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Associação quer que OIT se pronuncie sobre o amianto  

A Abrea (Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto) pediu formalmente ontem, em Brasília, à OIT (Organização Internacional do Trabalho) um pronunciamento sobre o fato de indústrias brasileiras que extraem e usam amianto para produzir telhas e caixas-d'água patrocinarem entidades de trabalhadores para defender o uso controlado do mineral no país.

O pedido foi feito por meio de queixa para que a OIT recomende ao governo brasileiro a adoção de medidas que possam proibir o que a Abrea entende como "prática anti-sindical".

A Abrea se baseia no artigo 2º da Convenção 98 da OIT, que "veda às organizações de empresas manter com recursos organizações de trabalhadores com o objeto de sujeitá-las ao controle de empregadores".

O repasse de recursos de empresas a entidades sindicais ocorre por meio do Instituto Brasileiro do Crisotila, criado em 2002 e patrocinado por 11 indústrias. "A queixa denuncia a grave violação da liberdade e da autonomia sindicais em função da ajuda financeira da indústria do amianto a entidades sindicais, como está explícito no Acordo Nacional para Uso Controlado do Amianto Crisotila [tipo que existe no país]".

Esse acordo foi firmado entre a Comissão Nacional dos Trabalhadores do Amianto (CNTA), ligada à CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria), 7 sindicatos de trabalhadores, 11 indústrias e o Instituto Brasileiro do Crisotila.

"O Estado tem de tomar medidas para censurar essa relação. Se a OIT emite um pronunciamento em relação a isso, o Brasil pode sofrer retaliações perante outros países, já que as relações comerciais entre os países são pautadas pela observância de cláusulas sociais", afirma Mauro de Azevedo Menezes, advogado da Abrea.

Para Élio A. Martins, presidente da Eternit, uma das 11 empresas que assinam o acordo com a comissão de trabalhadores, o repasse é transparente.

"Vivemos em uma democracia e isso [queixa à OIT] só engrandece a discussão. O acordo é transparente. A lei federal nº 9.055 [que disciplina o uso do amianto no Brasil] prevê repasse para treinamento dos trabalhadores. Eles precisam ser treinados, viajar, participar de seminários para ter mais informação e discutir o assunto."

Martins afirma que "seria interessante ver de onde vêm os recursos que financiam essas associações [que representam ex-trabalhadores, como a Abrea] que defendem o fim do amianto no país".

O presidente da Eternit esteve ontem na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para discutir o uso controlado do amianto e o impacto que o banimento do mineral teria no país.

"Existe uma pesquisa em curso, realizada pela USP e pela Unicamp, que vai dar uma resposta científica a esse debate." Ele diz que não é possível comparar o banimento no Brasil com o banimento na Europa. "Lá se usava o amianto anfibólio; aqui se usa o crisotila."

"Se a pesquisa constatar que o produto está contaminando a população, e se não houver meios de evitar isso, engrossarei a fileira dos que pedem o banimento. Mas a única exigência que faço é que a OMS [Organização Mundial da Saúde] diga que as fibras alternativas são seguras e não causam riscos. O que se tem de informação hoje é que o risco dessas fibras [alternativas] é indeterminado."

Martins também destaca que, desde a década de 80, não há novos casos registrados de doenças causadas pelo uso do amianto no Brasil. "A maioria das pessoas que está identificada com problema ou que fez acordo com a companhia está dentro da pesquisa da Sama, passando pelas juntas médicas da USP e da Unicamp. Parte dos processos contra a companhia chegou ao final porque, no momento da perícia, se confirmou que não tinha problema da doença ou que a doença não era causada pelo amianto." 

Fonte: Folha de S. Paulo, de 27/07/2008

 


Primeira Seção aprova quatro novas súmulas
 

Os ministros que integram a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aprovaram nesta quarta-feira mais quatro novas súmulas de jurisprudência do Tribunal. Elas versam sobre matérias que têm sido objeto de reiteradas decisões da Primeira e da Segunda Turma, que examinam processos sobre questões de Direito Público.  

As quatro novas súmulas, 354 a 357, abrangem assuntos de alto interesse. Dispõem sobre processo expropriatório para fins de reforma agrária, notificação do ato de exclusão do Programa de Recuperação Fiscal (Refis) pelo Diário Oficial ou internet, cobrança de tarifa básica e discriminação de pulsos excedentes e ligações de telefone fixo para celular. A relatora dos projetos foi a ministra Eliana Calmon.  

