A ampliação dos
setores sujeitos ao pagamento do ICMS pelo regime de
substituição tributária, adotado pela Secretaria da
Fazenda paulista a partir de fevereiro deste ano, vai
reduzir o crédito do imposto que os consumidores terão
direito nas compras feitas em estabelecimentos
comerciais situados no Estado de São Paulo.
Isso ocorrerá
porque entre as várias situações em que não há direito
ao crédito está justamente a compra de produtos sujeitos
ao regime de substituição tributária -sistemática em que
o ICMS é pago antecipadamente pelo fabricante, e não
mais em cada etapa da cadeia de circulação do produto
(indústria, atacado e varejo).
Até o final de
2007, diversos setores da economia paulista já pagavam o
ICMS por aquela sistemática: automóveis, combustíveis,
refrigerantes e cervejas, cigarros, tintas e vernizes,
cimento, pneus e sorvetes.
A partir de
fevereiro, entraram na lista da substituição tributária
os medicamentos, bebidas alcoólicas, produtos de
perfumaria e de higiene pessoal. Em abril foi a vez dos
artigos de limpeza, rações para animais, produtos
fonográficos, autopeças, pilhas e baterias, lâmpadas
elétricas e papel. Neste mês, entram os produtos
alimentícios e os materiais de construção e congêneres.
Segundo o
Programa de Estímulo à Cidadania Fiscal, criado em
agosto do ano passado pelo governo paulista, os
consumidores passaram a ter direito de receber de volta
até 30% do valor do ICMS embutido no preço dos produtos
comprados em estabelecimentos comerciais localizados no
Estado.
Para ter direito
ao crédito, é preciso uma série de coisas: que o
estabelecimento esteja cadastrado no programa, que o
consumidor peça a nota fiscal ou cupom fiscal na hora da
compra (para isso terá de fornecer o número do CPF, se
pessoa física, ou o do CNPJ, se empresa optante do
Simples Nacional), que o estabelecimento vendedor
transmita as notas/cupons à Secretaria da Fazenda, que
recolha depois o imposto devido (para isso precisa ter
saldo devedor -e não credor) e que o consumidor se
cadastre no site do programa e indique uma das várias
formas para receber o crédito.
Como hoje muitos
setores estão enquadrados no regime da substituição
tributária, são poucas as possibilidades de compras no
dia-a-dia que gerarão direito ao crédito.
Poucas opções
Segundo o
contabilista Richard Domingos, diretor-executivo da
Confirp Consultoria Contábil, entre as poucas opções
estão as compras em lojas de roupas, de calçados, de
tecidos e de alguns eletroeletrônicos. "Mas não é todo
dia que as pessoas fazem essas compras."
Uma compra em
supermercados e hipermercados também gera o crédito. Só
que, conforme os produtos comprados, pode ser que o
consumidor não tenha direito a nada. Seria o caso, por
exemplo, de ele comprar produtos de higiene e limpeza,
alimentos industrializados, refrigerantes, cervejas,
vinhos, lâmpadas, sorvetes, CDs etc.
Segundo Newton
Oller, diretor-adjunto de fiscalização da Secretaria da
Fazenda paulista, ainda é cedo para dizer qual o valor
do crédito a que os consumidores terão direito. Para
ele, somente ao final deste semestre, quando serão
calculados os créditos referentes às compras de janeiro
a junho, é que será possível ter idéia mais precisa dos
valores a serem devolvidos.
Ele diz que os
valores devem crescer com as compras a partir de abril,
quando os mini, super e hipermercados passaram a fazer
parte do programa. Para Oller, os créditos do último
trimestre de 2007, que começaram a ser devolvidos em
abril, não servem de parâmetro.
Segundo ele,
cerca de 509 mil contribuintes terão direito de receber
R$ 760 mil em créditos referentes às compras entre
outubro (primeiro mês do programa) e dezembro. O baixo
valor do crédito individual (cerca de R$ 1,50 por
consumidor), diz Oller, deve-se aos poucos
estabelecimentos inscritos no programa, ao reduzido
número de consumidores que exigiram as notas e às
compras feitas durante apenas um trimestre.
Oller diz que
uma alteração feita pela Fazenda na forma de
distribuição do crédito vai aumentar os valores
devolvidos aos consumidores. Pela sistemática original,
do ICMS recolhido pelo estabelecimento, 30% seriam
rateados entre todos os consumidores, tivessem eles
informado o CPF/CNPJ ou não no momento da compra.
