O déficit de delegados
Quando cruzaram os braços por quatro horas
para dar apoio político à greve da Polícia Civil de São Paulo, no final de
outubro, policiais de 13 Estados e do Distrito Federal chamaram a atenção
para um importante problema do setor de segurança pública. Trata-se do
déficit de delegados em quase todo o País, o que compromete investigações,
dificulta a apuração de denúncias e prejudica o funcionamento da Justiça
Criminal, minando a confiança da sociedade nas instituições e reforçando a
sensação de insegurança.
No Ceará, por exemplo, 130 dos 184 municípios
estão sem delegados de polícia. As cidades têm defensor público, promotor e
juiz, mas não há quem assine os inquéritos que têm de ser enviados ao
Judiciário. No Rio Grande do Norte, 60% dos municípios não têm delegado e
delegacias. "Tenho de perambular", diz o delegado potiguar Inácio Lima Neto,
que cuida de 16 municípios. Em muitas cidades do Piauí e do Amazonas, as
funções dos delegados estão sendo exercidas por policiais militares. E, na
região de Ourinhos, em São Paulo, alguns delegados têm de acumular mais de
uma delegacia nas cidades mais próximas.
O problema, segundo os sindicatos da área
policial, decorre do descumprimento, pelos governos estaduais, da legislação
que determina que o número de delegados em cada Estado deve ser calculado
conforme o tamanho da população e os índices de criminalidade. Os sindicatos
alegam que hoje há 11.304 delegados de polícia em todo o País, quando, por
aquele critério, esse número deveria ser de 15.475. Dos 27 Estados, somente
o Distrito Federal e Sergipe estariam respeitando a legislação em vigor.
Em Santa Catarina, que hoje tem 302 delegados,
seria necessário contratar mais 316. São Paulo tem 211 delegados a menos do
que o previsto pela legislação. A situação mais dramática é a do Ceará, onde
o déficit de delegados é de quase 70%. Dos 762 cargos previstos, só 231
estão efetivamente preenchidos. O Estado também tem a menor proporção de
delegados por habitante - 1 para 35,4 mil pessoas. A média nacional é de 1
para 16,2 mil.
Secretários de Segurança Pública de 13 Estados
reconhecem a gravidade do problema e afirmam que estão abrindo concursos
para aumentar o efetivo da Polícia Civil. Mesmo assim, dizem eles, tão cedo
não conseguirão cumprir o que a legislação determina.
Alguns secretários reclamam da escassez de
recursos orçamentários para contratar mais delegados e afirmam que as
mudanças nas regras da aposentadoria levaram muitos profissionais a
antecipá-la para não perder benefícios. Outros afirmam que, por causa das
limitações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, os governos
estaduais não podem pagar salários atrativos. Por isso, assim que adquirem
um mínimo de experiência, os delegados tendem a prestar concurso para o
Ministério Público, Defensoria Pública, Judiciário e Procuradoria do Estado,
que pagam bem mais. Em São Paulo, ao justificar a não contratação de
delegados em número suficiente para suprir o déficit, os responsáveis pela
segurança pública alegam que os avanços da ciência e da tecnologia permitem
maior eficiência com menor número de policiais. Mesmo assim, há um concurso
em andamento no Estado para a contratação de mais 147 delegados.
O enxugamento de gastos e as restrições
fiscais invocadas pelos secretários de Segurança Pública para justificar o
déficit de delegados constituem apenas um dos lados do problema. O outro
lado diz respeito aos velhos e conhecidos gargalos estruturais da Polícia
Civil. A burocracia continua sendo excessiva, as estruturas administrativas
não são modernizadas e a distribuição do efetivo muitas vezes é feita por
critérios políticos e corporativos. Com isso, vários delegados acabam
assumindo tarefas burocráticas, quando deveriam estar investigando.
Como se vê, a resolução do problema da falta
de delegados de polícia em 25 Estados depende não só da abertura de
concursos para a contratação de mais profissionais, mas, igualmente, da
adoção de critérios mais racionais de distribuição do efetivo policial.
Fonte: Estado de S. Paulo,
seção Opinião, de 23/11/2008
Inquéritos da Alstom miram R$ 1,4 bilhão
O Ministério Público abriu mais 20 inquéritos
para apurar suspeitas de irregularidades em contratos assinados entre
empresas do governo paulista e a Alstom. Em valores atualizados até outubro
pelo INPC, desde a época em que foram assinados, os contratos colocados sob
suspeita pela Promotoria somam R$ 1,378 bilhão.
