Nova
cobrança de ICMS rende R$ 3 bi a SP
O
governo do Estado de São Paulo elevou em R$ 2,89 bilhões a
arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços) de 23 setores, de maio de 2008 a abril deste ano,
ante o período imediatamente anterior. A ampliação do valor
é resultado da chamada substituição tributária.
Com
essa forma de cobrar ICMS, o recolhimento do imposto passa a ser
feito pelas indústrias, e não mais nas várias etapas de venda
dos produtos.
Para
a Secretaria da Fazenda, esse dinheiro a mais no caixa do
governo de São Paulo, que representa metade da arrecadação
mensal de ICMS ou cerca de 4% da arrecadação anual recolhida
em 2008, corresponde à sonegação fiscal concentrada no
atacado e no varejo.
"Não
há dúvida de que esse valor era sonegado. O faturamento da indústria,
do atacado e do comércio caiu 2% no acumulado de 12 meses
encerrados em abril [comparação com período imediatamente
anterior], enquanto a arrecadação de ICMS desses três setores
subiu 47,7%", afirma Guilherme Rodrigues Silva,
coordenador-adjunto da administração tributária. "O que
explica um contribuinte faturar menos e recolher mais ICMS? O
pagamento de imposto que antes não era feito", diz
Rodrigues Silva.
Sistema
na mira
Assim
que foi adotado, no início de 2008, o recolhimento antecipado
de ICMS foi criticado pelos empresários. Para eles, esse
sistema de cobrar ICMS resulta em alta de preços.
O
ministro da Fazenda, Guido Mantega, também criticou
publicamente Estados que adotaram a substituição tributária
num momento em que as empresas precisam de recursos em caixa
para minimizar os efeitos da crise.
A
Fazenda paulista discorda. Considera que a substituição tributária
apenas desloca para o início da cadeia produtiva o recolhimento
do ICMS, não eleva preço nem carga tributária e combate a
sonegação. A indústria também tem um prazo de 90 dias, após
a venda do produto, para recolher o imposto.
As
práticas irregulares mais comuns adotadas pelo comércio e pelo
varejo, segundo Rodrigues Silva, são a venda sem nota fiscal e
as operações com outros Estados que concedem benefícios
fiscais sem o aval do Confaz (Conselho Nacional de Política
Fazendária).
A
previsão do coordenador-adjunto da administração tributária
é que a arrecadação de ICMS deva subir mais à medida que os
setores se adaptem ao novo regime. Neste ano, 11 setores
passaram a recolher o imposto pelo sistema, como o eletroeletrônico,
o de bicicletas e o de materiais elétricos.
No
fim de maio, os atacadistas afirmaram que o regime de substituição
tributária provocou queda de 50%, em média, na receita do
setor e que empresas paulistas estavam transferindo seus negócios
para Estados que não adotam esse sistema de tributação e que
teriam preços menores.
"Nossos
números não mostram isso. Os varejistas estão comprando mais
dentro do Estado", afirma Rodrigues Silva. Cita exemplos:
88% das compras de produtos de higiene pessoal pelo varejo eram
feitas dentro do Estado entre maio de 2006 e abril de 2008. De
janeiro a abril deste ano, esse percentual subiu para 90,9%. No
caso de produtos farmacêuticos, as compras feitas no Estado
subiram de 79,9% para 83%. No de produtos de limpeza, de 80,2%
para 90,6%. E, no de alimentos, de 77,2% para 80,7%.
Fonte:
Folha de S. Paulo, de 5/07/2009
Sonegação
não explica todo o aumento, dizem empresas
Representantes
da indústria, do atacado e do varejo admitem que a substituição
tributária diminui a sonegação fiscal, mas entendem que há
também outras razões para explicar os quase R$ 3 bilhões
extras que entraram no caixa do Estado de maio de 2008 a abril
deste ano.
Entre
elas, citam a cobrança de ICMS também sobre os estoques, o
fato de as pequenas empresas (que recolhiam alíquota menor no
Simples) passarem a pagar o mesmo percentual que os demais
contribuintes e distorções no cálculo do imposto que as
empresas são obrigadas a pagar.
A
substituição tributária eleva a arrecadação pelo combate à
informalidade, diz Hélcio Honda, diretor do departamento jurídico
da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"Mas não é só isso. Agora há recolhimento de ICMS sobre
estoques, e microempresas que estavam no Simples não têm mais
o benefício de pagar alíquota menor."
