Promotoria
apura contratos com advogados
O
Ministério Público Estadual tem inquéritos para investigar pelo menos 38
contratos firmados sem licitação por órgãos do governo de São Paulo com
escritórios de advocacia.
Desses,
11 já viraram alvo de ações que tramitam na Justiça e contestam a
legalidade da escolha dos profissionais de forma subjetiva, sem qualquer
tipo de concorrência, para prestar serviços de assistência jurídica ao
poder público -que mantém um órgão para isso, a Procuradoria Geral do
Estado.
Quase
80% das contratações sob investigação foram feitas por três estatais:
Sabesp (19), Dersa (6) e Metrô (5). Os valores de cada uma variam de R$ 15
mil a mais de R$ 1 milhão.
A
justificativa do setor público para contratar os escritórios sem licitação
é um artigo da lei 8.666/93 que permite a prática "quando houver
inviabilidade de competição" para "serviços [...] de natureza
singular".
Também
é exigida a "notória especialização" do contratado que permita
inferir que seu trabalho "é essencial e indiscutivelmente" a opção
adequada.
Promotores
e juízes consideram haver uma banalização desses contratos em trabalhos
comuns -atividades corriqueiras que poderiam ser feitas inclusive por
servidores, como uma divergência no valor de desapropriação.
"Favoritismo"
O
atual presidente da CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços, ligada à
Secretaria de Planejamento) do governo José Serra (PSDB), Thomaz de Aquino
Nogueira Neto, é acusado pela Promotoria há cinco meses por improbidade
administrativa devido a um contrato sem licitação firmado no período em
que ele presidia a Dersa (estatal que gerencia estradas), de onde saiu no
ano passado.
O
escritório de advocacia de Rubens Naves, Belisário dos Santos Jr.
(ex-secretário de Justiça do governo Mario Covas, do PSDB) e Tito Hesketh
foi escolhido, sem concorrência, para defender a Dersa, por R$ 300 mil, em
um processo de desapropriação do Rodoanel.
O
Ministério Público de São Paulo disse ter havido "flagrante
ilegalidade" e uma "conduta imoral" para privilegiar esse
escritório por não haver nenhuma "singularidade" no serviço.
Afirmou
que, além de haver corpo técnico na estatal acostumado com trabalhos do
tipo, há também diversos escritórios renomados e que atuam na área, mas
que não tiveram a chance de concorrer.
"A
forma de agir revela uma indisfarçável parcialidade, um favoritismo
praticado às expensas do dinheiro do povo", diz um trecho do processo.
Nogueira
Neto faz parte do grupo político do vice-governador de São Paulo, Alberto
Goldman (PSDB), com quem já ajudou a fundar um instituto no setor de
transporte e logística.
A
Folha identificou duas sentenças em que a Justiça avalizou, em primeira
instância, os argumentos da Promotoria, em 2007 e 2008. Os acusados já
entraram com recurso.
Numa
delas, dirigentes do Metrô no governo Geraldo Alckmin (PSDB) foram
condenados em 2008 a devolver R$ 184 mil por contratar, sem licitação, o
escritório Sundfeld Advogados para prestar assessoria de direito
administrativo.
A
Promotoria considerou que houve "violação aos princípios
constitucionais da impessoalidade e da moralidade". O juiz Marcus
Vinicius Kiyoshi Onodera, que condenou os réus, afirmou que a atividade
contratada "não era excepcional" e disse que "não há falta
de talentosos profissionais".
Em
outro caso, a Justiça anulou em 2007 um contrato sem licitação firmado
pela Dersa, por R$ 295 mil, com os advogados do escritório Manesco,
Ramires, Perez e Azevedo Marques. Eles tinham a função de dar auxílio em
questões jurídicas relacionadas ao Rodoanel.
