O credor do
Estado de São Paulo já pode acompanhar a situação de seu
precatório pela internet no Portal dos Precatórios,
criado pela Procuradoria Geral do Estado de São Paulo,
no endereço eletrônico www.pge.sp.gov.br.
A criação veio
depois que a Assembléia Paulista aprovou em maio projeto
que obriga a disponibilidade das informações sobre os
créditos no site da procuradoria. A proposta foi
sancionada pelo governador José Serra (PSDB-SP) no dia
20 de junho.
Já podem se
cadastrar no site os credores que têm precatórios
alimentares (referentes a dívidas trabalhistas e
previdenciárias) a receber da Fazenda do Estado após
1998 e quem espera por OPV (Obrigação de Pequeno Valor)
da Fazenda do Estado, autarquias e fundações. As OPVs
foram criadas em 2003 e hoje têm limite de R$ 16.893,09.
As ações
julgadas após a criação das OPVs, com valores inferiores
aos R$ 16.893,09, são pagas em até 90 dias. Após o
cadastro no site da procuradoria, o credor será
informado, por e-mail, sobre o pagamento de seu
precatório quando ele for sair (confira o passo-a-passo
do cadastro no quadro acima).
Também poderá
consultar o site os credores que receberam precatórios
alimentares da Fazenda do Estado, pagos a partir de
março de 2005, ou OPV da Fazenda, autarquias e
fundações, pagas a partir de janeiro de 2006. Segundo o
procurador-geral do Estado, Marcos Fábio de Oliveira
Nusdeo, há credores que já receberam o precatório e não
ficaram sabendo.
Agora, eles
também poderão ter um comprovante dessa renda para
prestar contas à Receita Federal.
Os credores que
se encontram em situação diferente das referidas acima
deverão esperar atualização no site. Para mais
informações, o telefone da procuradoria é (0/xx/11)
3372-6409.
Para Marco
Antonio Innocenti, membro da Comissão de Precatórios da
OAB-SP, a medida é positiva, pois dá mais transparência
à situação dos precatórios no Estado. "Agora, resta
saber se eles serão pagos", afirma.
Fonte: Agora SP, de 14/07/2008
Presidente da ANAPE cobra respeito dos governantes aos
pleitos dos procuradores de estados
O fortalecimento
da advocacia pública com melhores condições de trabalho
e maior independência foi a tônica da palestra de
abertura do XVII Encontro Estadual dos Procuradores do
Estado do Rio Grande do Sul realizado nesta sexta-feira
(11) em Bento Gonçalves. De acordo com o presidente da
Associação Nacional dos Procuradores de Estado (ANAPE),
Ronald Bicca, falta compreensão por parte dos
governantes com relação à atividade exercida pelos
procuradores. Segundo ele, os governos desrespeitam o
princípio constitucional ao optar pela contratação de
advogados privados para defender interesses dos estados.
"Somos um órgão que trabalha permanentemente na defesa
do Estado", afirmou.
Para Bicca, ao
tratar a questão institucional da Procuradoria como um
assunto político, o Estado desvaloriza a categoria e
cria um quadro de fragilidade do patrimônio público
atingido por casos de corrupção.
Subsídios
"O governo
gaúcho está dando um mau exemplo ao não respeitar os
pleitos dos procuradores do Estado. Controle de
legalidade é incompatível com hierarquia", advertiu.
Além do Rio Grande do Sul, os estados do Paraná e Minas
Gerais também não tiveram o apoio dos governos e não
fixaram os subsídios para a categoria.
Para tentar
avançar, Bicca destacou que a ANAPE segue trabalhando
para que a PEC n°82, apresentada como alternativa à
reforma judiciária e já apreciada pelo Congresso
Nacional, seja aprovada com as sugestões defendidas pela
entidade.