Para
ele, a Fazenda paulista precisa fazer ajustes em alguns
produtos, já que o cálculo usado para cobrar o imposto leva em
conta uma margem de valor agregado (usada para calcular
antecipadamente o valor do imposto) que pode não corresponder
à realidade. "Aos poucos a Fazenda paulista vem corrigindo
essas distorções", diz.
Abram
Szajman, presidente da Fecomercio SP (Federação do Comércio
do Estado de São Paulo), afirma que parte dos R$ 3 bilhões é
resultado do combate à sonegação, mas não concorda que só
esse argumento usado pela Fazenda explique o incremento na
arrecadação.
"Setor
dinâmico"
"O
comércio é um setor dinâmico, que faz descontos, promoções
e liquidações para sobreviver e atrair o consumidor. Mas o
imposto pago nem sempre foi calculado com base nesse preço
menor que está sendo oferecido ao consumidor", diz
Szajman. "Se o recolhimento foi feito sobre um preço
maior, o setor está pagando mais imposto do que deveria, o que
justifica, em parte, o aumento de arrecadação
verificado."
Para
Romeu Bueno de Camargo, assessor jurídico da Fecomercio SP,
apesar de todas as discussões para ajustar e corrigir os índices
estabelecidos pela Fazenda paulista para fazer a cobrança do
ICMS no regime de substituição tributária, ainda há distorções
que prejudicam o comércio e a indústria.
"A
Fecomercio não compactua com a sonegação fiscal. Nosso princípio
é o da legalidade. Mas isso não significa aceitar regras que
punam os que cumprem suas obrigações", diz Camargo.
"A Fazenda abre espaço para rediscutir as margens cobradas
quando os setores apontam problemas nas pesquisas que servem de
base para calcular o imposto a ser pago. Mas, nesse caso, quem
tem de arcar com os custos de novas pesquisas para corrigir
distorções são os empresários."
Sandoval
de Araújo, presidente da Adasp (Associação de Distribuidores
e Atacadistas de Produtos Industrializados do Estado de São
Paulo), que reúne 585 empresas, diz que nunca teve dúvidas de
que a substituição tributária elevaria a arrecadação de
ICMS.
"Em
reunião na Secretaria da Fazenda, até afirmei que, no setor de
atacado, a arrecadação de ICMS iria duplicar. Não somos
contra a substituição tributária. Apenas queremos fiscalização,
pois há lojistas e atacadistas indo buscar produtos fora do
Estado em busca de preços menores. Se todas as empresas pagarem
imposto, não haverá concorrência desleal", afirma o
presidente da Adasp. (FF e CR)
Fonte:
Folha de S. Paulo, de 5/07/2009
Ex-secretário
contesta críticas de Mantega a cobrança estadual
Para
o ex-secretário da Receita Federal e consultor tributário
Everardo Maciel, o ministro Guido Mantega (Fazenda) não está
"suficientemente informado" ao afirmar que os
incentivos fiscais concedidos pelo governo -como a redução do
IPI para automóveis e linha branca- estão sendo
"anulados" nos Estados que adotam o regime de
substituição tributária, como o de São Paulo.
A
Folha procurou o ministro, por meio de sua assessoria, e não o
localizou até a conclusão desta edição para comentar a
afirmação do ex-secretário da Receita Federal.
"O
ministro não está suficientemente informado sobre os prazos
dados para o recolhimento do ICMS no regime de substituição
tributária. Ele [Mantega] disse que a redução do IPI ficou
prejudicada porque houve antecipação do pagamento do imposto.
Eu digo que não existe isso porque o prazo para pagar o imposto
é de 90 dias [desde o momento da venda]", diz Maciel.
"O
pagamento do ICMS foi deslocado [da cadeia produtiva] e passou a
ser responsabilidade da indústria. Mas o prazo para pagar não
foi antecipado, é de 90 dias", diz o ex-secretário da
Receita Federal.
A
polêmica começou há cerca de dez dias, quando Mantega abordou
o assunto durante uma reunião com representantes do varejo em São
Paulo.
Na
ocasião, o ministro declarou: "Tecnicamente, a substituição
tributária é correta porque diminui a sonegação, mas fazer
isso neste momento, durante a crise, e nos produtos que estamos
desonerando, é uma contramedida".
Para
o ex-secretário da Receita, há muita desinformação também
entre os empresários sobre o regime. "A Secretaria da
Fazenda paulista deveria intensificar o trabalho de
esclarecimento para evitar o pânico causado pela desinformação."
