Dentro de 60
dias, órgãos do Judiciário brasileiro farão testes de
funcionamento das Tabelas Processuais Unificadas para
avaliar o sistema.
A expectativa é
do juiz auxiliar da presidência do CNJ (Conselho
Nacional de Justiça) Rubens Curado, que conduziu o 1º
Encontro Nacional sobre Tabelas Processuais Unificadas,
encerrado na terça-feira (18/3) no plenário do Conselho,
em Brasília.
As tabelas,
criadas pela Resolução 46 do CNJ, deverão unificar a
linguagem do Poder Judiciário e possibilitar o
gerenciamento estratégico dos processos nos tribunais.
O evento reuniu
representantes de tribunais estaduais e federais desde
segunda-feira (17/3) para discutir as formas de
padronização de procedimentos na Justiça brasileira por
meio da utilização das tabelas. A implantação completa
do sistema unificado no Poder Judiciário está prevista
para setembro próximo.
Nos dois dias do
encontro, foram apresentados os projetos em execução em
alguns Estados. Um exemplo foi o projeto-piloto do
sistema unificado no Tribunal de Justiça do Espírito
Santo. O projeto trouxe facilidade para atualização das
tabelas do tribunal e reclassificação de processos
antigos e possibilitou a implantação por etapas. No
Espírito Santo, tramitam aproximadamente 700 mil
processos, dos quais cerca de 54 mil (8%) no
módulo-teste do sistema único.
Fonte: Última Instância, de
24/03/2008
Refinanciamento de dívida fiscal não gera resultados
O índice de
inadimplência nos programas de refinanciamento de
dívidas tributárias não deixa margem a dúvidas: esses
programas não alcançam o objetivo de regularizar a
situação do contribuinte com o Fisco. O secretário
adjunto da Receita Federal, Paulo Ricardo de Souza
Cardoso, revela que o primeiro e mais generoso deles, o
Programa de Recuperação Fiscal (Refis), criado em 2001,
já excluiu mais de 106 mil contribuintes entre os quase
130 mil inscritos. Em valores atuais, a dívida
consolidada é de R$ 96 bilhões. Mas 69% do valor
refinanciado deixaram de ser pagos. No grupo dos
excluídos, 44% interromperam o pagamento de parcelas e
27% deixaram de honrar as obrigações tributárias
correntes, outro fator de exclusão do programa.
Dois anos depois
de criado o Refis, os parlamentares aprovaram o
Parcelamento Especial (Paes). De novo, alta
inadimplência: dos 374 mil contribuintes inscritos, mais
de 183 mil foram excluídos. Nesse grupo, 52%
simplesmente deixaram de honrar seus compromissos e 46%
não recolheram impostos e contribuições correntes. A
dívida consolidada é estimada em R$ 72 bilhões.
Como o lobby
antitributo é permanente, o governo publicou a Medida
Provisória 303, em 29 de junho de 2006, estabelecendo o
Parcelamento Excepcional (Paex). A rotina da
inadimplência repetiu-se e já ocorreram muitas
exclusões. Neste caso, a Receita ainda está concluindo a
consolidação das dívidas tributária e previdenciária.
Foram quase 180 mil adesões para uma dívida avaliada em
R$ 23 bilhões sem contar o devido à Previdência. "Esses
parcelamentos acabam estimulando o contribuinte a sempre
esperar a próxima oportunidade. É prêmio à
inadimplência", diz o secretário.
Refis, Paes e
Paex são os mais conhecidos programas de parcelamento de
dívidas tributárias federais, mas há muitos outros.
Recentemente, na tramitação da lei que criou a loteria
Timemania, as entidades filantrópicas foram
beneficiadas. Em 2005, prefeitos refinanciaram dívida
previdenciária na conversão em lei da "MP do Bem",
editada para incentivar investimento voltado à
exportação. Governadores tiveram igual tratamento na lei
que criou a Super Receita, em 2007. Pequenas empresas
puderam parcelar quando foi aprovado o Simples Federal,
em 1996. Em 2006 veio o Simples Nacional, e novo
refinanciamento.