Para a
presidente da Associação dos Procuradores do Rio Grande
do Sul (APERGS), Fabiana Azevedo da Cunha Barth, o
enfraquecimento da advocacia pública torna o Estado
eticamente frágil o que pode estar favorecendo práticas
de corrupção. Segundo ela, a Procuradoria-Geral do
Estado atravessa a pior crise institucional de sua
história e a retomada do caminho ético-jurídico no Rio
Grande do Sul passa fundamentalmente pelo fortalecimento
da advocacia pública estadual. “O campo ético e jurídico
da atividade estatal requer avaliação especializada que
pondere e controle o seu exercício, ao mesmo tempo em
que defenda a posição jurídica do Estado em juízo. Dessa
forma, estando enfraquecida a Procuradoria-Geral estará
eticamente fragilizado o Estado”, relatou.
Já o deputado
estadual Alberto de Oliveira (PMDB), que representou a
Assembléia Legislativa no ato, disse que o governo
gaúcho perdeu uma excelente oportunidade de promover a
igualdade entre carreiras jurídicas do Estado. "A
categoria não deve desistir dessa luta. É uma luta
justa, sendo o principal vitorioso o Estado", declarou.
Fonte: site da Anape, de
14/07/2008
Impasse com a OAB tira 47 mil advogados da Defensoria
A Defensoria
Pública de São Paulo montou um esquema especial de
atendimento a partir de hoje, quando passará a não
contar com o reforço de cerca de 47 mil advogados da
OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo). O
convênio mantido com o órgão havia dez anos não foi
renovado.
O atendimento a
quem precisa de um advogado, mas não pode pagar, será
concentrado na capital e em 21 cidades em que a
Defensoria atua -sem a estrutura da OAB, o órgão só
cobre 7% das comarcas do Estado.
O impasse
começou na sexta-feira, após decisão da OAB de não
aceitar o reajuste de 5,84% oferecido pela Defensoria -a
Ordem pede aumentos de até 10%.
Por ano, a OAB
atende a um milhão de casos no Estado. A Defensoria
estuda criar uma lista própria de advogados, sem
mediação da OAB.
Fonte: Folha de S. Paulo, de
14/07/2008
ATENDIMENTO JURÍDICO À POPULAÇÃO CARENTE SERÁ SUSPENSO A
PARTIR DE SEGUNDA-FEIRA
Está suspensa, a
partir desta segunda-feira (14/7), a triagem para novas
nomeações de advogados que realizam atendimento gratuito
à população carente, porque a Defensoria Pública não
atendeu pleito de majoração dos valores da tabela de
honorários da advocacia, impedindo com isso a renovação
do Convênio de Assistência Judiciária.
Este Convênio,
firmado entre a OAB SP e a Defensoria Pública de São
Paulo, possibilita o cumprimento do Art.5,LXXIV, da
Constituição Federal, que estipula ser obrigação do
Estado “prestar assistência jurídica integral e gratuita
aos que comprovarem insuficiência de recursos”.
“ O Convênio não
foi renovado nesta sexta-feira (11/7) porque
Defensoria Pública do Estado não atendeu proposta da
OAB SP de aumento na tabela de remuneração dos
honorários dos advogados. A Ordem tem lutado para
melhorar as condições dos advogados inscritos neste
convênio, já tendo obtido uma vitória com a
promulgação da lei que estabeleceu a oportunidade da
tabela ser negociada entre a Defensoria Pública e a OAB
SP, diferente do passado, quando esta tabela era imposta
pelo Estado à Advocacia”, afirma o presidente da OAB SP,
Luiz Flávio Borges D´Urso.
Para atender o
convênio, que existe desde 1986, a OAB SP mantém uma
rede de 313 postos em Casas e Salas do Advogado em todo
o Estado, com mais de 47 mil advogados inscritos; tendo
feito em 2007 quase um milhão de atendimentos à
população carente de São Paulo. “ A Defensoria Pública
hoje não tem quadros, são menos de 400 defensores; nem
infra-estrutura física, uma vez que conta com unidades
em apenas 22 cidades para atender demanda tão
expressiva da população. Dessa forma, a Defensoria
Pública tem de levar em consideração o pleito da OAB SP
, pois precisa do convênio para atender o objetivo para
o qual foi criada ”, ressalta D´Urso.