Aumento
no caixa de SP
Na
avaliação de Maciel, não há dúvida de que os quase R$ 3
bilhões de arrecadação de ICMS que entraram a mais nos cofres
do governo paulista eram antes sonegados. "A substituição
tributária diminui enormemente a sonegação fiscal. Vi isso
quando estava no governo federal no caso do PIS e da Cofins para
o setor automotivo", afirma.
Para
Welinton Mota, consultor tributário da Confirp, a substituição
tributária é uma medida eficaz contra a sonegação e serve
para fazer "justiça social". "O Estado passa a
recolher uma parte do imposto que não era contabilizada e
devolve esse valor em benefícios para a população."
Fonte:
Folha de S. Paulo, de 5/07/2009
Dívida
de precatórios nos Estados sobe 76% em 5 anos
As
dívidas dos 26 Estados e do Distrito Federal relacionadas a
precatórios - resultantes de sentenças judiciais - aumentaram
76% em cinco anos, em termos reais, corrigidas pela inflação.
O valor, que estava na casa dos R$ 20,6 bilhões no início de
2004, saltou para R$ 36,2 bilhões até o último cálculo
consolidado, de abril de 2009.
O
levantamento, realizado pelo Estado com base nos relatórios de
gestão fiscal das 27 unidades da Federação, demonstra que São
Paulo tem o maior saldo devedor. A dívida paulista saltou de R$
11,5 bilhões em 2004 para a casa dos R$ 20 bilhões em 2009. O
valor atual corresponde a 70% do total das dívidas estaduais. A
evolução do saldo da dívida paulista em cinco anos bate na
casa dos 72% - perto da média nacional.
O
crescimento da dívida está relacionado a dois fatores
principais - ritmo lento de pagamento e correção por juros
altos. Os principais devedores não obedecem ao cronograma de
pagamentos determinados pela Justiça. E boa parte dos precatórios
é corrigida por juros de 12% ao ano, mais correção monetária.
Entre
os principais devedores do País aparecem ainda o Paraná, com
R$ 4,3 bi, e o Distrito Federal, com R$ 3,3 bi. A situação do
Distrito Federal, porém, é peculiar. Segundo os relatórios,
sua dívida com precatórios protagonizou um salto estratosférico
de quase 14.000% de uma hora para a outra. A secretaria da
Fazenda descobriu, em 2005, que devia R$ 1 bilhão a mais do que
acreditava.
De
acordo com o atual subsecretário da Fazenda, André Clemente, o
governo do Distrito Federal não pagou nem sequer um precatório
durante 10 anos. E a dívida, que se acumulava ano a ano, não
era contabilizada. As ações dos credores estavam pulverizadas
na Justiça. Não havia meios de consolidar o valor final.
Foi
preciso que, em 1999, uma equipe de advogados começasse uma
"garimpagem" nos Tribunais de Justiça para descobrir
o tamanho do rombo. "Foi um trabalho pesado", observou
Clemente. Segundo ele, a dívida não foi paga assim que
descoberta porque "isso poderia gerar sequestro de receita,
se um precatório fosse pago fora da ordem cronológica".
Quando
enfim os dados foram consolidados, cinco anos depois, o valor
bilionário apareceu pela primeira vez em um relatório de gestão
fiscal do Distrito Federal.
Segundo
o subsecretário, o governo pretende, apesar do rombo bilionário,
"exaurir" o saldo de precatórios. "Negociamos a
dívida dos médicos, que somava mais de R$ 700 milhões. Ninguém
acreditava que seria paga", informou. O abatimento, porém,
ainda não apareceu no saldo final porque "não foi dado
baixa", garantiu.
De
acordo com ele, o governo está reservando 1% da receita
corrente líquida anual para o pagamento de precatórios - cerca
de R$ 90 milhões ao ano. "Estamos estudando aumento da
previsão orçamentária."
Livres
mesmo de situações como a do Distrito Federal estão apenas
seis Estados, que não devem precatórios. Segundo os relatórios
de gestão fiscal, Roraima, Alagoas, Amazonas, Amapá, Goiás,
Maranhão e Pará têm saldo zero. Em contrapartida, nos últimos
cinco anos, entraram para o clube dos devedores Mato Grosso do
Sul, Paraíba, Rondônia e Tocantins.