Dezesseis dos 20 inquéritos vão investigar a
CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), segundo relatório obtido
pela Folha.
É da empresa o maior deles, de R$ 950,871
milhões, assinado em outubro de 2000 com um consórcio que envolvia Alstom,
DaymlerChrysler Rail, Siemens e CAF. O contrato previa a entrega e a
instalação de equipamentos para o sistema Capão Redondo-Largo Treze e está
sendo investigado sobretudo pelos seguidos aumentos de prazos de entrega.
O prazo total do contrato passou de 24 meses,
com mais seis meses da chamada "operação assistida", para 56 meses, ou o
dobro do original.
A Cesp e a Sabesp foram contempladas com dois
inquéritos para cada uma das estatais.
Já existem dez inquéritos sobre a Alstom em
andamento no Ministério Público, a maioria em torno de contratos do Metrô. O
primeiro inquérito foi aberto em maio, após o "Wall Street Journal" revelar
que a Alstom estava sob investigação na Suíça e na França sob suspeita de
ter pago propinas de US$ 6,8 milhões (R$ 16,2 milhões pelo câmbio atual)
para obter contratos de até US$ 45 milhões (R$ 107,4 milhões) com o Metrô e
a Eletropaulo.
Os promotores usaram dois critérios para
considerar um contrato suspeito: a dispensa de licitação e o aumento do
valor original do negócio.
Só um deles, firmado em outubro de 1999 pela
CPTM para executar o projeto sul de trens metropolitanos, no valor
atualizado de R$ 47,410 milhões, foi considerado irregular pelo Tribunal de
Contas do Estado.
A CPTM, por exemplo, não fez licitação em 2005
para assinar dois contratos com a Alstom que totalizam R$ 50,7 milhões -um
de R$ 18,6 milhões e outro de R$ 32,1 milhões.
O presidente da CPTM, Sergio Avelleda, disse à
Folha que não houve concorrência porque os contratos eram sobre equipamentos
de segurança e só a empresa que fez o sistema pode fazer intervenções nele.
As outras estatais alegam desconhecer algum tipo de irregularidade
envolvendo seus contratos.
Um dos promotores envolvidos na apuração disse
à Folha, sob a condição de que seu nome não fosse revelado, que o fato de o
TCE ter aprovado o contrato não significa atestado de regularidade, na
interpretação do Ministério Público.
Um dos conselheiros do TCE, Robson Marinho,
está sendo investigado no caso Alstom porque um dos documentos apreendidos
na França cita as iniciais "RM" e fala de um assessor do governador. O papel
é datado de 1997. À época, Marinho era um dos principais secretários do
governador Mário Covas (PSDB): ele cuidava da Casa Civil, cargo da
coordenação política do governo.
Fonte: Folha de S. Paulo, de
23/11/2008
Estatais dizem que contratos são regulares
O presidente da CPTM, Sérgio Avelleda, diz que
a empresa está colaborando com a apuração do Ministério Público. Ele afirma
que a dispensa das licitações nos dois contratos de R$ 50,7 milhões se devem
a razões técnicas e de direitos autorais.
Os dois contratos têm como objeto a reparação
de equipamentos de segurança para trens, segundo ele. "Eu só posso contratar
a empresa que forneceu o equipamento. Não é como mexer com peças. É mexer
com lógica, com software. Se eu violar isso, estou rompendo contrato de
direitos autorais", disse.
A Sabesp afirmou que não existe investigação
formal do Ministério Público a respeito de seus contratos. "Tratam-se apenas
de questionamentos pontuais motivados por denúncias anônimas."
A estatal de saneamento alega não ter sido
questionada pela Promotoria sobre um dos seus contratos.
Em relação ao outro, referente ao emissário
Pinheiros-Leopoldina, de R$ 17,203 milhões (em valores atualizados), a
Sabesp afirma ter respondido aos questionamentos, "inclusive com cópias de
documentos que demonstram que a prorrogação de prazos não foi excessiva,
justificando-se por razões técnicas devido a problemas corriqueiros" da
obra.
A Cesp afirma não ter recebido indagação por
parte de "nenhum órgão oficial envolvido nas apurações, desconhece as
denúncias e não vê irregularidades em seus contratos com a Alstom".