"A
notória especialização não afasta a competição, porque serviços
comuns podem ser executados por profissionais gabaritados e de renome na praça",
diz a sentença da juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti, que condenou os
dirigentes da estatal à perda da função pública e ao pagamento de multa
de cem vezes seus salários, além da proibição do escritório de fazer
contratos com órgãos públicos por três anos.
O
escritório também terá de devolver a quantia excedente do que qualquer
outro cobraria para fazer os serviços jurídicos para a Dersa, de acordo
com os valores da tabela da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Fonte:
Folha de S. Paulo, de 30/04/2009
Órgãos
públicos e escritórios defendem legalidade nas contratações sem licitação
Os
advogados terceirizados também afirmam que a posição de alguns promotores
e juízes, especialmente de primeira instância, é ideológica --por
defenderem a utilização de servidores públicos nessa atividade.
A
Sabesp enviou nota afirmando que segue a lei 8.666/93 e que já houve
entendimento no STF (Supremo Tribunal Federal) ressaltando a importância do
critério de "confiança" no profissional para a escolha de serviços
técnicos por "notória especialização", embora esse requisito
seja subjetivo.
"O
sucesso obtido pela ação dos diversos escritórios contratados em favor do
interesse público gerido pela companhia deve ser destacado", escreveu
também a estatal em nota.
A
Sabesp afirma que seus contratos estão amparados na lei por serem serviços
técnicos especializados singulares. Disse ainda que os contratos citados
foram aprovados pelo Tribunal de Contas do Estado.
A
Dersa afirma que "as ações judiciais" estão "em fase de
conhecimento e/ou pendentes de julgamento de apelação". Diz que não
houve nenhuma condenação transitada em julgado (sem possibilidade de
recurso).
O
Metrô informou que encaminhou informações ao Ministério Público e que
"a questão está sub judice". Disse ainda que "todos os
contratos oriundos de dispensa ou inexigibilidade de licitação são
informados ao Tribunal de Contas do Estado antes da assinatura dos
mesmos" -e que não houve manifestação contrária.
As
assessorias de imprensa da Procuradoria Geral do Estado e de Thomaz de
Aquino Nogueira Neto foram procuradas, mas não se manifestaram.
Confiança
"O
Ministério Público tem uma visão muito crítica sobre esse dispositivo.
Mas advocacia envolve questão de confiança, que não se mede em licitação.
Estão movendo ação contra todo mundo", afirmou Carlos Ari Sundfeld,
cujo escritório foi contratado sem concorrência pelo Metrô e condenado
pela Justiça em primeira instância.
Segundo
ele, os serviços de assessoria em direito administrativo prestados nesse
caso eram singulares porque a estatal estava preparando a primeira contratação
por PPP (Parceria Público-Privada) do país.
"O
pano de fundo é uma disputa ideológica ferrenha. Os objetos contratados não
são de domínio de um advogado normal. Seria preciso um setor jurídico
imenso nas estatais", afirma Rubens Naves.
Em
relação a seu contrato com a Dersa, ele disse se tratar de um "caso
complexo" de desapropriação, "com urgência para apelação"
e no qual a estatal desconfiava inclusive de um laudo interno. Depois de um
acordo negociado entre servidores e donos do terreno, Naves diz que deixou a
causa há um mês e que não receberá além dos R$ 100 mil pagos pelos
serviços iniciais.
Os
sócios do Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados,
cujo contrato mantido com a Dersa foi anulado pela Justiça, informaram que
"a ação em referência faz parte de uma política do Ministério Público
[...] de impedir administradores públicos de contratar profissionais
notoriamente especializados".
Segundo
o escritório, a ação que o condenou a devolver dinheiro aos cofres públicos
"só foi julgada em primeira instância e aguarda recurso de apelação
interposto perante o Tribunal de Justiça de São Paulo".
"Ações
e inquéritos desta natureza têm atingido os principais advogados e escritórios
de advocacia especializados em direito público", afirma.