Segundo o
presidente da OAB SP, considerando que as negociações
não prosperaram até esta data, a OAB SP em defesa dos
interesses dos advogados conveniados por melhores
condições de remuneração, não assinará , por ora, a
renovação do convênio e aguarda que a Defensoria Pública
seja sensível à sua proposta de majoração da tabela face
à imprescindibilidade da cooperação que a Advocacia
presta ao Estado, atendendo a população carente.
“É preciso, de
uma vez por todas, esclarecer que no Estado de São Paulo
para haver atendimento à população carente, a Defensoria
Pública depende da OAB SP, pois sem esta não haverá
atendimento aos hipossuficientes de nosso Estado. Por
este motivo, esperamos que a Defensoria entenda seu
papel , sua responsabilidade e seja sensível ao pleito
de melhor remuneração para a advocacia paulista”,
argumenta D´Urso.
Fonte: site da OAB SP, de
13/07/2008
Governo lança plano para pagamento de dívidas
O governo
prepara um pacote de descontos para tentar fazer com que
empresas quitem dívidas de aproximadamente R$ 40 bilhões
em tributos que estão sendo questionados judicialmente.
A proposta fará
parte de uma MP (medida provisória), que tratará de
alterações na cobrança das dívidas da Receita Federal e
da Previdência Social e a dívida ativa, que inclui
débitos em cobrança judicial, no valor total de R$ 1,3
trilhão.
As empresas que
desistirem das disputas envolvendo o IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados) terão um benefício
equivalente à correção da dívida pela TJLP (Taxa de
Juros de Longo Prazo) em vez da Selic, que é usada para
atualizar as dívidas com a União.
Para ter uma
idéia do que isso pode representar, só nos últimos cinco
anos, a TJLP variou 59,07%. Já a Selic chegou a 131,69%,
mais que o dobro. Ou seja, o governo vai cortar quase
pela metade o valor das dívidas que tenham sido
acumuladas desde janeiro de 2003.
"É um novo
modelo de cobrança. Hoje, entupimos o sistema de
cobrança administrativo e também o Judiciário e
arrecadamos pouco", explicou o ministro interino da
Fazenda, Nelson Machado -Guido Mantega está em férias.
Multas e juros
menores
O desconto aos
devedores do Imposto sobre Produtos Industrializados
será dado na forma de reduções em multas e juros que são
cobrados sobre a dívida ativa da União.
Pela proposta em
estudo, quem pagar à vista ou em até seis prestações só
quitará 70% dos juros de mora, que equivalem à variação
mensal da Selic. A multas de mora (30% e correção pela
Selic) e de ofício, que variam de 50% a 150% dependendo
da infração, e os encargos legais de 20% corrigidos pela
Selic serão anulados.
O governo
justifica o benefício como uma estratégia para receber
os recursos mais rapidamente e eliminar o risco de
perder disputas na Justiça.
Há duas disputas
de grande valor no Judiciário sobre o IPI. A primeira,
que o governo estima em R$ 20 bilhões, é sobre o direito
que empresas têm de abater dos impostos devidos créditos
obtidos na compra de mercadorias que têm alíquota zero
do Imposto sobre Produtos Industrializados ou não são
tributados. Nesse caso, porém, o STF (Supremo Tribunal
Federal) já decidiu a favor do governo e entendeu que as
empresas não podem fazer esse tipo de compensação.
Incentivos
A outra grande
disputa é sobre o incentivo que o governo federal dava
às exportações de manufaturados por meio do IPI
-estimada na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) em R$
20 bilhões.
O governo perdeu
no STJ (Superior Tribunal de Justiça) a tese de que o
incentivo só valeria até 1983. Os ministros entenderam
que as empresas podem abater o crédito nas exportações
feitas até 1990.
Mas o setor
privado continuou a disputa, que agora está no Supremo
Tribunal Federal. Caberá aos ministros do Supremo
definir até quando valeu, ou mesmo se o incentivo ainda
pode ser aproveitado.
