Cidades fora do mapa
Cinqüenta e seis municípios correm o risco de
desaparecer do mapa nacional nos próximos meses. Todos foram criados
irregularmente. Em setembro de 1996, o Congresso aprovou uma emenda
constitucional que transferiu, dos estados para a União, a responsabilidade
de disciplinar a transformação de distritos em municípios. A emenda obrigava
os parlamentares a elaborar uma lei complementar com critérios bem definidos
para a fundação de cidades. Os projetos que tratam do assunto nunca foram
votados, mas novos municípios continuaram a pipocar. Na tentativa de acabar
com a baderna, há um ano e meio o Supremo Tribunal Federal resolveu dar um
prazo aos parlamentares para editar a tal lei: maio do próximo ano. Se nada
for feito até lá, os distritos que ganharam autonomia a partir de 1996 serão
reincorporados às suas cidades de origem. Os respectivos prefeitos e
vereadores perderão o mandato e os funcionários municipais, o emprego. "Até
maio, há tempo hábil para que o Congresso aprove uma lei para evitar que
essas cidades sumam – cidades que, a rigor, nem poderiam ter sido criadas",
diz o presidente do Supremo, Gilmar Mendes.
A lista dos 56 municípios passíveis de
extinção inclui 29 cidades gaúchas. Todas foram instituídas em um único dia,
16 de abril de 1996 – antes, portanto, da aprovação da emenda constitucional
que federalizou as regras para a criação de cidades. O problema é que seu
processo de emancipação teria infringido as leis estaduais então vigentes.
Não teria atendido, por exemplo, o requisito de número mínimo de eleitores.
Por isso, a existência desses municípios é contestada nos tribunais desde o
início. Ainda em 1996, a Justiça Eleitoral do Rio Grande do Sul chegou a
proibir que eles realizassem eleições – decisão reformada depois pelo
Tribunal Superior Eleitoral. No mesmo ano, o governador Antonio Britto
entrou com uma ação no Supremo para extingui-los. Esse processo ainda
aguarda julgamento.
"CIDADE DE PRIMEIRA"
Não importa qual seja a confusão jurídica, o
fato é que tornar-se município, na maioria dos casos, serve a um único
propósito: receber mais dinheiro do caixa do governo federal. O objeto da
esperteza é o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), composto com
recursos do imposto de renda (IR) e do imposto sobre produtos
industrializados (IPI). Principal fonte de dinheiro de 81% dos municípios
brasileiros, o fundo é distribuído de acordo com a população de cada cidade.
Pela regra, quem tem menos de 10 200 habitantes faz jus ao piso do FPM, hoje
de 3 milhões de reais por ano. Por isso, é vantajoso que municípios pequenos
se subdividam. Coqueiro Baixo, na Serra Gaúcha, é um caso típico. Ao se
separar de Nova Bréscia, o que eram 3 milhões virou 6 milhões: o município
antigo continuou a receber o piso e o novo passou a embolsar a parte que lhe
cabia. Forquetinha, na mesma região do Rio Grande do Sul, era apenas um
distrito de Lajeado, que tem 70 000 habitantes. Em 2001, seus 2 600
moradores ganharam autonomia. Desde então, o FPM responde por metade da
receita do lugarejo. Agora, endinheirada, Forquetinha ambiciona converter-se
em uma espécie de condomínio de luxo.
O FPM acaba servindo para sustentar uma casta
de privilegiados, já que cada novo município precisa ter prefeito, vice,
vereadores e um batalhão de servidores públicos. "A eleição nessas cidades
minúsculas parece uma escolha de síndico. Com a diferença de que muita gente
quer o cargo", diz o economista Fernando Montoro, do Centro de Estudos e
Pesquisas de Administração Municipal, de São Paulo. Nem todos os municípios
hoje na berlinda foram criados para satisfazer apetites fisiológicos.
Mesquita, no Rio de Janeiro, por exemplo, tem 190 000 habitantes e total
autonomia financeira. Já Luís Eduardo Magalhães, no cerrado baiano, conta
com uma população de 50 000 moradores e é o centro de uma das agriculturas e
pecuárias mais pujantes do interior do país. Se o Congresso tivesse aprovado
uma lei para disciplinar a criação de municípios, o trigo não estaria
misturado ao joio.