Para
os advogados do escritório Manesco, "a sentença é equivocada e
contraditória".
"Por
um lado, reconhece notória especialização do escritório, a qualidade e
eficácia do trabalho realizado, a ponto de fixar remuneração pelos serviços
prestados; por outro, condena a contratação com base em argumentos
puramente ideológicos, de que o poder público não pode contratar
advogados quando dispõe de Procuradoria organizada".
Fonte:
Folha de S. Paulo, de 30/04/2009
Governo
de SP mapeou fraudes em processos para fornecimento de medicamentos
Último
a se pronunciar na sessão desta quarta-feira na audiência pública sobre
saúde, no Supremo Tribunal Federal, o representante da Secretaria de
Segurança Pública e do governo de São Paulo, delegado Alexandre Sampaio
Zakir, relatou uma experiência do governo estadual em identificar casos
fraudulentos nas demandas judiciais para fornecer medicamentos.
Ele
explicou que, com o número crescente de demandas judiciais, o governo de São
Paulo criou um núcleo de inteligência formado por representantes das
secretarias de Saúde e de Segurança Pública e da Procuradoria Geral do
estado para mapear a “avalanche de ações dos últimos cinco anos”.
O
primeiro passo, segundo ele, foi implementar um sistema informatizado com
dados de pessoas envolvidas nas demandas judiciais relativas ao fornecimento
de medicamentos. A partir daí, constatou-se o atendimento, pelo governo, de
31 mil beneficiários das condenações judiciais. “Esse número salta aos
olhos do administrador público, uma vez que já foram propostas mais de 40
mil ações judiciais contra o estado de São Paulo”. Segundo ele, os
gastos do governo com medicamentos, provocados pelas demandas judiciais,
passam de R$ 400 milhões por ano.
O
estudo detalhado dessas informações apontou a coincidência de médicos,
advogados, dirigentes de organizações não governamentais que congregavam
pacientes de psoríase, e medicamentos prescritos por marcas, na maioria das
vezes, e de alto valor.
Assim,
foi descoberta a atuação de uma organização criminosa constituída para
obrigar o estado a fornecer medicamentos pela via judicial e aumentar as
vendas da indústria farmacêutica. As investigações foram encaminhadas ao
Ministério Público, que ofereceu denúncia contra os investigados que
agora respondem a ação penal.
“O
maior prejuízo não é o financeiro causado ao tesouro, mas o causado à vítima
dessa organização criminosa, o paciente, que muitas sequer era portador de
psoríase ou, se a portava, não era em grau que justificasse a ministração
de medicação tão forte, expondo a risco de morte essas pessoas”,
ressaltou Zakir.
O
delegado informou, ainda, que o trabalho do núcleo de inteligência serviu
de base para aproximadamente 40 inquéritos em que foi confirmada a mesma
forma de agir e que o grupo governamental, ainda em atividade, já detectou
outras modalidades de fraude.
Fonte:
site do STF, de 30/04/2009
Defensoria
Pública de São Paulo reduziu em 90% ações por medicamentos na Justiça
Ainda
durante o terceiro dia da Audiência Pública sobre Saúde, o defensor público
Vitore André Zílio Maximiano, da Defensoria Pública do Estado de São
Paulo, falou sobre a experiência da instituição na cidade de São Paulo
que trouxe diminuição em cerca de 90% do número de ações por
medicamentos na Justiça. Segundo explicou, a Defensoria firmou parceria com
a Secretaria de Estado de Saúde para que as pessoas que necessitam de
medicamentos, sejam oficiais ou excepcionais, sejam atendidas por técnicos
que indicam como podem ser obtidos.
De
acordo com Vitore Maximiano, com a evolução da tecnologia e da ciência,
muitas das patologias hoje são passíveis de um enfrentamento digno no que
toca ao tratamento e à medicação. Mas, para ele, da mesma forma que há
muito a comemorar, a questão se torna dramática quando alguém se depara
com uma patologia e percebe que sua limitada capacidade financeira a impedirá
de receber tratamento ou a medicação correta. Para o defensor, é neste
momento que o Estado cumpre seu papel determinante de oferecer o tratamento
digno, mas muitas vezes faltam recursos para a área.