Exportadoras
Essa "briga"
interessa principalmente às grandes empresas
exportadoras. Segundo o vice-presidente da AEB
(Associação de Comércio Exterior do Brasil), José
Augusto de Castro, a tendência é a de que as companhias
não aceitem os descontos oferecidos pelo governo.
"O governo está
simplesmente tentando antecipar arrecadação e
desestimular o recurso jurídico. Já estamos nisso [na
discussão judicial] há muitos anos e não faz sentido
aceitar [um acordo] agora", disse Castro, da AEB.
Para o
vice-presidente da associação de comércio exterior, as
avaliações de perda do governo são superestimadas e têm
como objetivo criar uma "pressão econômica sobre o
Supremo [o STF]".
Fonte: Folha de S. Paulo, de
14/07/2008
Ainda há juízes no Brasil!
LOGO APÓS a
concessão da primeira liminar no caso da Operação
Navalha, ainda no ano passado, o atual presidente do
Supremo Tribunal Federal foi alvo de um covarde e
sórdido ataque: um vazamento dava-o como envolvido no
caso. Custa a acreditar que até agora, como denunciou o
ministro, não se tenha feito nada para apurar a
responsabilidade pelo ocorrido.
Na linha do
absurdo, o titular da pasta da Justiça, Tarso Genro,
afirmou que "os advogados" eram responsáveis pelo
vazamento. Sim, descontentes com a concessão da medida
pleiteada, puseram-se a detratar seu prolator...
O ministro
Gilmar Mendes, com a autoridade que o cargo de
presidente do STF lhe confere, veio a público à época e
disse que a exibição de pessoas algemadas como troféus
em uma ação simbolicamente punitiva contra meros
suspeitos; que os vazamentos de material incriminatório
cobertos pelo sigilo, mas que legitimam as operações da
Polícia Federal; que o escracho público e as prisões
temporárias decretadas a granel para o fim de ouvir o
suspeito; que tudo isso representa um desrespeito ao
Estado de Direito, cuja nota característica é exatamente
a observância dos direitos e das garantias fundamentais.
Indo além, disse que o procedimento da Polícia Federal é
coisa de gângster.
No recente caso
da prisão de Daniel Dantas, Celso Pitta e, entre muitos
outros, Nagi Nahas, repetiram-se as fórmulas de
escracho.
Um dos detidos
foi filmado de pijamas, e as prisões temporárias foram
decretadas apenas para que os sujeitos fossem ouvidos.
Não havia, como manda a lei, nenhuma imprescindibilidade
na prisão para as investigações. A despeito da censura
da Suprema Corte, a imposição de prisões temporárias tem
sido uma constante nas operações da Polícia Federal.
Mas, agora, como
revelou a Folha na última sexta-feira, o próprio STF foi
monitorado pela PF. O juiz nega que tenha determinado a
investigação contra quem tenha foro por prerrogativa de
função. Isso, obviamente, não exclui os funcionários do
gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal e os
advogados, que não têm o foro privilegiado.
A Polícia
Federal, por meio de seu diretor, nega o fato. Mas teria
a desembargadora federal mentido ao informar a
ocorrência? E o vídeo em mãos da PF?
É gravíssima a
notícia de que o gabinete do presidente do Supremo
Tribunal Federal foi monitorado pela Polícia Federal em
razão de uma ordem expedida por um juiz federal.
Não são apenas
valores ligados à hierarquia jurisdicional que se
rompem, mas fica vulnerada a própria independência da
mais alta magistratura nacional. E tudo porque o
ministro, a despeito do juízo que se faça sobre o acerto
ou não de sua decisão, de forma independente e corajosa,
determinou a soltura de alguém que calha ser banqueiro e
execrado pela opinião pública.
O emparedamento
do Poder Judiciário por causa de decisões que possam
desagradar à opinião pública nos coloca na inaceitável
condição de reféns de algo que se presta a aniquilar a
própria razão de ser do Judiciário numa sociedade
democrática.
Se o juiz, seja
ele de que grau for, tiver que decidir atendendo ao
clamor público, teremos não a aplicação do direito com
seus princípios, mas um linchamento.
