Empresa com atividades distintas está sujeita a regras
tributárias diferentes
As
atividades desempenhadas pela empresa Promptel
Comunicações S/A – serviços de radiochamada e
comercialização e locação de pagers – têm naturezas
distintas, estando sujeitas, portanto, a regras
tributárias diferentes. Com esse entendimento, a Segunda
Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) indeferiu o
pedido do Estado do Rio de Janeiro para modificar
decisão do Tribunal de Justiça do Estado.
O
TJRJ, na linha do que foi decidido na sentença, entendeu
que o benefício da redução da base de cálculo do ICMS,
previsto no Convênio 115/96, aplica-se apenas aos
serviços de radiochamada, de modo que somente sobre
esses serviços o contribuinte fica proibido de
aproveitar os créditos respectivos, não tendo incidência
a vedação nas operações de venda de aparelhos utilizados
no serviço.
No
STJ, o Estado do Rio de Janeiro alegou que houve a
violação do parágrafo único da cláusula segunda do
Convênio do ICMS 115/96, sustentando que a empresa, ao
optar pela redução da base de cálculo do ICMS, não
poderia aproveitar quaisquer créditos fiscais da exação,
sejam aqueles relativos ao serviço de radiochamada, seja
qualquer crédito oriundo do ICMS, independentemente de
ter sido gerado pela venda dos aparelhos ou pelos
serviços em si.
Ao
decidir, a relatora, ministra Eliana Calmon, destacou
que o convênio foi elaborado com o objetivo de autorizar
os Estados e o DF a conceder redução de base de cálculo
do ICMS tão-somente nas prestações de serviços de
radiochamada. Logo, afirmou a relatora, “observa-se que
vedar a utilização de quaisquer créditos de ICMS, tal
como pretendido pelo Estado do Rio de Janeiro, foge ao
alcance dos fins buscados pela norma”.
A
ministra ressaltou, ainda, que a empresa, além de
prestar serviços de radiochamada, realiza, também, a
comercialização dos aparelhos (pagers), atividade que
também constitui fato gerador do ICMS.
“Depreende-se, portanto, que, caso se entendesse que o
contribuinte, ao optar pela redução da base de cálculo
do ICMS devido nos serviços de radiochamada, estaria
abrindo mão de quaisquer créditos ou benefícios fiscais
da mencionada exação que não estivessem relacionados com
o citado serviço, concluiria-se que o princípio da
não-cumulatividade cairia por terra, fato que implicaria
em ofensa ao artigo 155, §2º, I, da CF”, assinalou.
Fonte: Superior Tribunal de Justiça, de 11/10/2007
Motorola quer preservação de incentivos
Arnaldo Galvão
Greg
Brown, presidente mundial de operações da Motorola:
projetos em jogo
A
preservação de incentivos fiscais e o câmbio são duas
preocupações da Motorola no Brasil, segundo seu
presidente de Operações Mundiais, Greg Brown. Os
estímulos tributários foram decisivos para que essa
gigante global das telecomunicações escolhesse, no
início dos anos 90, a cidade paulista de Jaguariúna para
investimentos bilionários. Outro problema é o real
valorizado que vem reduzindo a competitividade na área
de pesquisa e desenvolvimento da empresa.
Brown
esteve ontem em Brasília para o encontro de líderes
empresariais do Brasil e dos Estados Unidos e aproveitou
para encontrar-se com os ministros Hélio Costa
(Comunicações) e Tarso Genro (Justiça).
O
planejamento da Motorola depende da manutenção dos
incentivos da Lei de Informática que reduzem de 15% para
3% a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI). Em troca, 5% do faturamento devem ser investidos
em pesquisa. Além disso, o governo paulista também dá incentivos que reduzem
sensivelmente a carga do Imposto sobre a Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS).