LOBBY
A
explosão do saldo global de precatórios do País e sustos como
o protagonizado pelo Distrito Federal são a razão de ser do
lobby promovido por governadores e prefeitos para mudar as
regras no pagamento das dívidas. São eles que estão por trás
das pressões em torno da emenda constitucional que cria um teto
para os desembolsos - a chamada PEC dos Precatórios. A proposta
já foi aprovada pelo Senado e tramita na Câmara dos Deputados.
Além
de estabelecer um teto anual para os pagamentos feitos por
Estados e municípios, a emenda prevê leilões de deságio. Com
esse mecanismo, os credores que derem descontos maiores poderão
passar na frente da fila de pagamentos.
A
proposta é chamada de "PEC do calote" por entidades
da sociedade civil, especialmente a Ordem dos Advogados do
Brasil.
Fonte:
Estado de S. Paulo, de 6/07/2009
''Guerrilha
jurídica'' para barrar nova legislação do cigarro está a
todo vapor
Ainda
faltam 31 dias para a lei que proíbe o fumo em ambientes
coletivos, públicos e privados no Estado passe a vigorar, mas o
governo estadual já registrou duas derrotas na Justiça e
enfrentou outros cinco pedidos de liminares de associações
contrárias à legislação. Em uma das batalhas perdidas, o
governo conseguiu reverter a situação e fazer com que a lei
voltasse a valer para bares e restaurantes. Porém, uma outra
liminar obtida pela Federação de Hotéis e Similares
(Fehoresp) ainda limita o alcance da lei antifumo para os
segmentos associados a essa entidade. Dois pedidos de liminares
tiverem posicionamento favorável ao Estado e outros três estão
em análise.
Os
defensores da inconstitucionalidade da lei antifumo dizem que a
medida bate de frente com a lei federal que, em 1996, previu os
fumódromos. "A lei é estúpida, autoritária e
inconstitucional. Uma lei estadual não pode se sobrepor a uma
lei federal, que regula áreas para fumantes nos
estabelecimentos comerciais", afirma Percival Maricato,
diretor jurídico da Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes de São Paulo (Abrasel), que já teve duas
liminares contra a lei negadas pela Justiça.
"O
governo pede que a população ajude a denunciar e não percebe
que está estimulando a criação de uma sociedade de
?dedos-duros?. A questão do cigarro em estabelecimentos
comerciais poderia ser regulamentada naturalmente, pelo próprio
mercado."
Fonte:
Estado de S. Paulo, de 6/07/2009
CNI
critica expansão do sistema de substituição tributária
A
CNI (Confederação Nacional da Indústria) engrossa o coro do
ministro da Fazenda, Guido Mantega, contra a generalização do
sistema de substituição tributária dos governos estaduais. A
entidade está promovendo estudos para mensurar o impacto do
sistema nos preços dos produtos, na concorrência e na carga
tributária paga pelas empresas.
"O
sistema pode representar um aumento da tributação para a indústria
pelo custo da antecipação financeira de recursos por toda a
cadeia produtiva", afirma Flávio Castelo Branco,
economista-chefe da CNI.
Segundo
ele, a entidade tem recebido reclamações de associadas de
todos os setores sobre o sistema. A substituição tributária
promove o recolhimento antecipado do ICMS de toda a cadeia
produtiva na indústria.
Castelo
Branco afirma que a CNI não é contrária a todos os sistemas
de substituição tributária, mas defende que eles deveriam se
limitar a mercados concentrados.
"Essa
forma de tributação deveria ser uma exceção à regra, e não
o contrário. Há uma tendência hoje de disseminação desse
sistema para aumentar a arrecadação dos Estados."
Na
semana passada, Mantega disse que a ampliação do sistema de
substituição tributária vem em um momento inoportuno. O
sistema entrou em vigor em São Paulo neste mês para o segmento
de linha branca, que recebe desoneração de IPI pelo governo
federal.
Mantega
chegou a dizer que a substituição tributária era uma
"contramedida" dos governos estaduais. O motivo,
afirmou, é que leva a indústria a não repassar totalmente a
desoneração do imposto federal pelo impacto que sofre no caixa
por antecipar o pagamento de ICMS de toda a cadeia.
O
presidente da Eletros (associação dos fabricantes de eletrodomésticos),
Lourival Kiçula, não quis se posicionar sobre as afirmações
do ministro. Ele disse apenas que não houve aumento de preços
na indústria dos produtos da linha branca desde que o IPI foi
reduzido.
Fonte:
Folha de S. Paulo, de 6/07/2009