Para os que
imaginam ser esse um modo democrático de realização da
Justiça, isso, não custa lembrar, realiza o ideal
nazista, segundo o qual "direito é aquilo que é útil aos
interesses do povo" (Gilmar Mendes, Folha, 24/10/93).
Não por acaso se tem insistido que o combate à
criminalidade deve ser feito dentro dos marcos da
legislação e com a rigorosa observância do devido
processo legal. Do contrário, campeará o autoritarismo
de quem se julga intérprete dos "interesses do povo".
Também merece
profundo desprezo a justificativa dada para a insólita
bisbilhotice: ver e ouvir as conversas dos advogados com
os assessores do ministro. Querem criminalizar o que há
de mais corriqueiro no trabalho do advogado, isto é, a
visita a gabinetes de juízes para a entrega de memoriais
e/ou exposição de razões.
O patrulhamento
da atividade do advogado remete-nos à ditadura,
qualificando-se todo o episódio como uma inadmissível
prática própria de Estados de Polícia. Enfim, um grave
atentado ao Estado de Direito.
Por fim, a
vontade política de reprimir a criminalidade econômica,
os que usam black-tie, não se compadece com abusos de
qualquer espécie. O que ontem se combateu como opressão
dirigida aos segmentos desfavorecidos, porque afrontoso
aos direitos humanos, não pode, perversamente, vir
validado e aplaudido hoje como se fosse a
"democratização do direito penal". Cria-se um
inaceitável caldo de cultura da violência estatal.
Para coibir esse
nefasto processo, a ação do ministro Gilmar Mendes, mais
do que justa, foi providencial.
ALBERTO
ZACHARIAS TORON , 49, advogado, doutor em direito penal
pela USP e professor licenciado de direito penal da
PUC-SP, é secretário-geral-adjunto do Conselho Federal
da OAB e presidente da Comissão Nacional de
Prerrogativas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Fonte: Folha de S. Paulo, de
13/07/2008
Crônica de uma liberdade anunciada
NÃO HOUVE
surpresa. O corruptor pau-mandado disse com todas as
letras, gravadas pela Polícia Federal, que o chefe se
preocupava "apenas com o processo em primeira instância,
uma vez que no STJ e no STF ele resolve tudo".
Sabia o que
dizia. Dito e feito, em dose dupla. O chefe entrou na
lista daqueles que, para certos ministros do STF, pairam
acima da lei e reforçam a nociva cultura de que, como
cantava Noel Rosa, "para quem é pobre a lei é dura", mas
para quem é rico a impunidade fa(r)tura.
Vale a piada do
político corrupto que surpreendeu o filho
surrupiando-lhe a carteira e deu-lhe umas palmadas. "Mas
você também rouba!", reagiu o menino. "Não te castigo
por roubar, mas por se deixar apanhar em flagrante",
retrucou o pai. Agora, nem o flagrante merece punição.
Vide as imagens gravadas pela PF em que aparece a
dinheirama destinada a corromper um delegado daquele
órgão. O ciclo vicioso se confirma: a Polícia prende, a
Justiça solta. E alguns disso se aproveitam e fogem.
Ou a pena
prescreve, sacramentando a impunidade e permitindo até
que se candidatem a cargos públicos.
A corrupção,
aliada à impunidade, de quem é filha, já indignava o
autor de "A Arte de Furtar", escrito entre os séculos 17
e 18: "Se vossa casa, ontem, era de esgrimidor, como a
vemos hoje à guisa de príncipe? E até vossa mulher
brilha diamantes, rubis e pérolas, sobre estrados
broslados? Que cadeiras são essas que vos vemos de
brocado, contadores da China, catres de tartaruga,
lâminas de Roma, quadros de Turpino, brincos de Veneza
etc.?
"Eu não sou
bruxo nem adivinho; mas me atrevo, sem lançar peneira, a
afirmar que vossas unhas vos granjearam todos esses
regalos para vosso corpo, sem vos lembrarem as tiçoadas
com que se hão de recambiar no outro mundo. Porque é
certo que vós os não lavrastes, nem os roçastes, nem vos
nasceram em casa como pepinos na horta".