"São
Paulo é o motor econômico do Brasil. É fundamental que o
atual ambiente fiscal continue a promover de maneira
contínua a inovação tecnológica e também permita
investimentos nos próximos anos", disse Brown. Segundo
ele, a Motorola já investiu quase US$ 1 bilhão na
capacidade produtiva e em pesquisas de engenharia. Com
quase 8 mil empregados no país, a empresa informou que,
nos últimos dez anos, exportou cerca de US$ 5 bilhões.
Os
dados oficiais da balança comercial mostram que a
Motorola realizou vendas externas de US$ 825,14 milhões
de janeiro a agosto, resultado que levou a empresa ao
15º lugar entre as empresas exportadoras e a liderança
no segmento de tecnologia da informação. Na comparação
com o mesmo período em 2006, houve queda de 8,74% nos
valores das suas exportações.
A
Motorola não está imune à perda de competitividade
internacional provocada pela valorização do real, mas
Brown informou que o impacto é maior nas atividades de
pesquisa e desenvolvimento, o que exige mais
produtividade para compensar os impactos. Segundo a
empresa, mil engenheiros trabalham com pesquisa e
desenvolvimento e também há diversos convênios com
universidades. "Desde 1997, já aplicamos mais de US$ 290
milhões apenas em pesquisas no país", comentou.
Nesse
contexto de guerra fiscal, Greg Brown garantiu que não
há intenção de seguir os passos da Nokia. Segundo o
governo brasileiro, a multinacional com sede na
Finlândia reduziu drasticamente suas exportações de
celulares a partir da unidade de Manaus (AM) e
transferiu essas operações para o México. Na visão do
presidente de operações mundiais da Motorola, a empresa
"está satisfeita com sua estratégia no Brasil e tem um
compromisso com o desenvolvimento econômico de longo
prazo do país".
Brown
afirmou que as flutuações do câmbio não alteram o
compromisso central de a Motorola produzir e distribuir
no Brasil, apesar do pequeno impacto que vem reduzindo
de maneira "discreta" a competitividade.
Fonte: Valor Econômico, de 11/10/2007
Clientes abrem "guerra" contra o preço do aço
André
Barros
As
siderúrgicas começaram a sentir a pressão dos dois lados
da cadeia devido ao preço do aço praticado no mercado
interno. Enquanto os seus clientes batem o pé e ameaçam
ampliar a importação dos produtos, inclusive com defesa
do governo para isenção tributária, os fornecedores
reclamam de receber pressão cada vez maior para abaixar
os preços de seus produtos, em um momento de alta da
cotação mundial do aço.
Sergio Machado, presidente da Transpetro, subsidiária
logística da Petrobras, afirmou que o produto está com
preço 30% acima do praticado pelas mesmas empresas no
mercado internacional.
O
executivo inclusive acenou com a possibilidade de
importar chapa grossa para a produção de seus navios.
Cledorvino Belini, presidente da Fiat Automóveis,
recentemente comentou que a montadora importou uma
quantidade da Ásia, também por conta do preço
brasileiro. E esbravejou, dizendo que a indústria do aço
quer acabar com o setor automobilístico brasileiro.
Mas
Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do
Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), afirma que é
uma prática normal as siderúrgicas utilizarem preços
diferentes para o mercado interno e para a exportação.
"É assim aqui e no mundo inteiro, já que os produtos
exportados são desonerados de tributação", diz. De fato,
os aços embarcados recebem isenção do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em vários
estados brasileiros. Ele afirma também que há ainda os
custos logísticos para o embarque do aço, assim como a
carga tributária do país de destino. Dessa forma, o
preço do aço externo, se equivalente ao interno, não
seria competitivo.
A
assessoria de comunicação da Secretaria de
Desenvolvimento Econômico informou, baseando-se em
números da indústria naval, que o mercado internacional
negocia a tonelada de chapa grossa por US$ 1.025, já com
o frete. Enquanto isso, as empresas brasileiras têm de
pagar R$ 2.597 por tonelada do mesmo aço (equivalente a
US$ 1.438).
