eu me
postulo ser presidente de todos os advogados do meu
Estado, não fazendo distinção se ele é da elite, da
esquerda, das classes mais progressistas ou não. Ali, não
posso apenas ser um presidente deste ou daquele
segmento.
Última
Instância — Em alguns casos, às vezes, essas posições,
da elite e da advocacia popular, entram em conflito. Por
exemplo, na questão de uma proposta de estabelecimento
de um teto ou de um piso salarial. Nesses casos, o sr.
se posicionaria para um dos lados?
Rui
Fragoso — Tranqüilamente. Acho que as questões,
quando elas tendem, devem ser vistas pelo lado social,
que mais atingem a advocacia. Por exemplo, na questão
do piso ou do teto, não teria nenhum tipo de
constrangimento de estar ao lado dos advogados que
pleiteiam o estabelecimento do piso. Até porque, mesmo
os advogados que integram o Iasp estão atentos a esse
tipo de reivindicação social dos advogados.
Última
Instância — O sr. considera que o preço da anuidade
é muito alto? Pensa em diminuí-lo?
Rui
Fragoso — O alto preço da anuidade está muito
condicionado à baixa retribuição que a entidade dá
aos seus advogados. Se a Ordem retribuísse melhor, ora
como prestadora de serviços, ora com uma caixa de
assistência atuante, a remuneração seria paga de bom
grado pelos advogados. Acho inadmissível a atual gestão
ter promovido processos disciplinares contra advogados
inadimplentes. Na hora em que o advogado mais precisa da
instituição, esta fecha-lhe as portas. Ele não tem
direito sequer aos auxílios oferecidos pela Caasp. A
alta remuneração é muito mais danosa em razão da
baixa contraprestação que a Ordem oferece. Quisera eu
ter conhecimento pleno das finanças da Ordem para poder
assegurar. O que não posso fazer nesse momento é uma
flexibilização na anuidade. Seria, no mínimo, leviano
que eu, hoje, ao contrário do que outros fizeram nos
passado, assegurasse uma diminuição na anuidade. O que
prometo é, se mantida a situação econômica, que o
valor não vai subir. E, se possível, irá até
diminuir, ao mesmo tempo em que a contraprestação irá
aumentar, e muito.
Última
Instância — Em relação aos inadimplentes, o sr.
acredita que eles têm direito a voto e a outros
direitos, tanto quanto outro qualquer adimplente?
Rui
Fragoso — Acho que haveria maneiras de o inadimplente
se ressarcir perante a instituição prestando serviços,
por exemplo, na assistência judiciária, e transferindo
seus créditos para a Ordem, que abateria de sua dívida.
Esse é um dos estudos que eu pretendo fazer para
viabilizar e diminuir a inadimplência. Uma coisa é
certa: não irei punir o inadimplente com processo
disciplinar. É óbvio que também não estou
incentivando a uma falta de pagamento. Acho que a
conscientização do advogado é natural, ele só deixa
de pagar a anuidade quando realmente não tem condições,
não o faz por capricho. Quanto ao direito ao voto, é
algo que deveríamos mudar. No futuro, isso deveria ser
revisto, para que ele [o inadimplente] pudesse votar.
Última
Instância — O sr. teria propostas de gestão
empresarial para implantar na seccional?
Rui
Fragoso — Indiscutivelmente, a OAB tem que ser tratada
na magnitude dela. As questões políticas e de natureza
da advocacia devem ficar a cargo de seus dirigentes. As
questões estruturais devem ficar a cargo de
profissionais. Então, tenho interesse de, em algumas áreas
da Ordem, profissionalizar, para que os dirigentes se
ocupem das questões políticas e dos encaminhamentos
mais necessários que a classe requisita. Nesse aspecto,
já andei falando de uma gestão profissional dentro da
OAB, para que o dirigente mais ocupado com a advocacia e
os advogados possa realmente se preocupar com eles.
Fonte:
Última Instância