É a seguinte a íntegra das quatro novas súmulas do STJ, com as principais referências:  

Súmula 354: “A invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para fins de reforma agrária.” (Referências: RESP 819.426/GO, RESP 893.871/MG, RESP 938.895/PA, RESP 590.297/MT e RESP 964.120/DF)  

Súmula 355: “É válida a notificação do ato de exclusão do Programa de Recuperação Fiscal (Refis) pelo Diário Oficial ou pela internet.” (Referências: Lei nº 9964/2000, Resolução nº 20/2001 do Comitê Gestor, RESP 778.003/DF, RESP 976.509/SC, RESP 638.425/DF e RESP 761.128/RS)  

Súmula 356: “É legítima a cobrança de tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia fixa.” (Referências: RESP 911.802/RS, RESP 870.600/PB, RESP 994.144/RS, RESP 983.501/RS e RESP 872.584/RS)  

Súmula 357: “A pedido do assinante, que responderá pelos custos, é obrigatória, a partir de 1º de janeiro de 2006, a discriminação de pulsos excedentes e ligações de telefonia fixa para celular.” (Referências: Lei nº 9472/1997, Decreto nº 4733/2003, RESP 925.523/MG, RESP 963.093/MG, RESP 1.036.284/MG e RESP 975.346/MG)  

O termo “súmula” é originário do latim sumula, que significa “resumo”. No Poder Judiciário, a súmula é uma síntese das reiteradas decisões proferidas pelos tribunais superiores sobre uma determinada matéria. Com ela, questões que já foram exaustivamente decididas podem ser resolvidas de maneira mais rápida mediante a aplicação de precedentes já julgados.  

Fonte: site do STJ, de 26/07/2008

 


Estado de Direito não pode ser refém da barbárie
 

EM 20 de junho, a Comissão Especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), criada com o objetivo de acompanhar as investigações referentes à morte dos três jovens do morro da Providência, realizou reuniões com autoridades militares da Companhia do Comando Militar do Leste, com o delegado da 4ª Delegacia de Polícia, responsável pela condução do inquérito, e com familiares das vítimas e lideranças comunitárias.

O mandato da comissão é acompanhar as investigações; cooperar com o trabalho investigativo; monitorar e demandar respostas; e propor medidas para evitar a repetição de graves violações a direitos humanos.

O episódio alcança acentuada gravidade e complexidade. No total, 46 disparos foram efetuados, resultando na execução de Wellington Gonzaga Ferreira, 19, morto com 26 disparos; David Wilson da Silva, 24, morto com 18 disparos; e Marcos Paulo Campos, 17, morto com dois disparos, tendo sido o primeiro a morrer, em tentativa de fuga. Os corpos foram encontrados no lixão de Gramacho. Além das marcas de tiros, os corpos evidenciavam sinais de tortura.

Os três jovens retornavam de um baile funk quando foram abordados pelos militares. Acusados de crime de desacato, foram levados ao Comando Militar do Leste, lá recebendo a ordem de soltura. Contudo, em desobediência, foram detidos por 11 militares, que os entregaram a traficantes do morro da Mineira, vinculados a uma facção inimiga da que atua no morro da Providência.

Em missão ao Rio de Janeiro, a comissão constatou a flagrante contradição entre os depoimentos de membros do Exército, da Polícia Civil e dos familiares das vítimas e de lideranças comunitárias. Questões centrais merecem maior apuração e elucidação:

a) a mãe de Wellington afirma ter visto o filho machucado no quartel, mas os depoimentos dos militares negam tal versão;

b) há informações contraditórias acerca do tempo de permanência dos três jovens sob o poder do Exército, no Comando Militar do Leste;

c) há visões antagônicas a respeito da presença do Exército no morro da Providência -para o Exército, 75% da comunidade seria favorável, ao passo que a primeira demanda de líderes comunitários a esta comissão foi a imediata retirada das tropas;

d) registros do Exército apontam que, de dezembro de 2007 até o momento, na realização do projeto Cimento Social, teriam ocorrido apenas 11 registros de crime de desacato, mas integrantes da comunidade denunciam a violência sistemática do Exército, marcada por hostilidades, abusos, intimidações diárias, em um estado de exceção permanente;