A empresa alega ainda que nenhum dos contratos
com a Alstom foi considerado irregular pelo TCE.
"Dos 23 contratos, 21 foram declarados
regulares e dois estão em análise. A Cesp colaborou com o Ministério Público
e enviou as informações solicitadas", afirma.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a
Alstom declarou que não vai se pronunciar sobre as novas investigações.
Fonte: Folha de S. Paulo, de
23/11/2008
Mudança atingiu sonegador, diz governo
O governo do Estado de São Paulo arrecadou,
neste ano, R$ 2,03 bilhões com a cobrança antecipada do ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços) em 13 setores.
O valor foi recolhido de março a setembro
deste ano, quando começou a vigorar no Estado de São Paulo, para alguns
setores, o regime de cobrança antecipada de ICMS, conhecido como
substituição tributária.
Os R$ 2,03 bilhões que entraram no caixa do
governo paulista eram sonegados no Estado, segundo Mauro Ricardo Costa,
secretário estadual da Fazenda de São Paulo. Ele estima que a sonegação no
varejo paulista é da ordem de 60% -portanto, o governo arrecada 40% do que
deveria arrecadar desse setor.
A arrecadação tributária total do Estado deve
chegar a R$ 89 bilhões neste ano -a maior parte é referente ao ICMS.
Os setores que passaram a recolher ICMS no
início da cadeia produtiva (indústria ou atacadista) são: bebidas
alcoólicas, medicamentos, perfumaria, higiene pessoal, alimentos, ração
animal, limpeza, produtos fonográficos, materiais de construção, autopeças,
pilhas e baterias, lâmpadas e papel.
A previsão da secretaria era elevar em R$ 560
milhões a arrecadação do ICMS em 2008 nesses setores com o recolhimento
antecipado do imposto. Mas o número ultrapassou R$ 2 bilhões em menos de um
ano.
"Os números até agora mostram que a
implementação da substituição tributária foi uma medida acertada do governo
no combate à sonegação e atingiu seu objetivo. Atacou aqueles contribuintes
que não pagavam adequadamente seus tributos. Infelizmente, a sonegação
persiste, especialmente no varejo, o que resulta em sonegação em cadeia,
pois, se o varejo não emite nota, também não quer nota contra ele, de
atacadistas e ou de indústrias", diz.
A expectativa para 2009 é elevar ainda mais a
arrecadação do ICMS (o valor ainda não foi estimado), uma vez que o governo
quer estender a cobrança antecipada para mais setores: eletroeletrônico,
materiais elétricos, máquinas, artefatos de uso doméstico, artigos de
papelaria, produtos óticos, bicicletas, brinquedos e instrumentos musicais.
A ampliação do regime de substituição
tributária está prevista no projeto de lei nº 677 enviado pelo governo à
Assembléia Legislativa no final de setembro. Para que esses novos setores
passem a recolher ICMS de forma antecipada, o projeto tem de ser aprovado
por 48 votos de um total de 94.
"Estamos determinados a ampliar a arrecadação
de impostos com medidas que melhorem a eficiência da administração
tributária sem criar tributos nem aumentar as alíquotas dos já existentes",
afirma.
Ao cobrar o imposto no início da cadeia
produtiva, diz ele, "o governo dá condições de igualdade a todos os
comerciantes e evita a concorrência desleal entre contribuintes que pagam
corretamente seus tributos e os que não pagam".
O secretário da Fazenda diz que a elevação da
arrecadação do ICMS ocorreu em todos os setores que passaram a recolher o
imposto pelo regime de substituição tributária. Quem vende ao Estado de São
Paulo, como um atacadista de Minas Gerais ou do Paraná, por exemplo, também
tem de recolher antecipadamente o imposto para não provocar concorrência
desleal em São Paulo.
"Notamos que a arrecadação também cresceu
significativamente no caso de produtos fabricados em outros Estados e que
são destinados ao Estado de São Paulo, pois aquelas empresas também têm de
recolher o imposto antecipadamente."
Descontos "engessados"
Empresários de vários setores criticam o
sistema de cobrança antecipada do imposto. Para eles, quem faz promoção no
ponto-de-venda paga proporcionalmente mais imposto do que quem não faz, o
que engessaria políticas de descontos.