Pela nova
sistemática, o valor a ser distribuído será dividido
apenas entre os consumidores que efetivamente informarem
o CPF/CNPJ. "Isso servirá de incentivo para que os
consumidores não deixem de informar o número do
documento."
Fonte: Folha de S. Paulo, de
18/05/2008
Indústria farmacêutica financia ONGs
Pelo menos nove
entidades brasileiras de defesa de doentes são
financiadas por fabricantes de remédios, revela um
estudo recém-concluído da ONG (organização
não-governamental) americana Essential Action.
Uma entidade que
representa pacientes com linfoma e leucemia (tipos de
câncer) com sede em São Paulo, por exemplo, recebeu R$
1,5 milhão de oito multinacionais no ano passado -60% do
orçamento total.
O documento
afirma que a relação financeira pode fazer com que
"entidades aparentemente independentes" deixem de lado
os interesses dos pacientes e adotem uma agenda
"consoante com as prioridades da indústria".
No Brasil, os
dois lados admitem a transferência de dinheiro, mas
negam que isso interfira na independência das entidades
de pacientes.
Para chegar à
conclusão, a Essential Action, que se dedica a estudar a
saúde pública, analisou um manifesto internacional a
favor da manutenção do sistema de patentes de remédios.
Das 110 entidades de doentes que assinam o documento, 61
têm ligação com a indústria farmacêutica ou com
fabricantes de equipamentos médicos, segundo a ONG.
Nesse manifesto,
os pacientes seguem o discurso dos laboratórios, que são
contrários à licença compulsória de patentes. Esse
expediente, que acaba com o monopólio da fabricação, é
adotado quando o governo de um país pobre entende que
está pagando muito caro por certas drogas.
O manifesto foi
remetido à OMS (Organização Mundial da Saúde), que há
dois anos estuda mudanças no sistema de proteção de
patentes -incluindo a licença compulsória- e criou um
grupo de trabalho intergovernamental para analisar
formas de ampliar o acesso da população a medicamentos.
O texto final
deve ser votado nesta semana, durante a Assembléia
Mundial da Saúde. Se aprovado, a OMS poderá dar
assistência a países que queiram quebrar patentes.
Países
emergentes, como o Brasil, e fabricantes de genéricos
pressionam para que o documento seja aprovado. Já
multinacionais farmacêuticas tentam impedir o acordo.
Das 61 entidades
signatárias que mantêm relações com a indústria, nove
são brasileiras. Elas defendem hemofílicos, diabéticos e
pacientes com câncer e hepatite.
Jim Donahue, um
dos responsáveis pelo estudo da Essential Action, diz
que o problema não está propriamente no financiamento
farmacêutico, mas no fato de essa relação não ser
tornada pública. "As entidades precisam revelar quem são
seus financiadores, que interesses estão defendendo,
deixar as coisas claras", defende.
O presidente do
Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde),
Osmar Terra, lembra que o milionário mercado de
medicamentos é movimentado em grande parte pelas compras
dos governos.
"É natural que
se forme um lobby. O problema é que a indústria usa
algumas associações de doentes para pressionar [o
governo a comprar remédios]. Não há ninguém melhor que o
doente para ser a vítima", afirma Terra, que também é
secretário de Saúde do Rio Grande do Sul.
O estudo da
Essential Action chegou à OMS, na Suíça, no início deste
mês. Segundo a farmacêutica Gabriela Costa Chaves, do
grupo de trabalho brasileiro sobre propriedade
intelectual, a revelação causou "surpresa" na equipe.
"Agora estamos
triplamente atentos. A questão do conflito de interesse
é muito sensível quando a gente lida com medicamentos. O
debate é polarizado. Você tem que definir de que lado
está. Se recebe recursos da indústria, essa discussão
está contaminada", afirma.
Para o
pesquisador Mario Scheffer, as ONGs têm autonomia para
fazer as parcerias que desejarem, mas devem permanecer
isentas. "É muito complicado que uma ONG que orienta os
pacientes a ingressar com ação judicial para reivindicar
um medicamento novo ou que atua junto ao governo para a
introdução do remédio no SUS seja financiada pela
indústria que fabrica esse remédio."
Fonte: Folha de S. Paulo, de
18/05/2008
Entidades dizem manter independência
As organizações
de pacientes confirmam que recebem recursos da indústria
farmacêutica, mas dizem que essa relação não atrapalha
sua independência.