Vitore
Maximiano afirmou que a defensoria traz o olhar da pessoa carente, daqueles
que, até pela falta de cultura, têm dificuldade em buscar qual o local
adequado para obter medicamentos que constam das listas oficiais. Para ele,
mesmo quando essas pessoas chegam aos locais onde, em tese, há distribuição,
esses medicamentos não estão à disposição naquele momento por falta de
planejamento, mesmo sendo vitais para sobrevida, recuperação, cura ou
acompanhamento de uma patologia.
O
defensor explicou o trabalho desenvolvido em parceria com a Secretaria de Saúde,
em São Paulo, iniciado há cerca de um ano. “Temos hoje realizado uma
solução administrativa para a dispensa de medicamentos, quer das listas
oficiais quer também dos chamados medicamentos excepcionais”, disse. De
acordo com ele, as pessoas que procuram a Defensoria Pública na cidade de São
Paulo são encaminhadas a um atendimento por técnicos da Secretaria de Saúde,
que se localizam fisicamente dentro do prédio da Defensoria. Segundo
afirma, esses atendimentos ocorrem terças e quintas e não há filas.
Maximiano
informou que, em se tratando de medicamento da lista oficial, a que por
ventura não teve acesso em razão das dificuldades de logística na
distribuição, este paciente já receberá a indicação precisa de qual o
local onde o medicamento está à disposição, para onde é imediatamente
encaminhado para retirada, sem qualquer burocracia.
Em
relação aos medicamentos tidos como excepcionais, o defensor explicou que
é inaugurado um procedimento administrativo, no âmbito da Secretaria. De
acordo com ele, o paciente é submetido à avaliação de um médico para
confirmação do diagnóstico através da exibição dos próprios exames,
confirmando-se a patologia e a combinação com a medicação prescrita, e
esta medicação, estando inscrita na Anvisa, é entregue ao paciente num
período médio de 30 a 40 dias. “Os casos excepcionais, diante da
gravidade da patologia, são tratados também de forma excepcional, com
prazo bastante exíguo”, informou.
Segundo
o defensor, essa experiência produziu um resultado bastante positivo. “Nós
temos na Defensoria Pública de São Paulo uma unidade específica para
mover ações contra a Fazenda Pública municipal ou estadual. Na área de
medicamentos nosso volume era de aproximadamente 150 a 180 ações por mês
na cidade de São Paulo, hoje este número é de aproximadamente 15 a 18 ações”,
comemorou. Segundo conta, o esforço conjunto, por meio da Secretaria de Saúde,
Defensoria Pública e diversos parceiros, reduziu em cerca de 90% a
judicialização das ações referentes ao fornecimento de medicamentos.
“Isso fundamentalmente conseguindo atender ao paciente, que é a razão de
ser da Defensoria Pública, do próprio Estado”, concluiu.
Vitore
Maximiano explicou ainda que esta experiência da capital está sendo
estendida, a partir de maio, a toda a grande São Paulo, onde há um bolsão
de pobreza e também um grande volume de ações. De acordo com ele, a logística
indica agora que o atendimento ocorra em um único local, para facilitar
compras e a distribuição, mas o fato é que o Estado assume o seu papel
determinante no fornecimento de medicamentos. Segundo o defensor, as questões
que não são resolvidas pela via administrativa são levadas ao Judiciário.
“Não queremos com a busca de uma solução alternativa diminuir a importância
da judicialização”, finalizou.