"Essas críticas não têm fundamento. Não
estamos aumentando a carga tributária de nenhum setor, mas somente daqueles
que sonegam, o que é justo para que as empresas não atuem de forma desigual.
Os empresários honestos, como a maioria deles, aprovaram o sistema de
cobrança antecipada de impostos", diz o secretário.
O regime de substituição tributária, segundo
ele, leva em conta pesquisas de preços de produtos feitas pelos próprios
empresários. "A Fazenda acata essas pesquisas para cobrar o imposto. Se os
preços mudaram, os setores podem trazer novas pesquisas. Mas não adianta só
falar, tem de comprovar que os preços são inferiores com dados de institutos
idôneos", diz Costa.
A legislação estabelece a devolução do ICMS
para quem pagou antecipadamente mais do que devia. Mas o projeto de lei
inclui a hipótese de não-devolução do ICMS quando os preços são pesquisados
pelas empresas. "Se são elas mesmas que informam os preços de seus produtos,
não há motivo para devolver. Em outras hipóteses, é feita a devolução."
Fonte: Folha de S. Paulo, de
23/11/2008
Sonegação de 60% é exagero, diz comércio
"Se o governo paulista sabe que a sonegação no
comércio chega a 60%, por que não cobra desses lojistas? Essa estimativa de
sonegação no varejo é um exagero e também não dá para fazer esse cálculo",
diz Marcel Solimeo, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo),
ao comentar a estimativa do secretário paulista da Fazenda, Mauro Ricardo
Costa, de que o Estado recolhe do comércio paulista cerca de 40% do que
deveria.
Na avaliação de Solimeo, se o governo
considera para a sua estimativa de sonegação "um pequeno boteco que fica
numa pequena rua numa pequena cidade do Estado, pode até estar certo, mas
interessa considerar a sonegação de um lojista tão minúsculo? O governo tem
de se preocupar com os grandes sonegadores".
Solimeo diz ainda que o regime de substituição
tributária, que antecipa para o início da cadeia produtiva o recolhimento do
ICMS, "só poderia ser utilizado em condições muito especiais, com produtos
homogêneos, com preços homogêneos e com margem de comercialização homogênea.
Não foi criado para ser aplicado em qualquer produto, que tem dispersão
grande de preços e de margem de comercialização. Isso cria problema de
concorrência também com outros Estados".
Para o economista da ACSP, muitas vezes o
custo de correr atrás de tributos de um "pequeno bar que fica na vila tal é
até maior do que o próprio imposto a receber. Grande parte do número de
estabelecimentos que o Estado acha que sonega tem imposto tão pequeno para
pagar que não afeta a arrecadação."
Fonte: Folha de S. Paulo, de
23/11/2008
CNJ recebe representação contra TJ-SP
A procuradora de Justiça Valderez Deusdedit
Abbud, de São Paulo, protocolou representação do CNJ (Conselho Nacional de
Justiça) contra prática do Tribunal de Justiça de São Paulo, cuja Seção
Criminal não cumpre resolução do próprio Órgão Especial do tribunal e mantém
a prática de colher o parecer do Ministério Público antes de distribuir os
processos às Turmas ou Câmaras do TJ.
Além de descumprir a resolução interna --que
determina que "todos os feitos entrados serão imediatamente distribuídos aos
Desembargadores e Juízes Substitutos em Segundo Grau em exerício"-- a
prática tem contra si, sobretudo, a Constituição Federal. Segundo a
procuradora, a Emenda Constitucional 45, de 2004, dispõe que "a distribuição
de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição".
"Mais do que ofensiva a uma prerrogativa
funcional dos membros do Ministério Público e a um ato normativo expedido
pelo próprio Tribunal de Justiça de São Paulo, a prática atual de sua Seção
Criminal contraria a Lei Fundamental da República", argumenta da
procuradora, na representação.
Na informação ao CNJ, Valderez Abbud afirma
que formulou representação ao TJ em 22 de setembro último, "com pedido de
pronta adoção de medidas" pela presidência do Tribunal. Ela acrescenta que o
Órgão Especial, em 5 de novembro, "não considerou que houvesse providências
a cumprir" e determinou o arquivamento da representação.