E aponta as
ramificações do enriquecimento ilícito nas estruturas de
poder: "Furtam pelo modo infinito, porque não tem fim o
furtar com o fim do governo e sempre lá deixam raízes,
em que vão continuando os furtos. Finalmente, nos mesmos
tempos não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos,
mais-que-perfeitos e quaisquer outros, porque furtam,
furtaram, furtavam, furtariam e haveriam de furtar mais,
se mais houvesse".
Em "A
Desordenada Cobiça dos Bens Alheios - Antiguidade e
Nobreza dos Ladrões" (1619), Carlos García diz que a
arte da ladroagem é superior à alquimia, pois do nada
faz tudo: "Haverá maior nobreza no mundo que ser
cavaleiro sem rendas e ter os bens alheios tão próprios
que se pode dispor deles a seu gosto e vontade, sem que
lhe custe mais que pegar-lhes?".
E denuncia o
engano em que muitos vivem, "crendo que foi a pobreza a
inventora do furto, não sendo outros senão a riqueza e a
prosperidade".
Padre Vieira,
nascido há 400 anos, alerta em seu "Sermão do Bom
Ladrão" (1655): "Os outros ladrões roubam um homem,
estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo
do seu risco, estes, sem temor nem perigo; os outros, se
furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam".
Sim, não temem
as instâncias superiores da Justiça, pois não há o
perigo de ficarem atrás das grades. Soltos, continuam a
furtar o erário, e enforcam, nas negociatas, a cultura
da decência, da ética e da justa legalidade.
E ainda há quem
proteste por ver a mídia acompanhar as operações
policiais. Quem reclama quando as viaturas cercam a
favela com brucutus e "caveirões"? Reza o direito que,
se o crime é clandestino, a repressão e a punição devem
ser públicas, para servir de exemplo e coibir potenciais
bandidos, sejam eles de chinelos de dedo ou de
colarinho-branco.
Segundo Cícero,
"o maior estímulo para cometer faltas é a esperança de
impunidade". Enquanto o nosso Código de Processo Penal
não sofrer profundas modificações, os bandidos poderão
repetir em entrevistas que só temem a Polícia, porque a
Justiça é cega às suas práticas criminosas.
Talvez fosse
mais sensato acatar a proposta de Capistrano de Abreu e
reduzir a Constituição a dois artigos: "Artigo 1º: Todo
brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara. Artigo 2º:
Ficam revogadas todas as disposições em contrário".
CARLOS
ALBERTO LIBÂNIO CHRISTO , o Frei Betto,63, frade
dominicano e escritor, é autor de "Calendário do Poder"
(Rocco), entre outros livros. Foi assessor especial da
Presidência da República (2003-2004).
Fonte: Folha de S. Paulo, de
13/07/2008
Dantas espionou juízes paulistas, afirma PF
O banqueiro
Daniel Dantas é acusado pela Polícia Federal de ter
contratado um coronel do exército israelense para
espionar juízes federais da primeira instância de São
Paulo. Entre os alvos estariam o juiz Fausto Martin De
Sanctis, o mesmo que decretou por duas vezes a prisão do
banqueiro e duas vezes teve a decisão derrubada pelo
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar
Mendes. O juiz foi alertado pelos policiais que
preparavam a Operação Satiagraha. O grupo teria também
monitorado os passos do delegado Protógenes Queiroz, que
comanda as investigações.
O advogado
Nélio Machado, que defende Dantas, negou a iniciativa e
disse que a acusação é fruto da cabeça dos desafetos do
banqueiro. O que sustenta a suspeita dos delegados
federais é uma conversa telefônica entre um funcionário
do Grupo Opportunity e a diretora jurídica do grupo,
Danielle Silbergleid Ninnio. O diálogo ocorreu em 25 de
maio, às 10h59, um mês depois de Dantas tomar
conhecimento de que a PF preparava uma operação.
