O desembargador
Henrique Nelson Calandra, presidente da Apamagis
(Associação Paulista de Magistrados) e membro do Órgão
Especial do TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo, disse
enxergar com "tristeza" a greve dos policiais civis.
A categoria
começou a fazer paralisações em todo o Estado na última
terça. Anteontem, o comando de greve afirmava ter uma
adesão de 90% das delegacias na capital e de 100% no
restante do Estado. Para o governo, são 30% de adesão na
capital e 40% no interior. Os policiais reivindicam
reajuste salarial imediato de 15%, mais duas parcelas de
12% nos próximos anos (2009 e 2010).
Apesar de
considerar justa a reivindicação salarial, Calandra
disse não concordar com a privação do atendimento à
população -já vítima de tantos problemas com a segurança
pública. O desembargador disse ainda não concordar com
os pedidos de eleição direta para delegado-geral, nem
com o pedido para a prerrogativa de "inamovibilidade"
(os policiais só poderiam ser transferidos de unidade se
concordassem).
Para Calandra, a
eleição de delegado-geral poderia reduzir o poder do
secretário da Segurança e criar uma instituição autônoma
-alheia à política de segurança do Estado. A
transferência de policiais, em alguns casos, é salutar
para o próprio policial, afirma o desembargador. Ele não
concorda, porém, com transferências punitivas.
FOLHA - Como o
sr. vê a greve dos policiais civis em São Paulo?
HENRIQUE NELSON
CALANDRA - Com preocupação, porque segurança pública é
prioridade para todos os povos do mundo. Eu vejo com
muita tristeza o fato de nós chegarmos a um ponto em que
policiais [civis] estão fazendo greve. Porque é
precisamente na mão deles que repousa a tarefa de
polícia judiciária, que é a parte ligada à investigação
de crimes.
Os níveis de
salário dos delegados da polícia são realmente muito
baixos no Estado de São Paulo, diferente do que ocorre
em outros Estados. O que houve foi uma supervalorização
da Polícia Federal, e a polícia estadual acabou ficando
descompassada, acabou ficando num andar abaixo.
Justamente a polícia de São Paulo, considerada a força
mais elitizada do país.
No que se refere
a pagamentos e subsídios, nós ficamos em um patamar
muito inferior na retribuição aos policiais. Espero que
o Poder Executivo encontre uma solução conciliatória
[para a greve].
FOLHA - Acha
justa a reivindicação, mas não a paralisação. É isso?
CALANDRA - Acho
que a paralisação de um serviço essencial, como é a
polícia, acaba impactando de modo negativo na opinião
pública. Porque as pessoas vitimadas pela violência
ficam sem a oportunidade de receber um atendimento por
parte da polícia judiciária. Isso é uma frustração, que
se soma a tantas outras que fazem parte do nosso
cotidiano. Porque o povo tem que encarar organizações
criminosas e violência de toda ordem. Com a greve dos
policiais no Estado, não tem nem a quem se queixar.
FOLHA - Eles
pedem também a eleição para delegado-geral. É justo?
CALANDRA - Toda
aspiração democrática é válida, porque legitima aquele
que dirige. Assim é na eleição do procurador-geral de
Justiça. Só que as coisas ligadas à polícia têm outra
conotação. A força policial está toda estruturada em
função de uma carreira hierarquizada, na qual as ordens
vêm do secretário do Estado, que comanda as polícias. Na
medida em que houver eleição para delegado-geral, haverá
perda do poder de mando do secretário da Segurança
Pública, e a polícia passará a ser comandada por ela
mesma.
Deixa de ser um
órgão de Estado. Poderia haver uma lista tríplice, como
ocorre no Ministério Público, na qual o governador
escolhe o nome, mas tenho minhas dúvidas da eficácia
disso para a organização da atividade policial.
FOLHA - E o
pedido dos policiais para a "inamovibilidade"?