Citando publicação do site "Consultor
Jurídico", a procuradora reproduziu alegação atribuída à Corte Paulista, que
"entendeu que a distribuição imediata de processos criminais, antes de
colhido o parecer da Procuradoria da Justiça, aumentaria o represamento de
feitos e causaria desequilíbrio entre as partes em conflito, por privilegiar
a acusação, a quem daria mais informações do que à defesa, com possibilidade
de ingerência dos Procuradores de Justiça junto aos relatores, com o
indevido propósito de influenciá-los".
A procuradora Valderez Abbud argumenta que
"não é propriamente lisonjeiro, seja para os Procuradores de Justiça, seja
para os Desembargadores, supor que os primeiros tentariam uma indevida
influência sobre os segundos ou imaginar que estes seriam suscetíveis dessa
ingerência. A decência e a probidade se presumem e não há notícia de que
esse atentado à independência judicial venha ocorrendo no Supremo Tribunal
Federal, no Superior Tribunal de Justiça e nos demais Tribunais do País em
que há a distribuição imediata dos processos".
A representação acrescenta que o CNJ já
rejeitou, "ao menos tacitamente", a tese segundo a qual as normas para a
distribuição de processos constituem matéria jurisdicional", ao julgar
precedente relativo a distribuição de ações cíveis no Paraná.
O Blog aguarda informações solicitadas ao
tribunal no oferecimento da primeira representação.
Fonte: Blog do Fred, de
23/11/2008
Governadores pedem urgência na análise do piso nacional de professores
“Alea jacta est” - a sorte está lançada, disse
o governador do Mato Grosso do Sul André Puccinelli ao sair do encontro na
tarde desta sexta-feira (21) com o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo
Tribunal Federal (STF), relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) 4167, que questiona dispositivos da Lei 11738/08, que instituiu o piso
salarial para os professores brasileiros. Acompanhado do governador do
Paraná, Roberto Requião, Puccinelli disse que veio pedir urgência na análise
do pedido liminar.
A pressa dos governadores se justifica na
própria Lei: o novo valor deve começar a ser pago já em 1º de janeiro de
2009. Os governadores confidenciaram, ao final do encontro, que Barbosa
teria dito que vai tentar levar o processo para julgamento do Plenário ainda
este ano.
A ADI pede a suspensão de dispositivos da
norma, nos pontos em que define novas regras para o magistério e unifica
nacionalmente a remuneração inicial dos professores de escolas públicas da
educação básica. Segundo Puccinelli, os estados não estão preparados para
suportar essa despesa.
Anarquia
Questionado sobre os motivos que levaram os
governadores a contestar no Supremo a lei federal, Requião disse que a
norma, ao invés de criar uma unificação, na verdade chega para anarquizar
processos já em curso nos estados, de melhoria da Educação. “O Congresso
Nacional meteu a colher onde não devia”, disse Requião.
Que se estabeleça um salário-mínimo no Brasil
eu acho excelente, disse Requião, mas criar um piso de vencimento sobre o
qual ainda vai incidir o Plano de Cargos e Salários é instalar na educação
um “samba do crioulo-doido”. Para ele, o que a lei vai conseguir é gerar um
descumprimento, já que os municípios não vão conseguir pagar. O Ministério
Público vai agir, os sindicatos vão processar estados e municípios. “Nós
vamos ter uma indústria de precatórios”, sentenciou o governador paranaense.
Planejamento
Já o governador sul-mato-grossense fez questão
de frisar que os governadores não questionam o piso. “Nós somos a favor do
piso”, ressaltou Puccinelli. O governador disse que a reclamação dos
governadores é quanto ao aumento das horas de planejamento que cada
professor terá que cumprir, com a conseqüente diminuição das horas dentro de
sala de aula. A lei obriga que os mestres reservem 33% do seu tempo com
planejamento. Com a mudança, os estados vão ser obrigados a contratar mais
profissionais, revelou o governador. A lei federal interveio na organização
dos sistemas de ensino estaduais. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) diz como
seriam os sistemas de ensino nos estados. “Mas cada estado tem sua
autonomia”.
Tanto Puccinelli quanto Requião fizeram
questão de deixar claro um último ponto: os estados não têm previsão
orçamentária para fazer frente a uma despesa que não foi calculada.
Fonte: site do STF, de
21/11/2008
A fera penteada
O projeto de reforma tributária aprovado na
semana passada por uma comissão da Câmara dos Deputados é o primeiro com
chance de ser aprovado desde 1988, quando foi promulgada a atual
Constituição. O assunto é árduo. Mas, como mexe com o bolso de todos, é
melhor tentar entendê-lo. O primeiro passo para isso é não se assustar com a
selva de siglas cujo significado é bem menos assustador. Tome-se, por
exemplo, a sigla que é a viga central de sustentação do projeto de reforma.