O funcionário
pergunta qual o nome: ''É Abner da Kroll?'' Danielle
responde que não, que é ''Avner''. Os agentes dizem que
se trata do coronel da reserva do exército de Israel
Avner Shemeh. Ex-funcionário da Kroll do Brasil, o
militar foi acusado de espionar desafetos de Dantas e
integrantes do governo Lula a mando do banqueiro,
conforme apurado na Operação Chacal, em 2004. Ele está
sendo processado na 5ª Vara Criminal Federal de São
Paulo.
A outra prova
usada pelos federais é um e-mail em que duas
funcionárias do Opportunity, no Rio, trocaram no dia 6
de junho sobre uma reunião com Shemeh. A contratação do
coronel faria parte do esforço do banqueiro e dos outros
supostos integrantes da quadrilha de tentar neutralizar
o procedimento sigiloso que apurava as atividades do
Banco Opportunity.
Segundo o
delegado Protógenes, o grupo teria usado advogados com
''estreita amizade com magistrados federais para
angariar informações privilegiadas''. Por causa do
''insucesso dessa articulação'', a PF passou a suspeitar
que o banqueiro tenha procurado Shemeh para executar a
tarefa de descobrir o que havia contra ele na Justiça
Federal.
''Shemeh é
contatado para implementar espionagem (que é sua
especialidade) e investigação ilegal contra magistrados
federais da cidade de São Paulo'', diz relatório da
inteligência da PF. Isso ocorreu na mesma época em que o
ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT) entrou em
contato com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto
Carvalho, em busca de informações sigilosas sobre o
caso, em 29 de maio. Carvalho se comprometeu a passar os
dados mantidos pela PF.
Ao saber da
informação de que era um alvo do banqueiro, o juiz De
Sanctis requisitou à PF que fizesse uma varredura em seu
gabinete em busca de possíveis grampos ou escutas
ambientais. Mas, segundo apurou o Estado, até anteontem
a diligência não havia sido executada. De Sanctis diz
aos colegas de tribunal que, apesar disso, não se
preocupa e costuma concluir suas conversas dizendo:
''Confio em Deus.''
Outro magistrado
que poderia estar na mira dos espiões é Silvia Maria
Rocha, titular da 2ª Vara Federal, também especializada
no combate às organizações criminosas que praticam
delitos financeiros, como lavagem de dinheiro e evasão
de divisas.
Até então, o
grupo de Dantas não sabia em que Vara Criminal estava o
processo contra o banqueiro, como revela um diálogo de 7
de maio. Às 15h30, o publicitário Guilherme Sodré,
apontado como um dos lobistas de Dantas, conversa com o
executivo Humberto Braz, responsável, segundo a PF,
pelas ações de espionagem do Opportunity. Sodré conta
que a apuração ''provavelmente está na sexta gaveta (6ª
Vara Criminal, a de De Sanctis)''. Três horas depois, os
dois voltam a se falar. Desta vez, Sodré dá um conselho
a Braz: ''Então é ter todos os cuidados necessários...
não expor o paciente (Dantas)... não andar com muito
papel (documentos)...''
Além dos juízes,
agentes da PF produziram três relatórios nos quais
acusam a suposta quadrilha liderada por Dantas de ter
monitorado o delegado Protógenes.
De acordo com
relatório assinado pela delegada Karina Murakami Souza,
da PF, os homens de Dantas passaram a seguir Protógenes,
''especialmente em seus deslocamentos territoriais''. A
prova de que a suposta quadrilha estaria vigiando os
passos da autoridade federal são áudios de conversas dos
acusados e e-mails que os investigados trocaram nos dias
que antecederam a operação.
''Tudo isso
mostra a que nível chegou a organização criminosa na
proteção de seus interesses espúrios e que somente uma
ação efetiva da polícia, do Ministério Público e do
Judiciário poderá pôr fim às ilegalidades praticadas'',
concluiu a delegada.