CALANDRA - A
transferência punitiva e a transferência por transferir
têm sido obstadas pelo Judiciário, já faz um longo
tempo, para qualquer categoria de funcionários. Agora,
haverá situações em que transferir o policial faz parte
da dinâmica da própria investigação. Haverá policiais
que não conseguem desvendar certos crimes. Só mesmo
substituindo, removendo ele para outra localidade onde
não seja tão conhecido é que vai ser possível ao
policial ter maior capilaridade com certos segmentos que
podem trazer informações para desvendar crimes. Imagine
o policial que não pode ser transferido. Um policial
ameaçado de morte, que insiste em ficar em determinado
lugar. Vão deixar ele lá até ser morto ou vão mudá-lo
para outra região do Estado, onde ele possa ter maior
tranqüilidade?
Fonte: Folha de S. Paulo, de
21/09/2008
Em 13 Estados, choque de gestão já
reverte em dividendo político
Os governos
estaduais começam a descobrir que a qualidade na gestão
dos recursos públicos e do pessoal pode render
dividendos políticos. Em pelo menos 13 Estados avançam
reformas que resultaram em mudanças de mentalidade,
redução de gastos e melhor atendimento ao cidadão. Os
cenários são variados. Em Minas, a figura do barnabé,
apelido pejorativo do funcionário público que acumula
tempo de serviço, perde espaço para o servidor que
trabalha em equipe, persegue metas e recebe prêmios. Em
São Paulo, ocupantes de cargo de confiança se submeterão
a provas de certificação e o Espírito Santo, antes em
falência, hoje é investidor.
Por decreto do
governador Aécio Neves (PSDB), baixado em agosto, Minas
remunera por desempenho o conjunto de servidores. Dos
321.133 funcionários estaduais, 240 mil receberam neste
mês prêmio por terem atingido resultados superiores a
60% das metas. O valor chega a 90% da remuneração
mensal.
Ficaram de fora
secretários, dirigentes de fundações e autarquias e
servidores terceirizados. Neste ano, a premiação é feita
por área, como saúde e educação. "No ano que vem o
prêmio será por equipe", diz Aécio. O plano fixa metas
de curto, médio e longo prazos, em um planejamento para
20 anos.
Em São Paulo,
uma das apostas de José Serra (PSDB) é a certificação
para cargos de confiança. Uma instituição avaliará a
competência de 91 dirigentes regionais de ensino, 17
dirigentes de saúde e 38 diretores de hospitais e
instituições de pesquisa. Quem for reprovado terá de se
submeter a um curso de capacitação e a nova prova. Se
não passar, será exonerado. A meta é certificar 2 mil
dos 12 mil comissionados.
Em ação
paralela, o governo paulista enxugou 15% dos cargos em
comissão (4.218 vagas), com economia anual de R$ 64,8
milhões. Com o Programa de Melhoria de Qualidade da
Gestão Pública, entre maio e junho foram economizados R$
115 milhões - a meta é cortar R$ 500 milhões por ano. A
pasta da Educação foi a primeira a adotar o plano de
metas e pagamentos por resultados. Por fim, Serra
estabeleceu contratos com pagamento vinculado a metas.
SALTO
Em 2003, o
governo do Espírito Santo devia três folhas de
pagamento, ou quase R$ 1,5 bilhão, para fornecedores e
tinha a empresa de saneamento hipotecada ao Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
por causa de dívidas. Após um pacote de medidas
adotadas, a arrecadação passou de R$ 2,4 bilhões,
naquele ano, para R$ 5,4 bilhões, em 2007. A capacidade
de investimento saltou de 1% para 16%. Há prêmio para
atitudes empreendedoras e 2 mil servidores já passaram
por cursos.
Na Paraíba, o
tucano Cássio Cunha Lima recadastrou os 100 mil
servidores e reduziu em 30% os cargos comissionados.
Saiu de um déficit de R$ 37 milhões e, no fim do ano
passado, tinha R$ 265 milhões em caixa. Alagoas também
apertou o cinto para superar o déficit de R$ 364,4
milhões acumulado entre 2003 e 2006. Houve corte de
salários e gastos, demissão de comissionados e
auditorias. Das 46 secretarias, restaram 17. Em 2007,
teve superávit de R$ 188,2 milhões.