Ela se chama e significa imposto sobre valor adicionado. A idéia básica do
projeto é que o IVA substitua uma série de outros tributos federais, taxas e
contribuições que serão suprimidos. Para abrir lugar ao IVA, sumiriam a
contribuição para o financiamento da seguridade social e o Programa de
Integração Social . Essa troca de dois por um está alinhada com o objeto
geral do projeto, a simplificação, e com o que há de melhor em sistema
tributário no mundo. Mas falta ousadia. Em vez de dois por um, o IVA poderia
ter incorporado também pelo menos outros tributos, como o imposto sobre
circulação de mercadorias e serviços , o imposto sobre produtos
industrializados e o imposto sobre serviços . Nesse caso, a troca seria de
cinco por um, e estaríamos mesmo a caminho da modernização tributária
brasileira. Por que os legisladores não foram ousados o bastante para dar
esse passo? Entra aqui o ditado de que o ideal é inimigo do bom. Pela
avaliação dos autores do projeto, não haveria condições políticas de unir em
um único IVA federal um imposto estadual (ICMS), outro federal (IPI) e mais
um municipal (ISS). Para aumentar a chance de aprovação no plenário da
Câmara, eles optaram por um IVA menos eficiente, mas menos polêmico.
Como tentativa de simplificar a selva
tributária brasileira, o projeto de reforma é muito bem-vindo. Seu texto
prevê uma medida há muito reclamada pelas empresas brasileiras, a fusão da
contribuição social sobre o lucro líquido com o imposto de renda de pessoa
jurídica. Ambos são pagos atualmente com base no lucro obtido pelas
empresas. A fusão facilitaria bastante a vida das empresas, que hoje se vêem
obrigadas a manter grandes e custosos departamentos apenas para cumprir suas
obrigações com o Fisco. Talvez a mais esperada das mudanças tributárias
ensejadas pelo projeto seja a que reduz de 20% para 14% a alíquota da
contribuição patronal sobre a folha de pagamento dos trabalhadores. Parece,
à primeira vista, uma rendição ao lobby da classe empresarial, mas é uma
medida especialmente benéfica para todos os brasileiros por seu poder de
incentivar a contratação, inibir as demissões e contribuir para a diminuição
da informalidade e do desemprego. Também pertence ao campo das boas
iniciativas a criação de um gatilho para evitar a explosão da carga
tributária. Isso não significa que os brasileiros deixarão de trabalhar
cinco meses por ano apenas para pagar impostos. Mas, pelo projeto, se a
carga crescer mais que 5% ao ano, as alíquotas do IVA federal cairão
automaticamente – embora tributaristas como Ives Gandra considerem a medida
inaplicável. "A economia do país certamente crescerá mais do que o previsto
se a reforma for aprovada", diz Bernard Appy, secretário de reforma
tributária.
Será aprovada? Nem os mais otimistas esperam
que o projeto saia das discussões em plenário com a mesma cara que entrou.
Espera-se que, pelo menos, sua alma simples não seja deformada. As
dificuldades para sua aprovação são evidentes. Apesar de todos os méritos, o
projeto vai provocar mais calor do que luz no plenário. É heróica, por
exemplo, a tentativa de acabar com a atual guerra travada entre os estados
para dar descontos e até isenções a investidores como forma de atraí-los
para suas regiões – o que muitas vezes turva a lógica negocial dos
empreendimentos e resulta em poucos benefícios sociais e econômicos para a
população. A reforma unifica as 27 leis estaduais de ICMS, tirando, assim, a
munição dos governadores na guerra fiscal. Além disso, o projeto prevê a
transferência da cobrança do tributo do estado onde os bens são produzidos
para o local onde eles são consumidos. A bancada paulista já afia as facas
para impedir essa mudança. A iniciativa joga o custo da reforma sobre São
Paulo, o estado que mais contribui com a União e, proporcionalmente, o mais
mal aquinhoado na divisão dos recursos. Como toda reforma tributária, a
atual terá de arbitrar quem perde e quem ganha. Foi justamente o que
derrotou todas as tentativas anteriores.
Fonte: revista Veja, de
21/11/2008 |