"A gente quer
que o paciente tenha acesso ao que for melhor para ele.
Damos a informação mais límpida possível, baseada em
critérios técnicos, de uma equipe de médicos e advogados
renomados", diz Marília Casseb, da ABCâncer (Associação
Brasileira do Câncer).
Ao menos 70% do
seu orçamento anual, de R$ 936 mil, vem de cinco
laboratórios. "Só dão o dinheiro. Não somos agentes da
indústria para vender medicamentos."
A Abrale
(Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) recebeu no
ano passado R$ 1,5 milhão de oito laboratórios. "Não há
nenhuma contrapartida", afirma Merula Steagall,
presidente da associação.
A Abrale oferece
advogados para que os doentes consigam remédios do
governo pela Justiça. São 400 ações por ano. Além do
doente, a indústria farmacêutica se beneficia quando a
decisão judicial é favorável. "A indústria não financia
esse serviço [jurídico]", afirma Steagall.
A ADJ
(Associação de Diabetes Juvenil) tem parceria com 40
empresas de medicamentos e alimentos. A ajuda, segundo a
entidade, restringe-se ao apoio a eventos e publicações
e significa 50% do orçamento. A outra metade vem de
pacientes e familiares. "Não recebemos um tostão de
verba governamental", diz o diretor institucional da ADJ,
Sérgio Metzger.
O mesmo
argumento de isenção e ética é usado por Maria Cecília
Magalhães Pinto, do Centro dos Hemofílicos do Estado de
São Paulo, e Tânia Maria Onvi Pietrobelli, da Federação
Brasileira de Hemofilia.
Carlos Varaldo,
presidente do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de
Hepatite, diz que sua entidade não recebe diretamente de
laboratórios. O dinheiro vai para um grupo de entidades
da qual faz parte. Para ações de conscientização que
serão feitas amanhã em todo o país, no Dia Mundial da
Hepatite, o grupo recebeu cerca de R$ 180 mil de cinco
empresas.
"Que congresso
médico não tem o apoio da indústria farmacêutica? Que
pesquisa não tem o apoio da indústria farmacêutica?",
argumenta ele.
Em relação às
discussões sobre a licença compulsória de patentes de
remédios, as entidades dizem que o manifesto do qual
foram signatários pede mais discussões, não o fim da
licença compulsória.
"Eu, inclusive,
sou favorável ao licenciamento compulsório", diz Metzger,
da ADJ. "A indústria passa anos desenvolvendo um remédio
e de repente perde a patente. Não vai mais investir em
novos produtos", afirma Stella de Carli, da Lágrima
Brasil, que representa pacientes com uma síndrome que
afeta a produção de lágrimas.
"A indústria
farmacêutica "ética" tem prestado um grande trabalho aos
avanços na pesquisa científica e diretamente aos
pacientes", afirma Maira Caleffi, da Femama (de apoio às
pacientes com câncer de mama). "Se fosse pelo
investimento do governo em pesquisas, estaríamos na
época da sangria e dos chás de ervas", critica Varaldo,
do Grupo Otimismo.
A Folha não
conseguiu entrevistar Cândida Carvalheira, presidente da
Associação Brasileira de Ostomizados. (
Fonte: Folha de S. Paulo, de
18/05/2008
Fabricante de remédio nega interferência
A indústria
farmacêutica não vê conflito de interesses entre o fato
de associações de pacientes serem financiadas por
laboratórios e, ao mesmo tempo, apoiarem causas
defendidas por essas instituições, como a questão das
patentes.
Para Gabriel
Tannus, presidente da Interfarma (Associação da
Indústria Farmacêutica de Pesquisa), as organizações de
pacientes têm responsabilidade e autonomia suficientes
para separarem a ajuda financeira dos interesses dos
doentes que representam.
"Algumas ONGs
também recebem dinheiro do governo. Se receber dinheiro
da indústria representa um conflito, então também
haveria conflito com as ONGs que recebem dinheiro do
governo e defendem seus pontos de vista", argumenta.
Na opinião dele,
a questão das patentes de medicamentos também é de
interesse dos pacientes. "Não houve iniciativa da
indústria em promover esse debate [sobre a proteção às
patentes de remédios] com pacientes. Mas, quando eles
vêem as ameaças que existem, como o licenciamento
compulsório, eles sabem que, se não cuidarem, vão pagar
a conta."