Fonte: Valor Econômico, de
24/03/2008
Estados apertam o cerco contra sonegação de imposto
sobre doação
A partir da
declaração que está sendo entregue este ano vai ficar
mais fácil para os Estados identificarem a sonegação do
imposto estadual sobre doação em dinheiro, previsto no
ITCMD (Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e
Doação), por meio da realização de convênios com a
Receita Federal do Brasil que permite o cruzamento das
doações informadas nas declarações de doadores com os
recolhimentos do imposto feitos ao Estado.
A Receita
Federal fez duas mudanças este ano que facilitam esse
cruzamento de dados: criou na ficha de Pagamentos e
Doações Efetuados da declaração um código próprio para
que doadores informem doações em espécie (número 80) e
passou a exigir, além do nome do beneficiário, o CPF.
Até a declaração
de 2007, a doação em espécie era informada no item
"Outros". Com isso, não era possível separar
eletronicamente o que era doação em espécie de outras
doações. Era necessário ler cada declaração.
Antes, também, o
CPF do beneficiário não era um dado obrigatório, o que
impedia cruzamento eletrônico sistemático de informação.
Agora, sem o CPF, a declaração não pode ser transmitida.
"A informação do CPF do beneficiário facilita o
cruzamento de dados", diz Samir Choaib, do escritório
Choaib Paiva e Justo Advogados Associados.
Foi uma emenda à
Constituição em 1993 que autorizou os Estados a
instituírem o ITCMD (ou ITD em alguns Estados) sobre
quaisquer bens ou direitos. "Não há como contestar esse
imposto", diz o advogado. "Ele foi constituído de forma
legal."
Além de
tributar, por exemplo, as doações de imóveis, essas leis
estaduais alcançam também doações de dinheiro. No caso
de imóveis, o pagamento é exigido pelo cartório para a
realização da transferência de titularidade, o que
dificulta a sonegação. Já as doações em dinheiro podem
ser feitas informalmente, ficando o beneficiário
(donatário) responsável pelo recolhimento do imposto
estadual. Ocorre que doadores e donatários costumam
informar esses valores na declaração anual do Imposto de
Renda, para justificar variações patrimoniais, mas
muitas vezes, até por desconhecimento, os beneficiários
não fazem o recolhimento do imposto estadual.
O Fisco paulista
já vem se movimentando desde janeiro de 2007 para tornar
viável um convênio com a Receita que possibilite a
fiscalização do recolhimento do imposto sobre doação de
dinheiro.No Rio, contribuintes chegaram a ser
notificados para pagamento do imposto e a notificação
deixa claro que "os dados sobre as declarações do IR
foram encaminhados a este Departamento nos termos do
convênio de cooperação técnica firmado entre a
secretaria estadual do Rio e a Secretaria da Receita
Federal". No Rio Grande do Sul, também há uma
preocupação com essa fiscalização.
Cada Estado tem
legislação específica para a cobrança do tributo. No
Estado de São Paulo, por exemplo, onde o imposto passou
a valer em 2001, de acordo com a tabela em vigor, está
isenta a doação em dinheiro no valor anual entre as
mesmas partes de até 2.500 Ufesps (R$ 35.575, em 2007),
explica Choaib: "Um filho pode receber doação do pai até
esse limite por ano com isenção e o mesmo filho pode
também receber doação da mãe até esse limite por ano com
isenção." Se o valor entre as mesmas partes superar esse
teto, o imposto sobre o valor total doado é calculado
com alíquota de 4%.
A doação em
dinheiro não precisa ser formalizada em cartório."As
partes podem fazer um instrumento particular, com firma
reconhecida e testemunhas", diz Choaib. Quando a doação
é feita em dinheiro, o pagamento do imposto é de
responsabilidade do beneficiário.
Para o
recolhimento no Estado de São Paulo, "o contribuinte
entra no site da secretaria estadual, preenche a guia
com os dados do doador e do beneficiário, imprime o
documento e paga na rede bancária", diz Choaib. O
imposto vence no dia em que a doação é feita. Para
pagamentos em atraso, o contribuinte deve procurar os
postos da Secretaria da Fazenda do Estado, para cálculo
de multa e correção.
