Poder
de investigação do Ministério Público viola Constituição, diz AGU
A AGU
(Advocacia Geral da União) enviou ao STF (Supremo Tribunal Federal) um
parecer que discute a competência funcional do Ministério Público, um dos
principais operadores do direito. O órgão, que representa a posição do
governo nos processos judiciais, considera inconstitucional o poder de
investigação criminal do Ministério Público.
Segundo
José Antonio Dias Toffoli, advogado-geral da União que assina o parecer, a
Constituição Federal atribuiu apenas às polícias Federal e Civil dos
Estados a competência para as atividades de polícia judiciária. Leia a íntegra
do parecer aqui.
Para
Toffoli, a Carta Magna deu ao Ministério Público a competência de
“promover procedimentos investigatórios e inquisitórios na proteção de
direitos difusos e coletivos —todos de natureza civil.”
O
parecer foi dado em ação ajuizada pela Adepol (Associação dos Delegados
de Polícia do Brasil) no Supremo contra a Lei Federal 8.625/93, que trata
da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público dos Estados; na Lei
Complementar Federal 75/93, sobre a organização, as atribuições e o
estatuto do Ministério Público da União; e na Resolução 20/2007 do CNMP
(Conselho Nacional do Ministério Público).
A
associação argumenta que as normas permitem ao MP realizar inspeções e
diligências investigatórias, requisitar o auxílio de força policial, ter
livre acesso a estabelecimentos policiais ou prisionais, além de ter acesso
a quaisquer documentos relativos à atividade policial.
De
acordo com a associação, essas normas são incompatíveis com a Constituição
brasileira, posição que, no que se refere à Lei Complementar Federal
75/93, é compartilhada pela AGU. “O ordenamento constitucional não
reservou o poder de investigação criminal ao Ministério Publico, razão
pela qual as normas que disciplinam tal atividade devem ser declaradas
inconstitucionais”, afirma o documento.
A ação
ainda vai contra o controle externo das atividades das polícias judiciárias,
como a Polícia Federal e as polícias civis, pelo Ministério Público
—que vem sendo alvo de críticas especialmente depois da deflagração da
operação Satiagraha da Polícia Federal.
O
presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, já expôs seu ponto de vista
sobre a matéria. No ano passado, classificou a atuação do parquet como
“abstrata” e disse que muitas vezes promotores e procuradores são parte
de ações abusivas da polícia.
“Poder
implícito”
Toffoli
ainda rebate o corrente argumento de que a Constituição outorgou
implicitamente ao MP a função investigatória criminal —já que atribuiu
competência de instaurar inquérito policial, requisitar diligências
investigatórias e controlar a atividade policial.
“Não
se pode considerar implícita uma competência quando a Constituição a
outorgou —de modo explícito— a outro órgão”, declara a AGU.
A PGR
(Procuradoria Geral da República) já se manifestou em direção oposta, em
parecer referente à outra ação proposta pela Adepol, que também afirmava
que os poderes de investigação são atribuição exclusiva dos delegados
de polícia.
O então
procurador-geral da República Antonio Fernando Souza afirmou, no final do
ano passado, que a Constituição Federal, “sem mencionar exclusividade de
qualquer espécie, atribui à Polícia Federal a ‘investigação de
determinadas infrações penais’. Assim, não há como incluir, mesmo em
termos léxicos, a investigação criminal dentro do conceito ‘polícia
judiciária’”.
Precedente
A
questão é alvo de intensos debates e questionada em diversas ações na
Suprema Corte brasileira, que, ao esclarecer a competência do MP para
realizar investigações, deverá influenciar não apenas nos processos que
já tramitam na Justiça, como também em ações futuras.
A 2ª
Turma do Supremo já se pronunciou sobre a matéria e reconheceu por
unanimidade que existe a previsão constitucional de que o Ministério Público
tem poder investigatório.
A
relatora do habeas corpus, ministra Ellen Gracie, afirmou ser perfeitamente
possível que o órgão do MP promova a coleta de determinados elementos de
prova que demonstrem a existência da autoria e materialidade de determinado
delito.