ESTRATÉGIA
"O caminho da
gestão é a forma de fazer o dinheiro público sobrar e
gerar receitas adicionais, uma vez que a carga
tributária bateu no teto", diz o empresário Jorge Gerdau
Johannpeter, criador da organização não-governamental
Movimento Brasil Competitivo e difusor da idéia, que
espalhou por Estados e municípios, de que "um bom
político é também um bom gestor".
O governador de
Sergipe, Marcelo Déda (PT) confessa que tinha
preconceito com a idéia de levar a gestão empresarial à
administração pública: "Achava conversa de empresário,
inadaptável à minha visão ideológica." Um ano após
aderir ao programa de gestão com qualidade, porém, ele
expõe o saldo do primeiro quadrimestre deste ano e
comemora aumento da receita de 32,2%, ante a queda de
18,5% nas despesas. A principal aposta foi no
enxugamento de gastos.
ON LINE
O governo de
Mato Grosso decidiu aplicar o programa Modernizando a
Gestão Pública, em parceria com o MBC e a Federação das
Indústrias do Estado. Os resultados, incluindo redução
de despesas de R$ 200 milhões e aumento de R$ 400
milhões na receita, são esperados em 17 meses. O governo
já adotou um sistema que permite o controle on line de
todas as despesas.
O Paraná atendeu
a 450 servidores com o programa de qualificação Escola
de Governo. A professora Rosemeire Aparecida Betiati se
inscreveu no primeiro curso de pós-graduação em gestão e
formulação de políticas públicas, oferecido em 2006.
"Representou um avanço na carreira", avalia. Seu
trabalho de conclusão do curso foi um dos selecionados
para apresentação no Congresso Nacional de Gestão
Pública, em maio, em Brasília.
Fonte: Estado de S. Paulo, de
21/09/2008
Máfia vende CNHs a motoristas de
SP
A máfia das CNHs
vendeu carteiras de habilitação expedidas pela sede do
Departamento Estadual de Trânsito (Detran) a motoristas
de São Paulo. As suspeitas atingem quase 40% das 800
auto-escolas e centros de formação de condutores (CFC)
da capital. Ao todo, estão sob investigação 15.224
carteiras emitidas em 2007 na Circunscrição Regional de
Trânsito (Ciretran) de São Paulo, sob controle direto do
Detran. Elas foram feitas com o uso de apenas 1.947
impressões digitais - cada vez que alguém tira uma CNH,
é obrigado a registrar a impressão digital em leitor
eletrônico, pelo chamado sistema de biometria. Na pior
fraude, uma única digital foi usada por 1.341
candidatos.
Só com o golpe
das digitais, a máfia pode ter lucrado até R$ 15
milhões, pois cada carta era vendida por R$ 500 a R$ 1,2
mil. A existência do esquema havia sido revelada à
reportagem em junho por delegados e despachantes. Na
semana passada, o Estado teve acesso à íntegra do
levantamento feito pela Companhia de Processamento de
Dados do Estado (Prodesp) a pedido do Detran sobre as
fraudes na biometria.
O documento
integra o Inquérito 314/08. Aberto no Detran, ele ainda
não levou a indiciamentos. Coincidentemente, foi
instaurado em 2 de junho, um dia antes de ser deflagrada
a Operação Carta Branca, que pôs na cadeia 19 acusados
de fraudes na Ciretran de Ferraz de Vasconcelos. A
reportagem constatou nesta semana que a venda de
facilidades para obter uma CNH em São Paulo segue a todo
vapor.
Os casos
detectados pela Prodesp tratam das 15,2 mil carteiras -
primeira habilitação - suspeitas de 2007 e envolvem 310
auto-escolas e CFCs. Desta vez, a maioria dos candidatos
que tiraram a carteira fraudulentamente é de pessoas que
têm CPF expedido em São Paulo. Até então, a maior parte
dos beneficiados era de motoristas de outros Estados. Em
cinco casos, uma mesma digital foi usada para registrar
no Detran mais de 500 candidatos.
430 ANOS
Dois meses
depois de instaurado o inquérito, a 2ª Delegacia de
Acidentes de Trânsito, incumbida pela direção do Detran
de apurar a fraude, só havia resolvido intimar os donos
de 24 auto-escolas e um CFC, mas só três deles e três
motoristas supostamente beneficiados foram ouvidos até
30 de julho. Todos alegaram inocência. Nesse ritmo, a
polícia deve demorar 430 anos só para ouvir todos os
donos de carteiras e de auto-escolas e CFCs. Para
acelerar a apuração, o Detran criou uma força-tarefa.