Diante de uma
provável intensificação da fiscalização, Choaib
recomenda que o contribuinte guarde a guia de
recolhimento para eventual necessidade de comprovação do
pagamento. "Muita gente arriscava não fazer o
recolhimento, mas isso tem diminuído", ele diz. Na
expectativa de Choaib, o cruzamento de dados da Receita
com os do Estado vai funcionar. "O Estado tem cinco anos
para fazer a checagem."
Fonte: Estado de S. Paulo, de
24/03/2008
Conselho publica novas regras do Supersimples
O Conselho
Gestor do Simples Nacional (CGSN) deu mais um passo na
regulamentação da Lei Geral das Microempresas e Empresas
de Pequeno Porte. Com a edição de três resoluções
publicadas na edição de quinta-feira do Diário Oficial
da União (DOU), ficam definidos os critérios de
fiscalização e de inscrição de débitos em dívida ativa
pela União, Estados e municípios.
De acordo com o
secretário-executivo do CGSN, Silas Santiago, o
principal avanço foi a definição de como funcionará a
inscrição de débitos do Supersimples na dívida ativa.
Segundo a Resolução nº 34, mesmo os valores do Simples
referentes às parcelas devidas a Estados e municípios
serão inscritos na dívida ativa da União, ficando as
cobranças e os ajuizamentos a cargo da Procuradoria
Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que também deverá
receber as possíveis contestações dos contribuintes.
Porém, a norma
permite que as administrações estaduais e municipais
firmem convênios com a PGFN para que os valores devidos
aos governos sejam inscritos na dívida ativa específica
de cada um. "É o que vai acontecer com a maioria dos
Estados e municípios", diz Santiago, que cita o Estado
de Pernambuco como o primeiro a manifestar a intenção.
Segundo ele, as únicas administrações que podem não
propôr os convênios seriam pequenos municípios que não
tenham uma estrutura jurídica preparada para cobrar os
valores. "Estes municípios poderão se beneficiar com o
trabalho feito pela PGFN", diz.
Outra
determinação do conselho, prevista na Resolução nº 32 do
CGSN, simplificou as regras de fiscalização das empresas
inscritas no Supersimples. Agora, o uso dos autos de
infração e notificação fiscal (AINF) - documento único
de autuação para todos os entes federativos que está
previsto para entrar em vigor no segundo semestre deste
ano - fica restrito aos casos de inadimplência e não
mais no descumprimento de obrigações acessórias, como a
entrega de declarações. Para estas obrigações, deverão
ser usados os procedimentos próprios de cada ente.
O conselho
decidiu também alterar a data da entrega da declaração
anual simplificada referente ao segundo semestre de
2007, conforme estabelece a Resolução nº 33. A
declaração deverá ser transmitida a partir de 1º de maio
deste ano e até 30 de junho. Segundo Santiago, a mudança
foi necessária devido a um atraso no programa para o
preenchimento das informações.
Para a
consultora da Fiscosoft, Juliana Ono, as resoluções do
conselho deixaram de fora outras regulamentações
importantes, como o uso do regime de caixa para o
pagamento dos tributos. Segundo a consultora, o regime
permitiria que as empresas do Supersimples recolhessem o
tributo somente quando recebessem os valores pela venda
ou prestação de serviço. Hoje, as micro e pequenas
empresas devem usar somente o regime de competência, que
obriga o recolhimento no mês seguinte ao da fatura,
independentemente do recebimento dos valores. (AC)
Fonte: Valor Econômico, de
24/03/2008
Dia 23/03
Eleitos chefiam Ministério Público em 19 Estados
Dos 26
procuradores-gerais de Justiça de todo o país, 19 foram
eleitos pela classe. Os demais foram nomeados pelos
governadores apesar de terem perdido a disputa interna.
Em muitos dos casos em que o primeiro foi preterido, a
indicação foi marcada pelo desconforto. Em geral, os
membros do Ministério Público alegaram terem se sentido
desprestigiados pela decisão do governador, que
representaria uma falta de democracia na instituição.