“Essa
conclusão não significa retirar da polícia judiciária as atribuições
previstas constitucionalmente”, afirmou Ellen Gracie, em decisão de março
de 2009. Leia aqui a íntegra do voto da ministra.
O mais
rumoroso dos casos, no entanto, ainda não foi julgado pelo Supremo. Em
tramitação há mais de um ano, o limite das atribuições de promotores e
procuradores é discutido em habeas corpus do empresário Sérgio Gomes da
Silva, o Sombra, acusado de ser o mandante do assassinato do ex-prefeito de
Santo André (SP) Celso Daniel, ocorrido em janeiro de 2002.
A
defesa alega que todos os atos de investigação dos promotores paulistas
devem ser considerados nulos, além de pedir o arquivamento da ação penal.
Para os advogados do empresário, quando se coloca um promotor para
investigar, ele não é mais imparcial, o que causa uma “absoluta
insegurança jurídica”.
Fonte:
Última Instância, de 25/08/2009
Prisões lotadas
OS
AVANÇOS obtidos pelo governo do Estado de São Paulo na segurança pública
parecem caminhar para um esgotamento. Além do repique recente na taxa de
homicídios, após vários anos em queda, a superpopulação carcerária não
para de crescer. No final de 2006 o déficit era de 44%, passou a 50% em
meados do ano passado e hoje está em 58%, na média nacional. Faltam 55 mil
vagas no Estado, cerca de um terço do déficit total no país.
É
provável que a situação se agrave, se a polícia paulista mantiver o
ritmo de mais de 100 mil prisões efetuadas em 2008. Os presídios construídos
na última década tiveram o efeito de esvaziar carceragens lotadas de
distritos policiais, um descalabro que ameaça agora os CDPs (centros de
detenção provisória), onde se concentra o excesso.
O que
deveria ser uma prisão para aqueles que aguardam julgamento se transforma
numa penitenciária improvisada. Nesses depósitos de presos sem instalações
adequadas para cumprimento de pena, como locais de estudo e trabalho, por
vezes faltam até mesmo colchões.
Segundo
o governo estadual, houve só três rebeliões desde 2007 em suas 158 prisões.
Mas cabe lembrar que, um ano antes, uma sequência de graves motins e
ataques contra autoridades, articulados dentro e fora dos presídios, levou
pânico à população.
A
Secretaria de Administração Penitenciária avalia que o grosso do déficit
será sanado com a abertura, até 2011, de 39,5 mil vagas em 49 novas
unidades, cinco das quais estão em construção. Há uma licitação
prevista para setembro, para tirar do papel 26 prisões cujos terrenos já
foram declarados de utilidade pública.
É
duvidoso que todas as vagas estejam efetivamente disponíveis no prazo de
dois anos. Desapropriações e licenças ambientais constituem fontes notórias
de adiamentos, quando levadas à Justiça. Em várias cidades eleitas para
receber penitenciárias, além disso, organiza-se resistência contra as
unidades.
O
governo conta ainda com mutirões judiciais e maior aplicação de penas
alternativas -como prestação de serviços- para desafogar as prisões.
Medidas oportunas e necessárias, mas com efeito limitado.
É um
contrassenso prático e uma ofensa ao direito manter encarcerados detentos
que já tenham cumprido a pena, ou de baixa periculosidade. Esse barril de pólvora
só será esvaziado com a modernização das varas de execução penal e o
reforço da assessoria gratuita prestada pela Defensoria Pública.
Fonte:
Folha de S. Paulo, seção Opinião, de 25/08/2009
Serra: decisão do modelo do pré-sal é ''precipitada''
O
governador de São Paulo, José Serra, afirmou ontem que foi
"precipitada" a determinação do modelo de exploração do pré-sal
e defendeu uma audiência pública com Estados e municípios exploradores de
petróleo para determinar as novas regras. "O governador do Rio deu uma
entrevista importante com seus pontos de vista, tem coisas em que ele está
certo, eu acho que está tudo muito precipitado", disse em Washington.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, afirmou ao Estado no domingo que as
novas regras do pré-sal, que serão anunciadas nesta semana, são "um
assalto" ao seu Estado. As regras mudam a distribuição de royalties
do petróleo.