"A fraude é tão
grande que será difícil apurar as responsabilidades de
todos os envolvidos antes que ocorra a prescrição dos
crimes, até porque não há gente suficiente para apurar,
denunciar e julgar essas pessoas", disse um delegado.
Segundo ele, o sistema de biometria é só um dos
problemas no Detran. "Como a artilharia, ali tem fraude
de todo calibre."
Fonte: Estado de S. Paulo, de
21/09/2008
Venda de CNHs ocorre em 46
cidades
A máfia da venda
de carteiras de habilitação atua em pelo menos 46
municípios de São Paulo. Um levantamento sobre a fraude
no registro de biometria dos candidatos a motorista
mostra que, além das 310 auto-escolas e centros de
formação de condutores da capital sob investigação, como
revelou o Estado ontem, outros 433 são suspeitos de
terem participado das irregularidades no litoral e na
região metropolitana, onde se concentra a ação da
quadrilha.
A extensão e o
tamanho do esquema são de conhecimento da cúpula da
Polícia Civil desde fevereiro, mas se manteve em segredo
a verdadeira dimensão do problema, como o fato de a
fraude atingir em cheio o sistema de concessão de CNHs
na cidade de São Paulo. Só quatro meses depois, em
junho, com a Operação Carta Branca, é que delegados de
trânsito foram afastados e providências para evitar
novas fraudes foram tomadas. Até agora, ninguém foi
responsabilizado.
A lista das
Circunscrições Regionais de Trânsito (Ciretrans) sob
suspeita é de 46, assim como o das cidades, um número
muito maior dos que as 14 que tiveram seus diretores
afastados em junho, por decisão do governo, depois que
surgiu o escândalo da venda de carteiras. A descoberta
da fraude no sistema de biometria se deve a um delegado:
Rafael Rabinovici.
Foi ele quem
pediu à Companhia de Processamento de Dados do Estado de
São Paulo (Prodesp) que fosse feito o levantamento sobre
o uso de uma mesma digital para o registro de mais de um
candidato a motorista. Em 12 de fevereiro, Rabinovici
entregou à direção do Detran a lista das 743
auto-escolas sob suspeita no Estado. Também listou as
CNHs sob suspeita em cada região da Grande São Paulo, do
litoral e da capital - 14 regiões e 46 cidades. O Estado
teve acesso aos dados das regiões de Mogi das Cruzes e
da capital. Nelas, a suspeita atinge 24.798 CNHs -
15.224 na capital e 9.574 de Mogi.
Em 27 de
fevereiro, foi a vez de o diretor do Detran, Ruy
Estanislau Silveira Mello, informar os então diretores
da Divisão de Crimes de Trânsito, Nelson Silveira
Guimarães, e da Corregedoria do Detran, Francisco
Norberto Rocha de Moraes - afastado do cargo depois de a
Operação Carta Branca 1 descobrir que policiais da
Corregedoria haviam achacado integrantes da máfia das
CNHs na Ciretran de Ferraz de Vasconcelos. Mas o
inquérito sobre as fraudes só seria instaurado em 2 de
junho, um dia antes da Operação Carta Branca.
Nem o governador
José Serra (PSDB) nem o secretário da Segurança Pública,
Ronaldo Bretas Marzagão, quiseram ontem comentar a
fraude.
Fonte: Estado de
S. Paulo, de 22/09/2008
Compra de
precatório diminui carga tributária de empresas
A arrecadação
fiscal bate recordes mensais. O ICMS é o maior imposto
do país, aumentando dia-a-dia a substituição tributária
que já turbina o aumento dos preços dos produtos e a
arrecadação dos estados. Fontes informam aumento de
77,34% na arrecadação este semestre, fruto desta nova
forma de aumento de impostos. São Paulo teve alta de
20,58%. Mato Grosso, 25%. O Rio Grande do Sul não
informa, mas a previsão é que seja superior a 25%. As
empresas reclamam e repassam o prejuízo nos preços dos
produtos. Mais uma vez é o povo quem paga a conta!