"O
preço que a Transpetro tem usado como base de comparação
não é justo, pois são os preços asiáticos, sem os
impostos. Não se pode comparar situações tão
diferentes", defende-se Marco Polo.
Para
ele, é inexplicável a tentativa da Transpetro de expor
as negociações para a imprensa. "Fico surpreso com este
tipo de atitude da Transpetro e a insistência da
imprensa em tocar no assunto. É preciso deixar claro que
o aço não é problema, e sim solução para toda a
indústria", diz o vice-presidente.
Procurada pelo DCI, a Usiminas, única fabricante do
produto no Brasil, afirmou que não comenta assuntos
relativos a preços. A empresa disse também que as
negociações são feitas caso a caso diretamente com o
cliente.
Solução
O
secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico,
Energia, Indústria e Serviços, Julio Bueno, argumentou
que a alternativa da Transpetro seria importar aço. Mas
o preço ficaria quase equivalente, por conta do ICMS
cobrado na importação (15%, mais 1% do Fundo de
Pobreza). O imposto eleva o preço do produto em cerca de
20%. Por isso irá encaminhar ao governador do estado do
Rio de Janeiro, Sergio Cabral o pedido de isenção do
imposto para importar a matéria-prima.
O IBS
não é contrário à isenção de impostos para importar. "É
positivo, mas não acredito na variável da importação.
Acho que é uma tentativa de pressionar o setor", diz
Marco Polo. Ele reclama que há uma alta carga tributária
para o produto no Brasil, o que ajuda a elevar os preços
do aço no mercado interno e atrapalha também a
competitividade no exterior. "É preciso desonerar o
produto", completa.
De
qualquer forma, mesmo ainda sem nenhum tipo de isenção
tributária, a importação de aço, principalmente do
laminado plano - utilizado pelas indústrias automotiva e
naval - segue uma tendência de alta. De janeiro a julho
entraram no país 413,1 mil toneladas de aços planos,
superando em 42,1% o volume importado no mesmo período
do ano passado. E, embora a importação de outro tipo de
aço, os laminados longos tenha sofrido uma queda de
15,2% quando comparado os mesmos períodos, em julho
somou 48,3 mil toneladas, elevando em 94,4% o volume do
mesmo mês de 2006.
O
crescimento das importações é superior ao da demanda
doméstica, que também está muito aquecida. De janeiro a
agosto o setor comercializou no mercado local 12,8
milhões de toneladas de laminados, elevando em 18,4% as
vendas dos primeiros oito meses de 2006. O destaque fica
para os produtos planos, puxados pelo setor automotivo,
que tiveram crescimento de 18,7% no período.
Sucata
Na
outra ponta da cadeia, os fabricantes de sucata também
reclamam da pressão das siderúrgicas para baixar o preço
da sucata. De acordo com o presidente do Sindicato do
Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa e Não-Ferrosa do
Estado de São Paulo (Sindinesfa), Sergio Camarini, as
usinas impuseram a segunda diminuição de preços em dois
meses Até agosto deste ano, a tonelada do produto era
vendida a R$ 420, o preço caiu para R$ 390 no dia 1° de
setembro e deve, ainda este mês, ir para R$ 360.
Ele
reclama que as usinas vendem o aço a preços cada vez
maiores, mas reduzem o preço pago pela sucata e
desvalorizam o produto. Assim, os catadores passam a
coletar materiais como alumínio, vidro e papel, que
geram mais ganhos. Isso pode gerar uma falta de sucata
mais para frente, pois não há coleta de sucata de aço.
Ainda
segundo a entidade, a sucata ferrosa se desvalorizou
cerca de 38% nos últimos cinco anos, enquanto o preço do
aço já ultrapassou 100% de valorização no mesmo período.
Marco
Polo afirma não dizer exatamente como está o setor de
sucata, mas que isso não seria um problema muito grave
para as usinas. "Se o preço da sucata estiver muito
alto, compensamos utilizando ferro gusa", completa.
Fonte: DCI, de 11/10/2007