"Precisamos
de um processo muito debatido, numa espécie de audiência pública, não
apenas com o Congresso, mas também com os governos e municípios de onde
vai se extrair petróleo", disse Serra. "Eu acho que precisamos
ter tempo, não há por que fazer as coisas de maneira atropelada."
Em
evento no Rio, Cabral reafirmou ontem que lutará "com todos os meios
democráticos" contra o projeto do governo, a ser apresentado na próxima
semana, modificando os critérios de distribuição de royalties e participações
especiais na produção de petróleo dos novos campos de pré-sal. Segundo
ele, a mudança que se cogita, distribuir a nova riqueza por todos os
Estados - hoje, só os Estados produtores recebem - seria "um ato de
brutalidade contra o Estado do Rio", já prejudicado, disse, com a
mudança da capital para Brasília, a fusão entre a Guanabara e o antigo
Estado do Rio e a cobrança de ICMS sobre petróleo no destino. Para Cabral,
deve-se, por decreto, passar a cobrar as participações especiais sobre os
campos pequenos e médios, além dos grandes, como ocorre atualmente.
"Quando
o ministro Lobão me disse, ?Governador, fique tranquilo. O que hoje é
existente, até mesmo no que já foi descoberto no pré-sal e leiloado, não
vamos mexer. Vamos mexer só no que for leiloado para a frente?, eu não
fico tranquilo."
O
ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, rebateu às críticas ontem.
"Vai ser uma audiência mais do que pública. Vamos mandar o projeto ao
Congresso Nacional, onde o debate será aberto e amplo." Lobão voltou
a afirmar que não haverá mudanças na cobrança dos royalties no regime de
partilha e nem nos 30% da área do pré-sal que já foram licitados. "Não
acho que eles (os governadores) tenham tantas queixas a fazer", disse.
"O governo mantém a sua posição. Os governadores que defendam a sua
posição no Congresso Nacional."
Já o
governador de Minas Gerais, Aécio Neves, demonstrou que apoiará a proposta
do governo federal. O tucano pediu que o debate seja feito com
"serenidade", disse que os Estados litorâneos devem ganhar uma
participação maior na divisão da riqueza gerada pelas descobertas, mas
também pediu "generosidade" na discussão: "Acho que os
royalties podem ajudar o Brasil a enfrentar questões crônicas".
Fonte:
Estado de S. Paulo, de 25/08/2009
TRF-2 inaugura remessa digital de recursos ao STJ
Depois
do Tribunal de Justiça fluminense aderir à era virtual, foi a vez do
Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio e Espírito Santo) inaugurar
sua sala de digitalização, que permitirão enviar recursos por meio eletrônico
para o Superior Tribunal de Justiça. O presidente do STJ, ministro Cesar
Asfor Rocha, esteve, nesta segunda-feira (24/8), no TRF-2.
O
ministro afirmou que até 3 de setembro 22 dos 32 tribunais estaduais e
federais do país estarão remetendo os processos eletronicamente para o
STJ. Já encaminham os processos por meio eletrônico ao STJ os Tribunais de
Justiça do Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio e o TRF-5.
Como
bem explicou o ministro, o processo virtual é mais do que advogados e
partes terem acesso ao andamento do processo, o que já ocorre no STJ e no
Tribunal de Justiça do Rio e no TRF-2. Além de ver todas as peças
processuais de recursos que já estão no STJ, os advogados poderão fazer
petições eletronicamente sem precisar ir até Brasília.
O
ministro Asfor Rocha afirmou à revista Consulto Jurídico que a transformação
do STJ em um tribunal virtual vai incentivar e quase que obrigar os
tribunais a seguir o mesmo caminho. “Vai começar a haver uma demanda por
parte de juízes, advogados e partes. Ninguém quer ficar para trás”,
disse. Para o ministro, o passo mais importante foi desmitificar a ideia de
que o processo virtual representa o futuro e não pode ser feito agora.