Essa é a
discussão que domina hoje o Ministério Público do Estado
de São Paulo que, no dia 15, elegeu um representante
para a instituição. Mas a palavra final é do governador
José Serra (PSDB), que tem dito que poderá escolher
qualquer um dos três melhores colocados. O procurador
eleito pela classe é Fernando Grella, que obteve 262
votos de vantagem. Em segundo ficou José Oswaldo
Molineiro, que tem o apoio do atual procurador-geral,
Rodrigo Pinho, e é considerado o candidato "mais
apropriado" para o PSDB. Indicá-lo, porém, implicaria um
desgaste político do governador junto à classe.
Os atuais
procuradores-gerais de Amazonas, Espírito Santo, Mato
Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Pernambuco e Tocantins
não foram os preferidos pela classe. Ficaram em segundo
ou terceiro lugar. Se há casos de revolta interna,
também há outros em que o candidato alçado pelo
governador, apesar de derrotado na eleição, foi
reconduzido ao cargo com a maioria dos votos.
Foi o que
ocorreu em Minas. Em 2005, o governador Aécio Neves
(PSDB) indicou para o cargo de procurador-geral Jarbas
Soares Júnior, em terceiro lugar na disputa. Em 2007,
ele foi reconduzido pela maioria. A expectativa em torno
da nomeação e a pressão que os dois grupos paulistas têm
feito para convencer José Serra a indicar os respectivos
candidatos acirraram os ânimos dos procuradores e dos
promotores.
O grupo alinhado
a Grella diz que a indicação do segundo candidato será
um desrespeito à maioria dos membros do Ministério
Público, que quer mudanças na condução da instituição.
Acarretará ainda um desgaste político para Serra e uma
gestão difícil para Molineiro.
Esses apoiadores
afirmam que as atuais circunstâncias são diferentes da
vivida em 1996, quando o então governador Mario Covas
(PSDB) indicou para o cargo o segundo colocado, Luiz
Antonio Marrey, hoje secretário estadual de Justiça.
Sustentam que o candidato preterido, o então
procurador-geral José Emmanuel Burle Filho, já chefiara
a instituição, o que nunca ocorreu com Grella.
O grupo ligado a
Molineiro tem se apoiado na Constituição, que prevê a
possibilidade de o governador escolher um dos três mais
votados. Argumenta que a escolha por Grella reacenderia
o poder do PMDB no Estado e representaria o retorno na
instituição do grupo inimigo de Marrey, que ainda exerce
forte influência dentro do Ministério Público e goza de
prestígio junto ao governador.
Durante 12 anos,
Marrey esteve à frente da instituição ou teve algum
indicado dele no comando do Ministério Público. Serra,
que retornou de uma viagem internacional na última
quarta, tem até o dia 31 deste mês para anunciar o
escolhido.
Fonte: Folha de S. Paulo, de
23/03/2008
Leilão da Cesp exibe gargalos na energia
Marcado para a
próxima quarta-feira, o leilão de privatização da Cesp,
a terceira maior geradora brasileira, reabriu as
discussões em torno do modelo de comercialização de
energia e de regulação do setor no Brasil, país em que
um crescimento robusto pode esbarrar na falta de
eletricidade.
Além de gargalos
regulatórios, como as regras deficientes para renovação
das concessões, as elétricas enfrentam ainda um sistema
de formação de de preços que dificulta o planejamento de
fornecedores e dos consumidores, entre eles indústrias
intensivas em energia, como as siderúrgicas. Parte dos
preços é regulada, e o restante, em tese, livre, formado
nos leilões de energia, que têm preços máximos.
O resultado
dessas incertezas pode redundar no fracasso da venda da
Cesp. Se concretizado, será o maior leilão de
privatização desde a venda do Banespa, em 2000. Os
concorrentes não confirmam sua participação no leilão,
sob a alegação de que o preço pode não compensar os
riscos assumidos.
Não está claro,
porém, se esses riscos afastarão realmente os
competidores da Cesp ou se a desqualificação faz parte
de uma estratégia para diminuir a concorrência e
comprá-la pelo menor valor possível. Na disputa, estão a
franco-belga Suez/ Tractebel e a brasileira CPFL.