Com tudo isso,
os estados continuam com a política colonial de abusar
do poder de tributar e cobrar ferozmente, enquanto
escraviza seus próprios servidores. Não concede seus
reajustes legais e obriga-os, assim, a recorrer à
Justiça por anos a fio, para, ao final, colocar em suas
mãos um precatório que há dez anos não é pago,
descumprindo todas as leis pátrias e criando um passivo
impagável.
Esta questão não
diz respeito somente aos servidores. É uma cadeia
interligada de fatores que gera um desfalque na economia
nacional. A má destinação da verba pública e o eterno
desrespeito às leis pelos entes públicos (caloteiros
contumazes) atrasam o desenvolvimento do país.
Como toda ação
gera uma reação, o mercado, agonizando com a carga
fiscal confiscatória, os servidores, morrendo sem
receber, e o próprio Estado, criando leis de compensação
(vide leis de vários estados, em vigor e revogadas) para
se livrar da dívida sem perder arrecadação, criaram o
mercado de compra e venda de precatórios com deságio
para pagamento de ICMS.
Como este
mercado cresceu substancialmente, muitos estados
coloniais revogaram suas leis que autorizavam a
compensação. Até então se pagava um bom preço para os “precatoristas”.
Em 2004, começou uma nova via-sagra no Judiciário para
pacificar a garantia de penhora e depois a compensação.
Em 2006, com a ADI 2.851, o Supremo Tribunal Federal, no
seu Pleno, assim decidiu: "A compensação de precatórios
com dívidas fiscais é um direito constitucional do
contribuinte".
Foi pacificada
também que a cessão é um direito de propriedade
indiscutível, e que a quitação com precatórios não
quebra a ordem cronológica do artigo 100 da Constituição
Federal, já que não há pagamento, mas encontro de
contas. E este encontro reduz a “fila”, ajudando o
Estado a solucionar o grave problema social criado com
uma década de calote.
O uso do
precatório como ativo fiscal
O encontro entre
pensionista, empresa, Judiciário e Estado é a
alternativa encontrada pela sociedade contra o calote
público. O precatório transformou-se no único ativo
fiscal capaz de diminuir a carga tributária das
empresas. Uma operação com precatório pode reduzir o
valor gasto com impostos em até 60%. Esta quantia fica
no caixa da empresa. Se ela paga R$ 1 milhão por mês de
ICMS, com a operação de precatório, paga R$ 400 mil e
fica com R$ 600 mil no caixa. O dinheiro fica na empresa
no ato da operação.
Toda a operação
é feita no Judiciário e a discussão vai até as Cortes
Superiores, vez que o Estado recorre em todas as
instâncias. Nem mesmo pagando dívida com dívida o Estado
aceita pagar. Felizmente, a cada dia, maior parte do
Judiciário tem decidido de forma constitucional,
demonstrando a independência e busca do aprimoramento do
Estado de Direito.
A cada nova
decisão judicial favorável, o deságio dos precatórios
diminui, beneficiando os servidores. O precatório vira
um ativo para a empresa e o Estado diminui a sua dívida,
em vez de investir em obras faraônicas com a finalidade
de obter lucro e votos.
Com a diminuição
da carga tributária, a empresa aumenta o fluxo de caixa
e tem condições de investir no crescimento do negócio.
Diante do contexto nacional, em que o investimento
privado é responsável pelo seu desenvolvimento, quanto
mais recursos para aplicar em crescimento, melhor para o
mercado, para o Estado e para a população, que terá
produtos barateados e geração de empregos.
Este lucro
chamado de “capital tributário” gera vantagem
competitiva tanto no mercado nacional, quanto no
internacional. A tendência das empresas é crescer,
vendendo mais, comprando equipamentos, gerando empregos
e fazendo operações de aquisição de concorrentes.
Enquanto isso, a população beneficia-se ao ter um
produto mais barato. A competição no mercado a partir da
utilização deste recurso legal, extremamente social, é
saudável e deve ser obtida por todo gestor que queira
ganhar maior resultado.