No
Tribunal Regional Federal da 2a Região, por exemplo, os Juizados Especiais
Federais já trabalham com o processo virtual. As Varas de Fazenda Pública
também estão caminhando para isso. O projeto é que toda a Justiça
Federal da 2a Região seja virtualizada.
O
presidente do STJ também disse que não há a conta exata de quanto o
Judiciário vai economizar com o processo eletrônico. “O sistema paga aos
Correios, por ano, R$ 20 milhões para levar e trazer os processos. Quando
tiver todo mundo enviando eletronicamente, isso é um custo que não vamos
ter”, exemplificou. Ele acredita que o gasto com a implantação será
compensado com o que se deixará de gastar no prazo de um ano. Considerando
que o material usado para o processo virtual é de uso prolongado, isso
representa economia ao Judiciário sem considerar os benefícios que
acarreta ao jurisdicionado.
O
presidente do TRF-2, desembargador Paulo Espírito Santo, disse à ConJur
que o tribunal está na fase inicial de implantação da digitalização dos
recursos. Ele contou que são 10 máquinas para digitalizar os processos,
mas a ideia é aumentar o espaço físico e a quantidade de funcionários.
“É o sonho da minha vida que coincidiu com o do ministro Asfor Rocha.”
Segundo
informações do TRF-2, de janeiro a maio deste ano, havia mais de nove mil
processos tramitando com recursos para os tribunais superiores. Do TRF-2
para o STJ, o processo levava, em média, até oito meses, de acordo com
dados do tribunal.
O
tribunal explica que o tempo gasto para digitalizar um processo de cerca de
300 páginas será de aproximadamente uma hora. Já para enviá-lo ao STJ é
quase que instantâneo. O programa foi desenvolvido pelo próprio Judiciário.
O TRF-2 explica que os recursos eletrônicos para o STJ devem ser
digitalizados na íntegra e conter um índice com link para as peças
processuais.
No
caso dos recursos remetidos para o Supremo Tribunal Federal, a regra é
diferente. Seguem algumas peças do processo, como decisões de segunda instância,
certidão de intimação da decisão recorrida e procurações outorgadas
aos advogados das partes. Há cerca de um ano que o TRF-2 envia os recursos
eletronicamente para o Supremo.
O
Tribunal de Justiça do Rio já implantou o sistema de envio de recursos
eletronicamente para o STJ. No final de julho, Asfor Rocha este no TJ
fluminense para, junto com o desembargador Luiz Zveiter, presidente do
tribunal, enviarem o primeiro lote de 100 recursos ao STJ. O TJ envia para o
STJ, em média, 1,8 mil processos por mês. Segundo o tribunal, antes,
gastava-se cerca de cinco meses para que os recursos fossem enviados. Hoje,
demora alguns minutos.
Cartas
abertas
“É
um marco histórico decorrente da nossa capacidade de sonhar”, disse o
ministro, inspirado pelo lançamento de seu livro Cartas abertas a um jovem
juiz. Asfor Rocha falou sobre o livro. Ele disse à ConJur que a
oportunidade que teve de ocupar cargos estratégicos do Judiciário fez com
que ele conhecesse bem a Justiça. A primeira constatação, disse, é de
que o Brasil talvez tenha o melhor Poder Judiciário do mundo em termos de
prerrogativa, de acesso que é através de concurso público, de carreira,
de estrutura. Ele disse que, por mais que se diga que o Judiciário está
com a imagem abalada, o número crescente de processos revela que as pessoas
ainda confiam nos tribunais para buscarem seus direitos.
No
livro, conta o ministro, há cartas que falam sobre o relacionamento com a
imprensa, com políticos, advogados, Ministério Público, amigos, família.
Asfor disse que não é que o juiz tem de ter pena de condenar, mas observar
que cada processo carrega uma vida.
Fonte:
Conjur, de 25/08/2009
Resolução PGE - 46, de 24-8-2009
Designa
os integrantes da Assessoria de Tecnologia da Informação e Comunicação
do Gabinete do Procurador Geral do Estado