Fonte:
site do STF, de 30/04/2009
Trabalhos
do Pacto Republicano começam no próximo mês
O
comitê gestor do II Pacto Republicano, criado para dar mais agilidade e
efetividade ao Judiciário, começará os trabalhos no próximo mês. A idéia
é reunir pontos pacíficos e projetos de consenso sobre a Justiça para
serem aprovados no Congresso. O pacto foi discutido em encontro feito, nesta
quarta-feira (29/4), entre líderes partidários e o Supremo Tribunal
Federal, ministro Gilmar Mendes.
Ele
recebeu em café da manhã o colégio de líderes da Câmara dos Deputados e
o procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, para discutir
projetos relativos ao Pacto Republicano que dependem de aprovação do
Congresso Nacional.
O
grupo de trabalho será formado por dois representantes do Executivo, dois
do Judiciário, dois do Senado e dois da Câmara. A Câmara será
representada no comitê pelos deputados Osmar Serraglio (PMDB-PR) e Flávio
Dino (PCdoB-AM).
Participaram
do encontro os deputados Sandro Mabel (PR-GO), Ricardo Barros (PP-PR), Tadeu
Filippelli (PMDB-DF), Márcio França (PSB-SP), Henrique Alves (PMDB-RN),
Jovair Arantes (PTB-GO), Hugo Leal (PSC-RJ), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF),
Luiz Sérgio (PT-RJ) e José Aníbal (PSDB-SP) – todos são líderes de
partidos ou bancadas.
De
acordo com o deputado Sandro Mabel, este é um novo relacionamento com o
objetivo de discutir projetos importantes para todos os entes para que
possam andar de forma mais célere. “Vamos fazer com que as convergências
possam ajudar o país a andar”, afirmou o deputado.
Outro
ponto discutido na reunião foi a intervenção do STF em questões que
deveriam ser aprovadas pelo Congresso. O colégio de líderes, juntamente
com o ministro Gilmar Mendes, irá levantar casos que dependem de
regulamentação e dar prioridade a eles. “Talvez nem a Câmara esteja
sabendo o que está em aberto”, destacou o deputado Sandro Mabel.
Senado
O
ministro da Justiça Tarso Genro, representante do Executivo, se reuniu
nesta quarta com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para
discutir o assunto e pedir que a Casa indique os nomes para o comitê
gestor. Na reunião, também foram discutido os projetos prioritários do
Pacto Republicano que estão em tramitação no Senado.
Entre
eles, está o que disciplina o uso de algemas. Outro projeto trata do
aperfeiçoamento do Programa de Proteção à Vítima e Testemunha,
garantindo maior segurança e assistência ao protegido.
Os
projetos do Pacto Republicano em tramitação no Senado também tratam de
temas como a uniformização de jurisprudência no âmbito dos Juizados
Especiais Estaduais e o que revisa normas processuais para simplificar os
processos. *Com informações da Agência Brasil e Assessoria de Imprensa do
Supremo Tribunal Federal
Fonte:
Conjur, de 30/04/2009
PGE
consegue improcedência de ação da APEOESP
A
13ª Vara da Fazenda Pública julgou improcedente o Mandado de Segurança
coletivo interposto pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do
Estado de São Paulo (APEOESP) que pedia a anulação da determinação da
Secretaria de Estado da Educação, prevista no art. 2º da Resolução
97/2008, que determina a consideração do perfil profissional do professor
quando do processo de atribuição de aulas. O pedido de liminar já havia
sido indeferido, após manifestação da Procuradoria Geral do Estado de São
Paulo, através do trabalho realizado pelo procurador do Estado Celso Luiz
Bini Fernandes, da Procuradoria Judicial.
Fonte:
site da PGE SP, de 30/04/2009
Casa
nova para os menores
Há
cinco meses, os menores assistidos pelo Estado nas unidades da Fundação
Casa não promovem rebeliões ou motins. Durante todo o ano passado, houve
apenas 3 ocorrências. Em 2005, foram 53. No período de cinco anos, as
fugas se reduziram de 775 para 33.