Tannus defende a
relação de parceria dos laboratórios farmacêuticos com
as associações de pacientes. "É legítima, mas tem que
existir a preocupação em definir qual o escopo de ajuda
e que tudo seja feito com transparência."
Segundo ele, nos
últimos anos, as indústrias têm divulgado o destino de
suas contribuições financeiras para as associações de
pacientes. "O nosso código de conduta não proíbe que as
companhias ajudem as ONGs. Partimos do princípio de que
as associações de pacientes foram criadas com a
finalidade de apoiar, educar e ajudar o paciente para
que ele tenha a sua doença diagnosticada e tratada
corretamente."
Um dos
laboratórios que vêm adotando ações de transparência em
relação às entidades de pacientes é a Roche, que ajuda
financeiramente sete das nove organizações citadas no
relatório da Essential Action. Em 2007, a empresa
informa ter investido R$ 1,72 milhão em 69 projetos de
49 organizações sociais de pacientes. Desses projetos,
três envolveram patrocínios em torno de R$ 230 mil.
Segundo João
Carlos Ferreira, diretor de operações comerciais da
Roche, a empresa tem diretrizes internacionais que
estabelecem que os valores sejam definidos em um
contrato por um projeto específico. A partir deste ano,
a empresa passará a divulgar na internet os contratos e
os valores repassados às associações.
"Tornou-se um
questionamento público se o que a gente faz junto a
essas entidades é ético ou não. A gente acredita que
seja ético e, por isso, tem que publicar para não deixar
dúvidas", afirma Ferreira.
A maior parte
dos patrocínios, explica o diretor, é referente a
campanhas, cartilhas e outras publicações sobre
determinadas doenças, como Parkinson. "A gente acredita
que, se a Roche for simpática aos pacientes de
Parkinson, quando eles receberem a receita de um produto
da Roche, eles vão recebê-la com simpatia. O ganho é de
imagem institucional."
Para Ferreira, é
muito freqüente as organizações de pacientes procurarem
os laboratórios em busca de parcerias. "É normal
procurarem quem tenha interesse em colocar dinheiro no
projeto. Inevitavelmente, elas vão chegar a nós. A
quantidade de ONGs que recebem um "não" é muito maior
das que recebem um "sim"."
Ações
Gabriel Tannus
também diz desconhecer qualquer indício de que
laboratórios farmacêuticos estejam incentivando ONGs de
pacientes a ingressar com ações judiciais para a
obtenção de medicamentos, como sugerem gestores de saúde
e uma investigação em curso.
"Tem que ser
investigado se existe algum fundamento nessas denúncias
porque, se essa questão fica no ar, todo mundo fica sob
suspeita. Quem é inocente vira o demônio da história",
afirma. (
Fonte: Folha de S. Paulo, de
18/05/2008
Fazenda de São Paulo fiscaliza concorrência desleal e
fraudulenta no comércio com outros Estados
A Secretaria da
Fazenda do Estado de São Paulo (Sefaz) deu início esta
semana à Operação ST Fronteira 2008, que vai fiscalizar
estabelecimentos comerciais que operam com produtos sob
o Regime da Substituição Tributária, provenientes de
operações interestaduais. Os fiscais da Fazenda Paulista
iniciaram a operação em 300 empresas distribuídas pelo
Estado, para verificar a regularidade do recolhimento do
imposto devido, a ser pago por antecipação.
Os contribuintes
paulistas estão obrigados ao recolhimento antecipado do
ICMS no recebimento de mercadorias de outros Estados,
quando sujeitas ao regime da substituição tributária. A
implantação da substituição tributária é exatamente para
combater a sonegação, pois toda a arrecadação que era
pulverizada nos diversos setores da cadeia produtiva,
agora é concentrada, facilitando o acompanhamento do
recolhimento do tributo. A substituição tributária é um
instrumento para impedir que a falta de recolhimento do
ICMS nas operações interestaduais se torne fator de
desequilíbrio do mercado, evitando-se desta forma,
problemas de competitividade das indústrias paulistas
com as indústrias de outros Estados, bem como a
concorrência desleal no comércio varejista.
Entre
mercadorias sujeitas ao regime de substituição
tributária estão medicamentos, bebidas alcoólicas,
produtos de perfumaria e higiene pessoal, ração animal,
produtos de limpeza, produtos fonográficos, autopeças,
pilhas, baterias e lâmpadas elétricas, assim como
produtos alimentícios e materiais de construção e
congêneres. A expectativa da Secretaria da Fazenda com a
implantação da ST é um incremento de arrecadação em
torno de R$ 560 milhões por ano.