Nelson
Lacerda: é advogado e diretor-presidente da Lacerda e
Lacerda Advogados Associados.
Fonte: Conjur,
de 21/09/2008
Juíza determina
recomposição de salário de aposentada
A falta de
oportunidade para ampla defesa e o contraditório é
motivo suficiente para reverter decisão que reduziu os
rendimentos de um servidor. O entendimento é da juíza da
5ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal, em
decisão liminar, que mandou o estado restabelecer o
pagamento dos proventos de uma servidora aposentada, em
conformidade com o valor que recebia na última
remuneração da ativa. Cabe recurso.
No entendimento
da juíza, se não fosse restabelecido o pagamento sem os
descontos, a autora poderia suportar expressiva redução
em seus proventos ou teria de aguardar a ordem dos
precatórios para receber, em restituição, os valores
devidos.
A juíza afirmou
que, de fato, a jurisprudência majoritária entende pela
necessidade de observância do contraditório e da ampla
defesa, sempre que o ato administrativo puder ocasionar
prejuízo ao servidor. Para a juíza, a decisão
administrativa que resultou na redução dos proventos de
aposentadoria da autora não foi antecedida da necessária
oitiva e da participação da servidora.
A funcionária
pública aposentada argumentou que o Distrito Federal
reviu o cálculo dos seus proventos com base na Lei
10.887/2004. Sustentou que essa lei é inconstitucional,
já que não compete à União legislar sobre proventos de
aposentadoria dos servidores do Distrito Federal. Disse
que o DF, ao implantar o desconto nos seus proventos,
não lhe concedeu o direito ao contraditório e à ampla
defesa.
Fonte: Conjur,
de 21/09/2008
Governador do MS
questiona no Supremo leis que efetivam servidores sem
concurso
O ministro
Joaquim Barbosa é o relator da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI 4143) ajuizada pelo
governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli,
contra artigos de duas leis estaduais – 2.065/99 e
1.102/90 –, que conferem cargos públicos efetivos a
servidores não-concursados.
A ação se baseia
nos princípios da Administração Pública explicitados na
Constituição de 1988 no que diz respeito à exigência de
aprovação em concurso público de provas ou de provas e
títulos como única forma originária de provimento de
cargo efetivo (artigo 37, II). É prevista, inclusive, a
nulidade de qualquer ato contrário e a punição às
autoridades que não observarem a regra.
Puccinelli
argumenta, na ação, que as duas leis estaduais foram na
direção contrária à Constituição. O artigo 5º da Lei
2.065/99 diz que o servidor “poderá ser designado para
ocupar outra função que integre a sua categoria
funcional, desde que fique comprovado que está
habilitado ou capacitado profissionalmente para exercer
as atribuições da nova função” (parágrafo 4º). Ela abre,
no artigo 52, um “quadro suplementar e especial” para
ocupantes dos cargos de provimento em confiança de
agente fazendário e de assessores especializados. Esses
servidores ganharam os mesmos direitos e vantagens,
deveres e obrigações previstos na legislação do regime
jurídico estatutário.
A segunda lei
impugnada transforma em suplementar o quadro provisório
do estado, criado por lei em 1986. Todos os servidores
desse quadro também são regidos pelo regime estatutário,
segundo o artigo 302 da Lei 1.102/90.
O governador
denunciou, ainda, a existência de ascensão funcional,
reenquadramento, transformação e transposição de cargos
para níveis mais elevados – procedimentos também vedados
por serem considerados investidura derivada em cargo
público. A ADI relata "que os atos praticados não foram
de simples designação para o exercício do cargo e/ou
função, mas sim de verdadeira investidura derivada em
cargo público”.
No entendimento
de Puccinelli, é patente a afronta direta aos
dispositivos da Constituição Federal: “Não se observou a
obrigatoriedade de aprovação prévia em concurso público
de provas ou de provas e títulos; nem a de submissão do
servidor ao estágio probatório para fins de declaração
de estabilidade no serviço público; nem a dos servidores
declarados estáveis no serviço público submeterem-se ao
concurso de efetivação”.