"Isso acontece
em todos os leilões. É uma estratégia para comprar da
forma mais barata possível. Nós fixamos um preço mínimo
pelo qual vale a pena o Estado se desfazer da Cesp",
disse Mauro Ricardo Costa, secretário da Fazenda, que
minimiza o problema das concessões. "Todas serão
renovadas."
Com a oferta de
energia apertada em relação à demanda nos próximos
quatro anos, a tendência clara é de alta nos preços do
setor. O mercado brasileiro de energia cresce 5% ao ano,
e as maiores elétricas do mundo passam por uma
consolidação sem precedentes, que as impele a explorar
mercados novos, como o Brasil. No caso, os riscos
regulatórios e de preços representam também
oportunidades de entrada em negócios com um preço mais
baixo.
Prevendo pouca
concorrência, o governo paulista fixou o preço da Cesp
em patamar considerado alto, a R$ 49,75 por ação -na
quinta, as ações terminaram a R$ 43,40. O custo total de
investimento na aquisição da Cesp chega a R$ 22 bilhões,
incluindo a oferta obrigatória aos minoritários, dívidas
e investimentos.
O preço
enfureceu os concorrentes, que desde sua fixação têm
pressionado para diminuir o valor da aquisição. No
mercado, comenta-se que alguns bancos fizeram operações
financeiras sofisticadas de "aluguel de ações", com o
objetivo de derrubar o preço dos papéis.
O governo
paulista afirma que decidiu vender a Cesp não por uma
necessidade de caixa, mas para viabilizar seu programa
de investimentos em infra-estrutura de transporte, uma
vez que o setor privado tem interesse em explorar e em
investir em energia.
"Dá para esperar
mais cinco anos até resolver o problema das concessões?
Pergunte ao usuário de metrô se ele pode esperar mais
cinco anos para ter uma nova linha. Pergunte ao
passageiro da CPTM se ele pode esperar cinco anos para
converter o trem de superfície em metrô. Pergunte à
população se dá para esperar dois ou três anos para ter
coleta e tratamento de esgoto", diz Costa.
"Plano B"
prevê pulverização de ações na Bolsa
Se o leilão da
Cesp fracassar, o governo paulista poderá vender as
ações excedentes ao controle do Estado na Bolsa. A venda
funcionaria como as últimas ofertas de ações do Banco do
Brasil. O problema é que, nesses casos, os papéis
costumam sair abaixo do preço de mercado.
O governo
sustenta que poderia conseguir um ágio, fixando um preço
e atraindo o interesse de grandes investidores. A venda
poderia levantar até R$ 3 bilhões, mas há dúvidas
operacionais.
"Nós temos
várias alternativas para monetizar esse ativo. A
primeira é a venda na forma que foi estabelecida. Se não
tiver lance, pode vender as ações em Bolsa. Pode-se
fixar um preço. Existe plano B, C, D, E. Não temos só
uma bala no revólver", disse Mauro Ricardo Costa,
secretário da Fazenda.
Fonte: Folha de S. Paulo, de
23/03/2008
Dia 22/03
Estado de São Paulo faz convênio contestado por fiscais
Fiscais da
Secretaria da Fazenda paulista pediram para o Ministério
Público do Estado de São Paulo investigar a atuação de
um instituto apoiado por grupos privados, o INDG
(Instituto de Desenvolvimento Gerencial), contratado no
ano passado para dar assessoria ao serviço de
planejamento fiscal da secretaria. Até então, esse
trabalho era elaborado somente por fiscais de carreira.
A representação
foi feita à Promotoria de Cidadania do MP na
segunda-feira da semana passada pelo Sindicato dos
Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo (Sinafresp),
que contesta o que chama de "terceirização" desse
serviço por considerar que há "quebra de sigilo
fiscal".
Para auxiliar no
planejamento fiscal da secretaria, consultores do INDG
estariam tendo acesso a dados considerados sigilosos de
contribuintes de ICMS (pessoas jurídicas), IPVA (pessoas
físicas e jurídicas) e ITCMD (imposto de herança),
segundo a representação. A Fazenda nega a quebra de
sigilo.