A operação ST
Fronteira 2008 tem por objetivo combater a concorrência
desleal e fraudulenta de indústrias e de atacadistas
instalados em outras Unidades da Federação ou mesmo de
comerciantes paulistas que adquirem mercadorias em
outros Estados. A concorrência desleal e fraudulenta é
cometida contra a indústria e os atacadistas paulistas.
O comerciante que adquire mercadoria em outro Estado
deve recolher o imposto no momento em que ela chega a
São Paulo.
Orientações a
respeito dos procedimentos a serem adotados pelos
contribuintes e a legislação referente ao regime de
substituição tributária estão disponíveis para consulta
acessando http://pfe.fazenda.sp.gov.br, endereço do
Posto Fiscal Eletrônico.
Fonte: site da Sefaz SP, de
19/05/2008
Associação quer espiritualizar o Judiciário
Eles defendem um
Judiciário mais sensível às questões humanitárias, dizem
que a maior lei é a de Deus, vêem na condenação penal e
na própria função uma missão de vida, defendem o uso de
cartas psicografadas nos tribunais e estimulam, nas
audiências, a fraternidade entre vítimas e criminosos.
Discutir temas
polêmicos, como o aborto, a eutanásia, o casamento gay,
a pena de morte e as pesquisas de células-tronco,
condenados pelas religiões cristãs, são alguns dos
objetivos da recém-criada AJE (Associação
Jurídico-Espírita) de São Paulo, que teve anteontem a
primeira reunião deliberativa, e já existe no RS e no
ES.
"O Estado é
laico, mas as pessoas não. Não tem como dissociar e
dizer: vou usar a minha fé só dentro do centro
espírita", afirma o promotor Tiago Essado, um dos
fundadores da AJE.
Embalada na
esteira do crescimento da Abrame (Associação Brasileira
de Magistrados Espíritas), que hoje reúne 700 juízes,
desembargadores e ministros de tribunais superiores, e
que aceita apenas togados como membros, a AJE surge com
uma proposta de abranger todos os operadores do direito
e já conta com 200 associados ou interessados, entre
promotores, delegados de polícia e advogados, além de
juízes.
Embora juristas
não vejam ilegalidade no fato de juízes se reunirem em
associações religiosas, a questão levanta discussões
como:
1) o laicismo,
princípio que prega o distanciamento do Estado da
religião;
2) a
contaminação de decisões por valores ou crenças de
caráter religioso ou pessoal;
3) e o caráter
científico do direito positivo, que deve se basear em
verdades comprovadas, e não, como a religião, em
verdades reveladas.
Além dos
tribunais superiores (entre outros, o vice-presidente do
Superior Tribunal de Justiça, Francisco Cesar Asfor
Rocha, é um dos integrantes da diretoria da Abrame), a
convicção espírita permeou também o Conselho Nacional de
Justiça, o órgão de controle externo do Judiciário.
"Não enxergaria
nenhuma diferença entre uma declaração feita por mim ou
por você e uma declaração mediúnica, que foi
psicografada por alguém", diz Alexandre Azevedo,
juiz-auxiliar da presidência do CNJ, designado pelo
conselho para falar a respeito das associações.
A Folha levantou
quatro decisões em que cartas psicografadas,
supostamente atribuídas às vítimas do crime, foram
usadas como provas para inocentar réus acusados de
homicídio.
Segundo Zalmino
Zimmermann, juiz federal aposentado e presidente da
Abrame, o propósito da associação "é questionar os
poderes constituídos para que o direito e a Justiça
sofram mais de perto a influência de espiritualizar".
"O objetivo
geral é a espiritualização e a humanização do direito e
da Justiça", diz.
Para o juiz de
direito Jaime Martins Filho, a escolha de sua profissão
não foi uma casualidade e, por isso, a exerce como uma
missão de vida.
"Não acredito em
acaso, mas numa ordem que rege o universo, acredito em
leis universais."
E ele explica "a
finalidade religiosa da associação".
"Dentro da
liberdade de religião, são os juízes aplicando
princípios religiosos no seu dia-a-dia. Temos um foco
que é a magistratura, procurar trabalhar esses valores
espirituais que estão relacionados com a própria
religião dentro da magistratura", diz Martins Filho.
Fonte: Folha de S. Paulo, de
19/05/2008