Fonte: revista Veja, de
15/11/2008
Sabesp coleta esgoto e joga nos rios
Parte dos habitantes da Região Metropolitana
de São Paulo atendidos pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo (Sabesp) paga a coleta e o tratamento de esgotos, mas a empresa joga
tudo, in natura, nos rios e córregos, por falta de coletores, interceptores
e emissários. Esses pontos de poluição são chamados pela empresa de
lançamentos provisórios, mas sempre existiram. Há 6.670 pontos, que jogam em
cursos d?água 1,27 bilhão de litros/dia e deverão estar totalmente ligados
aos coletores só em 2018. A Sabesp justifica-se, dizendo que 3.470 pontos
foram conectados à rede nos últimos anos, baixando o despejo em 1,41 bilhão
de litros/dia - anteriormente eram 10.140 pontos de poluição.
Para piorar, as seis cidades da Região
Metropolitana que têm serviço próprio de água e esgoto - Santo André, São
Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Guarulhos e Mogi das Cruzes - não conseguem
tratar seus dejetos e também despejam mais de 394 milhões de litros de
detritos todos os dias em rios e ribeirões. E há ainda as 100 mil ligações
clandestinas de esgotos na capital que jorram a cada 24 horas mais 500 mil
litros de sujeira nesses mesmos cursos d?água. As bacias dos Rios Tietê,
Pinheiros e Tamanduateí, na Grande São Paulo, recebem cerca de 26,8% de todo
o esgoto metropolitano (4,32 bilhões litros/segundo), fora a sujeira que vem
das ruas. E 15% da população sequer conta com os dejetos coletados.
O mapeamento dos pontos de despejo feito pela
Sabesp coloca um ponto vermelho em cada um dos locais de lançamento. A
quantidade é tão grande que, internamente, ganhou o nome de "mapa catapora".
"É uma vergonha que a sede da maior empresa de saneamento da América Latina
esteja numa cidade que fede a esgoto", afirma o presidente, Gesner Oliveira.
A Região Metropolitana produz todos os dias
algo em torno de 50 mil litros de esgoto por segundo. Efetivamente são
tratados nas cinco estações de tratamento de esgotos (ETEs) - ABC, Barueri,
Parque Novo Mundo, São Miguel e Suzano - 13,5 mil litros por segundo.
Entretanto, a capacidade efetiva de tratamento dessas ETEs é de 18 mil
litros/segundo. "Daqui a dez anos será inaceitável passar pelas Marginais e
sentir fedor. É preciso resolver o problema do esgotamento sanitário",
admite Gesner. Para tanto, uma das apostas da companhia ainda é o Projeto
Tietê, para limpar os rios e coletar e tratar todo o esgoto na Grande São
Paulo até 2018.
De acordo com o engenheiro Julio Cerqueira
Cesar Neto, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental,
são dois os motivos que impedem a utilização total da capacidade de
tratamento. Primeiramente, a deficiência das canalizações que deveriam
transportar os esgotos das redes coletoras para áreas de tratamento. Faltam
coletores-tronco (tubulações instaladas ao lado dos córregos),
interceptadores (tubulações assentadas ao lado dos rios) e emissários. "A
Sabesp, desde a fundação em 1973, até o início do Projeto Tietê, na década
de 90, se preocupou em construir apenas as pontas do sistema: as redes
coletoras e as estações de tratamento. Evidentemente as redes coletoras
foram executadas despejando os esgotos in natura nos córregos."
Só após a passagem pela estações o produto é
devolvido, em boas condições - segundo a Sabesp -, ao meio ambiente ou
destinado ao reúso. Um estudo do Centro de Políticas Sociais da Fundação
Getúlio Vargas também mostra que cada R$ 1 investido em saneamento
representa uma economia de R$ 4 em gastos com saúde.
Fonte: Estado de S. Paulo, de
17/11/2008
Asas abertas
O governo de SP prepara o lançamento de
licitação para a escolha de empresas que assumam os 31 aeroportos regionais
do Estado. Seriam parcerias público-privadas, as PPPs. Os que forem
escolhidos para gerir terminais centrais, como os de Presidente Prudente,
Ribeirão Preto, Bauru e Jundiaí, teriam que assumir aeroportos menores nas
mesmas regiões.
ASAS ABERTAS 2
O governo paulista arrecada R$ 12,7 milhões
por ano dos aeroportos -e gasta R$ 21,5 milhões com eles, num déficit de
quase R$ 10 milhões.
ASAS ABERTAS 3
E uma das regiões apontadas como favoritas
para receber o terceiro grande aeroporto de SP, que desafogaria Guarulhos e
Congonhas, é a de Sorocaba. O governo federal pode lançar licitação para que
as construtoras apresentem projetos de viabilidade para a construção do
empreendimento.
Fonte: Folha de S. Paulo,
Coluna Mônica Bergamo, de 17/11/2008 |