e) é necessário um esclarecimento a respeito da promíscua relação entre as Forças Armadas e o crime organizado (relatório da CPI do Tráfico de Armas aponta que, no Rio, 22% das armas apreendidas com criminosos pertencem às Forças Armadas);

f) há dificuldade para responsabilizar militares por eventual abuso, em virtude da falta de identificação dos membros do Exército;

g) é necessário o exame de balística das armas do Exército e dos celulares, bem como o exame do corpo de delito dos jovens assassinados;

h) a punição daqueles que efetivamente executaram os jovens. No sentido de cooperar para a investigação dos fatos, a comissão decidiu colher os depoimentos dos membros da comunidade, a partir de uma atuação articulada entre instituições jurídicas (OAB, Defensoria Pública, Ministério Público, entre outras), a fim de que novos elementos sejam considerados para a melhor elucidação do caso.

Decidiu, ainda, realizar um estudo dos casos de crime de desacato registrados, a fim de avaliar a dinâmica dos fatos. O sistema interamericano de direitos humanos tem demandado dos Estados que revisitem e até eliminem de sua ordem jurídica a figura do crime de desacato, por violar parâmetros protetivos internacionais.

Ao lado dessas medidas, outras se somam, como a garantia de reparação aos familiares das vítimas, diante do reconhecimento explícito da responsabilidade do Estado; a prestação de apoio psicológico aos familiares das vítimas; e a proteção aos familiares e às testemunhas ameaçadas.

Se questionável na ordem jurídica democrática é a existência do instituto do crime de desacato, legado do regime autoritário, inquestionável e inadmissível é que tal crime seja punido com a pena de morte, sumariamente executada mediante parceria das Forças Armadas e com o crime organizado.

O Estado de Direito requer respostas, demandando rigorosa investigação e punição dos responsáveis e a reparação da grave violação. O Estado de Direito não pode ser refém da barbárie.  

CÉZAR BRITTO, 46, advogado, presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; FLÁVIA PIOVESAN, 39, professora doutora de direito constitucional e de direitos humanos da PUC-SP; e GILDA PEREIRA DE CARVALHO, 57, subprocuradora geral da República, procuradora federal dos direitos dos cidadãos, integram a Comissão Especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH). 

Fonte: Folha de S. Paulo, de 27/07/2008

 


PEC pretende transformar delegados em juristas
 

As polícias brasileiras estão vivendo uma situação surrealista. Os delegados de polícia estão lutando para implantar algo difícil de ser imaginado até mesmo pelos novelistas mais consagrados do horário nobre. Tal qual os autores televisivos, eles estão escrevendo um folhetim em que o enredo está sendo tramado somente por eles. 

Este tipo de proposta idealizada pelos delegados não ajuda em nada o nosso país a encontrar soluções para o grave problema da segurança pública. Nosso povo está sendo trucidado pelos bandidos, enquanto pessoas que ocupam cargos importantes como eles não se preocupam em apresentar soluções para que isso tenha um fim. 

Milhares de policiais estão vendo alguns tentarem implantar, através de uma Emenda Constitucional, um sistema em que “executivos de inquérito” serão promovidos a “agentes políticos”. No ideário dos beneficiados, os policiais que estão na linha de frente, que investigam e prendem, passarão a ser “usados” como uma mão de obra barata e “desqualificada”, que ficará à disposição da emergente classe, agora equiparada aos membros do Ministério Público e do Judiciário, principalmente na parte referente aos salários. 

Os delegados estão tentando fazer passar no Congresso uma Proposta de Emenda Constitucional totalmente desconectada da realidade. Quando tomei conhecimento dela, fiquei impressionado com a competência dos novos alquimistas, pois pretendem transformar em coisas ruins (para não dizer coisa pior) o pouco de bom que ainda resta no sistema policial brasileiro. 

Preocupam-se somente em consolidar uma estratégia que impede qualquer avanço que ajude o país a sair dessa crise de segurança que atormenta a todos. Acham que todos devem engolir esse produto (mal) acabado que apresentaram para um Congresso que precisa saber exatamente o que está decidindo e a importância da transformação que estão tentando implantar quando, entre outros absurdos, tentam modificar o artigo da Constituição Federal que prevê a Polícia Federal como uma instituição instituída em carreira única. 