A
descentralização do atendimento mediante a construção de unidades
menores no interior do Estado, a separação dos menores de acordo com o
grau de periculosidade e compleição física, a educação continuada e o
acompanhamento médico e psicológico foram alguns dos fatores para a
melhoria no trabalho de assistência e recuperação dos menores. A imagem
negativa da velha Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), que
funcionou como escola de bandidos durante anos, desvaneceu-se.
Há
exatos dez anos, a Febem viveu o auge de uma crise que parecia não ter fim.
Foram mais de 20 motins em 1999 nos Complexos Imigrantes, Tatuapé, Raposo
Tavares e Franco da Rocha, dos quais fugiram 2.252 internos. Cenas de
extrema violência chocaram a opinião pública e colocaram o governo do
Estado em xeque.
No
dia 25 de outubro daquele ano explodiu a mais violenta rebelião da história
da Febem, no Complexo Imigrantes. Durante 18 horas os internos mantiveram
reféns sob a ameaça de martelos, serrotes, porretes e enxadas. Dois
monitores foram espancados e atirados de um muro de cinco metros. Ao final,
58 pessoas ficaram feridas, três prédios foram destruídos e quatro
menores foram mortos por outros internos, dois deles carbonizados e um teve
a cabeça e membros decepados.
Foi
o auge de um longo processo de degradação do sistema, provocado pela
superlotação das unidades em razão de internações desnecessárias
determinadas pelo Judiciário e pelo recolhimento, na capital, de menores de
todo o Estado, para aqui despachados pelas prefeituras. Era falha a coordenação
entre a Febem e a Justiça e sobravam denúncias de maus-tratos aos
adolescentes por parte dos monitores.
Houve
várias tentativas de melhoria do sistema da Febem, mas foram necessários
dez anos para que começassem a ser vencidas as resistências às mudanças
de funcionários da antiga fundação, de juízes da Infância e da
Juventude e de muitos prefeitos do interior paulista.
Foi
complicado, e ainda é, o processo de livrar a fundação de funcionários
despreparados e envolvidos em atos de tortura e de corrupção. Foi difícil
convencer o judiciário a mudar o hábito de destinar à Febem todo e
qualquer menor flagrado infringindo a lei, independentemente da gravidade da
infração, e os prefeitos a aceitarem a responsabilidade pela assistência
aos menores infratores de seus municípios.
Hoje,
já há 27 cidades que passaram a se responsabilizar por seus menores
infratores, em 39 pequenas unidades. Muitas têm sido bem-sucedidas nos
trabalhos de recuperação graças, principalmente, ao cuidado de organizar
a assistência prestada de acordo com as necessidades específicas dos
menores e da cidade.
Em
Sorocaba, por exemplo, 210 jovens foram atendidos nas duas unidades
instaladas no município desde 2006. A pedagogia empregada de acordo com as
condições locais produz bom nível de recuperação. Dos menores
atendidos, 82 estão empregados.
Os
juízes também passaram a determinar a internação somente para os casos
mais graves, permitindo ao Estado a desativação das grandes unidades como
o Complexo do Tatuapé da antiga Febem. Hoje, há mil vagas ociosas no
sistema, uma situação impensável há dez anos, quando o número de
internações aumentava mais rapidamente do que a construção de novas
unidades.
Atualmente,
30% dos crimes praticados por menores estão relacionados com o tráfico de
drogas - três vezes mais do que o índice registrado há dois anos. Mas,
agora, quando um menor é flagrado vendendo drogas, os juízes costumam
determinar a aplicação de medidas socioeducativas em liberdade assistida
ou semiliberdade.
O
desafio agora é conseguir que esse tipo de pena resulte em reeducação.
Cabe aos governos estadual e municipais dar prioridade à formação de mais
profissionais para cumprir essa tarefa.
Fonte:
Estado de S. Paulo, seção Opinião, de 30/04/2009
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