O INDG foi a
instituição escolhida para auxiliar o serviço de
planejamento fiscal na Fazenda a partir de convênio de
julho de 2007 entre o governo paulista e o Movimento
Brasil Competitivo (MBC), liderado por grandes
empresários, para desenvolver o projeto "Melhoria de
Resultados no Governo de São Paulo". O objetivo é
aumentar a receita do Estado sem elevar impostos,
reduzir as despesas em R$ 500 milhões, e a evasão
fiscal, em R$ 1,65 bilhão.
Quem contratou o
INDG para fazer o serviço na Fazenda paulista foi o MBC.
O projeto deve durar 25 meses e custar cerca de R$ 8,7
milhões. Esses recursos, segundo informa Fernando
Mattos, presidente do MBC, virão de doações de grupos
privados, como Gerdau, Goodyear, Orsa, Serasa,
Votorantim, e da Fundação Brava.
Em dezembro, os
consultores do INDG pediram de forma mais detalhada
dados de contribuintes referentes aos últimos dois anos
para fazer o trabalho de melhoria na gestão fiscal.
Em e-mail
enviado a servidores da Fazenda, George Tormin,
secretário-adjunto, recomenda: "O CNPJ deve ser
mascarado", o que serviria para evitar a identificação
dos contribuintes. Os fiscais procuraram o Sinafresp,
que decidiu recorrer ao MP porque, apesar de os nomes
dos contribuintes estarem mascarados, eles afirmam que é
fácil identificar as empresas com o cruzamento de
dados.
As informações
encaminhadas revelam, segundo os fiscais, detalhes dos
contribuintes -são dados sobre os setores econômicos em
que atuam, as regiões fiscais onde estão submetidos,
compras e vendas feitas dentro e fora do Estado, débitos
e créditos fiscais, além de impostos devidos e
recolhidos.
"Qualquer pessoa
com dois neurônios consegue identificar um contribuinte
com esse grau de detalhamento. Quantas cervejarias
existem em Itu [SP], por exemplo? Não dou o nome, mas
dou todas as pistas que levam à conclusão de quem é que
está pagando ou não imposto, quem está arrecadando acima
da média do setor ou não. São informações que
privilegiam os concorrentes, sendo repassadas a um grupo
de consultores que trabalha para a iniciativa privada",
afirmou Lauro Kuester Marin, presidente do sindicato. O
que levou também o sindicato a recorrer ao Ministério
Público, segundo seus dirigentes, foi o fato de a
Fazenda não ter informado os servidores sobre o
convênio.
Fonte: Folha de S. Paulo, de
22/03/2008
Fazenda diz que reação é corporativismo
O
secretário-adjunto da Fazenda paulista, George Tormin,
afirma que o sigilo fiscal dos contribuintes está
assegurado e que os consultores do INDG recebem dados
codificados que não permitem a identificação de qualquer
contribuinte. A polêmica vem à tona, segundo diz, em
meio a uma negociação salarial. "Os dados do CNPJ e da
inscrição estadual são mascarados", diz. "Além do mais,
os consultores estão sempre acompanhados por fiscais,
não fazem nada isoladamente. O acesso à base de
informações fiscais é feito somente nas instalações da
secretaria."
A reação dos
fiscais já era esperada, segundo ele, e ocorreu em
outros Estados onde o instituto foi contratado para
desenvolver trabalhos de gestão. "Há um corporativismo
natural e esperado na reação. Em Minas Gerais também foi
assim. É uma posição individualista de quem acha que não
tem mais nada para aprender."
O questionamento
do sindicato, diz Tormin, ocorre em meio a uma
negociação salarial da categoria. "O contrato foi
firmado em julho do ano passado. Mas, agora, há uma
negociação salarial em curso."
Ele explica que
os consultores vão desenvolver uma metodologia na
Fazenda que irá auxiliar nas fiscalizações, com o
objetivo de aumentar a arrecadação, mas que é absurdo
dizer que o planejamento fiscal está sendo
"terceirizado" ou "privatizado".
"Quem vai dizer
qual empresa será fiscalizada, se a fiscalização começa
na empresa da região Norte ou Sul ou naquela que fatura
abaixo ou acima de R$ 100 mil não são eles [do INDG]."