Fonte: Estado de S. Paulo, de
13/07/2008
Reação à soltura é ''absolutamente normal'', diz
presidente do STF
O presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes,
disse ontem considerar ''absolutamente normal'' as
reações à sua decisão de libertar pela segunda vez, na
sexta-feira, o banqueiro Daniel Dantas, principal alvo
da Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Por outro
lado, ao se referir ao manifesto assinado por juízes
federais - que viram como uma intimidação o envio à
corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de
cópia da decisão do juiz Fausto Martin De Sanctis -, o
ministro negou ter pedido uma investigação sobre o
magistrado. De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de
São Paulo, decretou as prisões preventivas de Dantas e
de outros acusados.
''Não fiz
representação formal, só o registro mesmo'', declarou,
comentando sua decisão de enviar a sentença ao CNJ. Em
outro momento, disse que o objetivo era ''o
acompanhamento estatístico''.
Na opinião de
alguns especialistas,porém, a decisão de Mendes tem um
alcance maior. Segundo o professor de Direito José Ribas
Vieira, tecnicamente o registro feito à corregedoria do
CNJ equivale a um pedido de investigação.
GARANTIAS
O presidente do
STF participou ontem da banca examinadora da tese de
doutorado Do Direito ao Silêncio à Garantia de Vedação
de Auto-incriminação - O STF e a Consolidação das
Garantias Processuais Penais, apresentada pelo advogado
Thiago Bottino do Amaral, na PUC do Rio. Durante seus
comentários sobre a tese, o ministro observou que, em
momento de insegurança, ''o Supremo não tem dúvida em
afirmar que há que se realizar a segurança com respeito
aos direitos e garantias fundamentais''.
Para ele,
''quando um juiz segue o canto da sereia da mídia, ele
descumpre direitos e garantias fundamentais''.
Ao falar sobre
habeas corpus, Mendes observou que existe um número
elevadíssimo de pedidos desse recurso no STF: ''É dado
revelador de alguma patologia no sistema ou de alguma
incongruência.''
O ministro
ressaltou que se deve aplicar ao processo penal o
princípio da dignidade da pessoa humana. Concluiu
elogiando o trabalho do candidato ao título de doutor,
sob a perspectiva de diálogo e crítica ao STF: ''Não
temam fazer críticas à jurisprudência do Supremo.''
Na sua tese,
Bottino do Amaral afirmou que o estado de exceção no
Brasil está presente na violência policial e do
Exército, na procuradoria e também nos tribunais.
''Felizmente não está no Supremo e também não esteve
antes, mesmo com a mudança total dos componentes da
corte'', afirmou, após ter estudado a jurisprudência do
STF de 1988 a 2007.
O autor, que
teve a tese aprovada, citou a ''banalização dos
monitoramentos telefônicos e a exibição de pessoas com
algemas, sem necessidade, e de roupas íntimas, na
intimidade do seu lar''. Era uma referência direta à
prisão do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, filmado
quando era preso, ainda de pijama, na Operação
Satiagraha.
''A gente vive
um regime de caça às bruxas até dentro de tribunais, com
muita gente cedendo à pressão'', disse o advogado.
Também integrava a banca o professor Mauro Dias, que
referiu-se à existência de um ''terrorismo estatal'' no
País: ''O ativismo judicial tem levado o Judiciário a
opções trágicas.''
EMBATES
Os atritos entre
Mendes e juízes e procuradores começaram após a sua
decisão de libertar, às 23h30 de quarta-feira, dia
seguinte à operação da PF, o banqueiro Daniel Dantas.
Eles criticaram a decisão do presidente do STF.
Na quinta-feira,
porém, o juiz De Sanctis mandou prender preventivamente
Dantas, sob a acusação de corrupção ativa. O chefe do
Supremo se sentiu afrontado e viu descumprimento à sua
ordem anterior. Tanto que pediu investigação do
magistrado pelo Conselho Nacional de Justiça, pelo
Conselho da Justiça Federal (CJF) e pela corregedoria do
Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região. Essa
iniciativa gerou o abaixo-assinado de juízes federais
defendendo De Sanctis.
Fonte: Estado de S. Paulo, de
13/07/2008