No pedido
liminar, o governador pede a suspensão, com efeitos
retroativos, da eficácia do parágrafo 1º do artigo 52 e
parágrafo 4º do artigo 5º, ambos da Lei estadual
2.065/99, e do parágrafo único do artigo 302 da Lei
1.102/90, do Mato Grosso do Sul.
Fonte: site do
STF, de 22/09/2008
É chegada a hora
de democratizar a gestão da PGF
A tramitação do
projeto de lei que cria algumas dezenas de cargos de
Direção e Assessoramento Superiores (DAS’s) no âmbito da
AGU, contemplando inclusive a estruturação da
Procuradoria Geral Federal (PGF) dispara expectativas
quanto aos futuros provimentos, atiça a cobiça de
pretendentes ostensivos ou incógnitos e inspira manobras
sigilosas. Ora, a moralidade administrativa impõe que os
órgãos e entes públicos sejam conduzidos com
transparência e sem qualquer forma de favoritismo.
A atual direção
da PGF, em recorrente uso do poder discricionário, vem
informalmente distribuindo e permitindo que se o faça
nos seus órgãos de execução, estratégicas funções e
inoficiosos cargos, de forma anti-democrática, sem
consulta aos pares, sem diálogo, for-mando uma casta
(talvez catastrófica!) de procuradores federais ungidos
pelo hermetismo das preferências que o poder
discricionário encobre e disfarça. Aqui, uma advertência
deveria inspirar as próximas decisões do ministro
Tóffoli quanto à modelação democrática da PGF: “quanto
maior o poder, mais perigoso é o abuso”.
É chegada a hora
de democratizar a gestão da PGF, com o modelo
republicano e democrático da nova mentalidade que anima
a AGU, compromisso de posse do ministro José Antonio
Dias Tóffoli. Queremos que seja estendida à PGF, por
ocasião do “provimento” dos novos cargos, a mesma
consulta eletiva que ora se faz na Procuradoria-Geral da
União, através do Edital 001/20008, que pode ser
aperfeiçoado em seus critérios objetivos e aferíveis,
com alternância bienal, entre outros, e obedecidos os
princípios republicanos e constitucionais da
impessoalidade e da moralidade administrativas, de
acordo com o artigo 37 da Constituição Federal.
Há pouco o
Supremo Tribunal Federal sepultou o nepotismo, mas esta
era apenas um das formas do favoritismo, gênero que
comporta outras práticas na condução dos órgãos e
entidades públicas. Ora, não pode persistir o provimento
de cargos em comissão ao impulso livre, incontrastável,
quase obsceno, do poder discricionário. Esse poder de
nomear a quem queira contempla, com polpudas
gratificações, os íntimos, diletos amigos, colegas de
turma, os conterrâneos, os fiéis escudeiros, os
sacrificados, enfim, uma vasta e criativa lista que
compõe as famosas equipes de certas cúpulas diretivas,
superiores e intermediárias. A falta de critérios
objetivos e aferíveis, para tais nomeações, de chefes e
coordenadores, entre outros cargos e funções
eminentemente técnicas — como os que ora se destinam à
PGF — termina por ensejar as tentações do favoritismo
que rondam os gabinetes e apressam os atos de nomeação.
Daí, a
conclamação sincera aos procuradores federais, os que
não são consultados, os que sofrem preterições
sistemáticas, os que são desconsiderados por serem os
mais jovens, ou os mais antigos, por criticar as
inversões que se articulam, ou por não se reunir em
confraria, ou por não vestirmos a camisa das novas
equipes; enfim, unamo-nos, todos, que consideramos
odiosa a discriminação de colegas e a divisão de
gerações, os que reivindicamos regras democráticas e
impessoais para a escolha dos dirigentes.
Vamos abrir os
olhos da vigilância e levantar a voz da denúncia! A
sociedade pode querer uma advocacia pública mais
impessoalmente dirigida, mais democraticamente
organizada. Quem sabe, o Ministério Público Federal,
guardião invicto da República (dos seus princípios que
não podem ser postergados ardilosamente), queira
averiguar as práticas e, quem sabe, pugnar por mudanças.
José
Rodrigues da Silva Neto: é procurador federal na 5ª
Região e mestrando em Direito pela UFPE.
Fonte: Conjur,
de 22/09/2008