Tormin explica
também que o trabalho de consultoria é "absolutamente
normal" como o que ocorre em empresas privadas e outros
órgãos públicos onde o INDG já prestou e presta
serviços. "Os consultores vão mostrar a metodologia,
aportar conhecimento e mostrar, dentro da base de dados
analisada, as oportunidades para a fiscalização."
O secretário
afirma: "Não há mais espaço para aumento de carga
tributária, os governos precisam de eficiência na
arrecadação. O trabalho do instituto tem como objetivo
ajudar a ser eficiente da porta para dentro".
Além de as
informações disponíveis ao instituto estarem
codificadas, Tormin destaca que o convênio entre o MBC e
o governo prevê, "como qualquer outra relação contratual
e comercial entre duas partes, a confidencialidade e
sigilo nas informações".
"Você acha que o
Jorge Gerdau [presidente fundador do MBC] está
infiltrando espião [na secretaria para ter acesso a
dados de concorrentes]?" (CR e FF)
Fonte: Folha de S. Paulo, de
22/03/2008
"Sigilo fiscal deve ser respeitado", dizem juristas
O apoio e a
experiência da iniciativa privada para ajudar na
contenção de gastos e no aumento de eficiência do Estado
são bem-vindos, na avaliação de juristas consultados
pela Folha. Mas eles afirmam que é preciso preservar os
contribuintes ao fornecer dados fiscais para
consultorias privadas, ainda que seja de forma
codificada.
Para Ives Gandra
da Silva Martins, advogado e professor emérito da
Universidade Mackenzie, não há problema no fato de
governos fazerem parcerias para combater a sonegação
fiscal. "É bom, útil para o governo melhorar a sua
eficiência. O que não pode haver é a revelação da vida
do contribuinte para uma organização privada."
"Os dados só
podem ficar com o fisco, que só pode quebrar sigilo se
houver indícios de sonegação. A Secretaria da Fazenda ou
a Receita Federal não podem passar informações de
contribuintes para qualquer instituição privada", afirma
Gandra Martins. Para Adilson Dallari, professor titular
de direito administrativo da PUC-SP, é "imprescindível
que o Ministério Público faça uma investigação" para
dizer se houve ou não violação do sigilo fiscal. O
trabalho de racionalização para melhorar a gestão e
aumentar a eficácia do Estado, segundo diz Dallari, pode
ser feito sem entrar "na intimidade do contribuinte
Fonte: Folha de S. Paulo, de
22/03/2008
"Instituto ajuda a melhorar a gestão pública"
O Instituto de
Desenvolvimento Gerencial (INDG) informa, por meio de
sua assessoria de imprensa, que foi contratado pelo
Movimento Brasil Competitivo (MBC) para prestar serviços
para o governo do Estado de São Paulo. "O MBC dispõe de
diversos prestadores de serviços, entre eles o INDG,
para a operacionalização de seus projetos."
O programa de
Melhoria de Gestão implementado pelo instituto está
sendo desenvolvido em diversas secretarias do governo,
entre elas, a da Fazenda paulista.
"O INDG não pode
fornecer informações sobre os serviços prestados, pois
tem contrato de confidencialidade com o MBC. O INDG é
uma instituição idônea e ética. Nunca houve qualquer
comprovação de irregularidade dos seus trabalhos."
O INDG informa
ainda que, com o seu trabalho, alguns Estados do país já
conseguiram elevar receitas e reduzir despesas. "No ano
passado, com o auxílio do INDG, o Executivo gaúcho
conseguiu aumentar a receita de ICMS em R$ 622 milhões e
enxugar o custeio em R$ 327 milhões", afirma boletim do
instituto do dia 14 deste mês, no site do INDG.
Já o MBC, uma
associação civil sem fins lucrativos, criado em novembro
de 2001, informa que tem como objetivo principal
viabilizar projetos que buscam o aumento da
competitividade das organizações e da qualidade de vida
da população.
Fernando Mattos,
diretor-presidente do MBC, diz que o programa de
modernização de gestão pública já está sendo executado
em vários Estados -PE, BA, AL, SE, DF, RJ, SP e RS.
Fonte: Folha de S. Paulo, de
22/03/2008