Como tantos outros, tenho amigos entre os delegados. Mas uma questão precisa ser colocada na mesa: na reunião feita em Brasília para elaborarmos uma proposta de Lei Orgânica para a Polícia Federal foi impossível qualquer tipo de acordo, pois foram evidentes os espetáculos de arrogância explícita e intimidatória, sendo inviabilizado qualquer tipo de entendimento. Agora, no Congresso Nacional, é realizado mais um capítulo dessa disputa que não precisaria estar acontecendo, pois toda vez que nos apresentamos desunidos — nos mais variados fóruns — fomos vencidos. Quanto isso não aconteceu e houve um arremedo de união, conseguimos avançar. 

A desunião voltou com força. Perdoem-me os interessados, mas esta Proposta de Emenda Constitucional que pretende transformar delegados em juristas me fez lembrar da piada do turco. Acreditem, não é desrespeito, não é ironia, mas é inevitável a associação. Assisti a um filme iraniano com o nome de “Gosto de Cereja” no qual é contada a tal piada que reproduzo agora. Dizem que um turco foi ao médico e disse: “Quando toco meu pescoço, dói; quando toco minha cabeça, dói; quando toco meu corpo, dói”. O médico respondeu: “Não tem nada de errado com seu corpo, é seu dedo que está machucado”. Está aí a associação: fazer parte das carreiras jurídicas deve ser bom, ser chamado de “Excelência” deve fazer bem ao ego, ganhar um salário (sempre) competitivo, melhor ainda. Como podemos ver, os delegados se preocupam com vários detalhes importantes e sadios, mas o que está doente é a idéia, a absurda idéia de transformar policiais em juristas. Ela está doente por uma simples razão: a insistência em olhar as coisas com apenas uma perspectiva, a egoísta e elitista perspectiva deles. 

A segurança do Brasil já tem problemas demais, ela não funciona, ninguém precisa deixá-la pior ainda. Para acabar de vez com a tranqüilidade dos brasileiros, não precisamos de uma proposta como esta, que implantará o caos em todas as polícias, pois aumentará, entre os policiais, distâncias já inaceitáveis. Está na cara que estão sofrendo do problema do turco — querem aumentar prerrogativas, querem ganhar bem mais do que seus pares, mas o que está doente é o dedo; o dedo que apontou para alguém criar esse monstrengo. 

Ainda há tempo das coisas serem mudadas. Se isso não for possível, só nos restará o confronto. Vamos mostrar aos congressistas que o Brasil precisa de uma polícia que seja polícia. Eles precisam saber o que é melhor para a sociedade. Policiais, promotores, juízes, advogados; todos sabem ou deveriam saber suas atribuições. O país precisa ter certeza de que eles não desconhecem seus ofícios. 

Não poderia concluir sem um último comentário. Sou do tempo em que não existia grampo. Andei dezenas de quilômetros a pé, e até jumento era usado para os deslocamentos em lugares remotos. Entrei jovem para a instituição e muito tempo passou. Desde o início convivi com coisas boas e também com todo tipo de vaidade e prepotência. Com alegria e orgulho vejo, hoje, uma Polícia Federal forte, respeitada e reconhecida como uma das instituições em que o povo mais confia. Para chegar nesse ponto não foi preciso o auxílio de “juristas”. Não foi preciso termos em nosso meio “agentes políticos”. Fizemos concurso para policiais e é o que temos orgulho de ser. Está na hora de entendermos que, se estivermos unidos numa carreira única, a PF será mais forte ainda. Todos precisam entender que os nossos adversários precisam estar do outro lado. Chega de confronto. Chega de discórdia. 

O dedo do turco precisa ser curado... 

Sobre o autor

Valacir Marques Gonçalves: é bacharel em Direito, agente da Polícia Federal e jornalista  

Fonte: Conjur, de 27/06/2008

 


PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº 35, DE 2008
 

Dispõe sobre o regime de trabalho e remuneração dos ocupantes do cargo de Agente Fiscal de Rendas, institui a Participação nos Resultados - PR, e dá providências correlatas.  

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Fonte: D.O.E, Caderno Legislativo, seção Projeto de Lei Complementar, de 26/06/2008