Ceará
pode baixar ICMS de diversos produtos
O Ceará
estuda a redução do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) de diversos produtos
acabados. De acordo com Mauro Filho, secretário da
Fazenda cearense, o Estado deve reduzir o imposto de dez
mercadorias a cada quatro meses. "Com essa fórmula,
esperamos aumentar a arrecadação do Estado porque as
empresas vão vender mais. Outras também vão buscar se
formalizar", afirma o secretário. "Sempre
cobra-se a reforma tributária do governo federal. O
Ceará quer mostrar que os Estados já podem começar a
colocá-la em prática."
A
expectativa do governo cearense também é fazer com
que, ao comercializar mais, as empresas acabem, conseqüentemente,
gerando mais empregos. Seria uma forma alternativa à
concessão de benefícios às indústrias.
Para que o
Estado não acabe perdendo arrecadação com essa
medida, o secretário da Fazenda afirma que o governo
ficará monitorando regularmente a arrecadação para
verificar os efeitos da ação sobre a receita estadual.
Por
enquanto, Mauro Filho não revela quais são os itens
que serão beneficiados. Apenas diz que entre as
prioridades estão itens relevantes na economia
cearense, como alimentos, calçados e artigos têxteis.
Do lado
das tradicionais concessões de benefícios fiscais para
a instalação de novas empresas, o secretário cearense
diz que elas devem sofrer uma pequena redução neste
ano, de R$ 320 milhões em 2006 para R$ 300 milhões em
2007. "O modelo de incentivo já está se tornando
bastante oneroso. Por isso seremos mais seletivos a
partir de agora", diz ele. (CM e PC)
Fonte:
Valor Econômico, de 01/07/2007
Grupo
que busca autonomia do TJSP cria cronograma
Felipe
Frisch
A Frente
Parlamentar de Apoio à Autonomia Financeira do Poder
Judiciário do Estado de São Paulo - formada por 20
deputados da Assembléia Legislativa com o objetivo de
propor leis para tornar a gestão da Justiça paulista
independente de recursos repassados pelo Executivo - se
reuniu na semana passada com as entidades
representativas do setor para discutir as mudanças
necessárias. A frente deverá ter reuniões mensais a
partir de agosto e deverá constituir uma comissão para
ir ao Rio de Janeiro acompanhar o funcionamento do
modelo fluminense, considerado a inspiração para as
alterações no Judiciário paulista. Após a visita,
deverá ser elaborado um documento com os objetivos que
vão orientar os trabalhos da frente.
Até o
momento, o grupo, constituído no mês passado em
parceria com o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP),
não tem projetos editados ou encaminhados. Desde que
conquistou a autonomia financeira, o Tribunal de Justiça
do Rio de Janeiro (TJRJ) viu sua receita financeira
anual aumentar quase 70 vezes. De uma arrecadação
anual total em torno de R$ 4,023 milhões em 1996 -
quando foi editada a Lei estadual nº 2.524, que
garantiu a auto-gestão financeira -, o TJ fluminense
passou a administrar R$ 276,621 milhões em 2005, últimos
dados anuais consolidados.
Dos quase
R$ 300 milhões arrecadados no último ano com dados
fechados, 39,16% vieram das taxas judiciais, 36,42% das
taxas extrajudiciais e 21,86% das custas. Hoje, em São
Paulo e na maioria das unidades da federação, estes
valores vão para o Executivo estadual, que faz o
repasse ao Judiciário dentro do limite de 6% de seu orçamento,
estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Fonte:
Valor Econômico, de 01/07/2007
SPPrev
terá arma contra fraudes
Novo
gestor único da Previdência paulista vai adotar
‘inteligência previdenciária’, cruzando bancos de
dados
Carlos
Marchi
A recém-criada
São Paulo Previdência (SPPrev) vai adotar métodos de
“inteligência previdenciária” para detectar
eventuais fraudes nas aposentadorias dos servidores
estaduais. Essas fraudes foram estimadas em algo próximo
a 3% da folha dos 500 mil aposentados e pensionistas do
Estado, o que significa que o seu valor pode atingir R$
375 milhões por ano, segundo o superintendente do Ipesp,
Carlos Flory. Entre todas as instâncias de governo, a
Previdência é o setor mais atrasado na adoção de
recursos de inteligência, diz o economista Flávio
Rabelo, professor da Fundação Getúlio Vargas
(FGV-SP).
São Paulo
será o primeiro Estado a concluir as mudanças na
Previdência, antes mesmo do governo federal,
patrocinador da reforma. A primeira fase foi concluída
em tempo recorde. Em exatos seis meses, o governo José
Serra (PSDB) aprovou os projetos que equacionam a maior
conta e o maior déficit do Estado: a Previdência dos
servidores estaduais, um buraco sem fundo que soma R$
154 bilhões (valor que teoricamente o Estado deveria
ter em caixa para garantir as aposentadorias e pensões),
quase duas vezes o Orçamento estadual para 2007, e gera
uma insuficiência de R$ 10,5 bilhões a cada ano.
Com a adoção
de mecanismos de “inteligência previdenciária” será
possível integrar o banco de dados da SPPrev com os
bancos de dados do INSS, da Receita Federal, de outros
governos e municípios. Com os instrumentos atuais, se
um servidor se aposentar por invalidez e voltar a
trabalhar em uma prefeitura, em outro Estado ou em
alguma empresa privada, o Ipesp, antecessor da SPPrev,
dificilmente descobriria. Com o cruzamento dos bancos de
dados, essa e outras fraudes serão facilmente
detectadas.
Na
implantação da reforma da Previdência paulista, o
governo deverá fechar a massa dos servidores atuais,
gerida no sistema de repartição simples (o governo
recolhe as contribuições e paga as aposentadorias e
pensões, arcando com o déficit monumental), e abrir
uma nova massa com os servidores que forem sendo
contratados, a qual passaria a funcionar no regime de
capitalização - as contribuições dos servidores se
acumulam num fundo que financiará as futuras
aposentadorias. Com essa mudança, o encargo do governo
com a cobertura de aposentadorias e pensões vai se
reduzir ano a ano.
Com a
aprovação da reforma, o Estado recebeu, no dia 4 de
junho, o primeiro Certificado de Regularidade Previdenciária
(CRP) livre de pendências em muitos anos. Emitido pelo
Ministério da Previdência, tem o número 954001-48369,
validade até setembro de 2007 e um significado muito
especial: sem ele, o governo paulista não poderia
celebrar contratos nem receber repasses ou empréstimos
de quem quer que fosse, depois que o último CRP venceu
em 28 de maio.
NOITES DE
SONO
A criação
de um ente único na Previdência estadual, como manda a
Constituição, custou noites de sono e muita paciência
a Flory, que participou das negociações com servidores
do Executivo (inclusive Polícia Militar), Legislativo
(inclusive Tribunal de Contas), Judiciário, Ministério
Público e universidades. Com todos os projetos
aprovados, o próximo passo será iniciar a implantação
da SPPrev, que será concluída até 1º de janeiro de
2008, como manda a Constituição. É muito provável
que São Paulo seja o único Estado a atingir esse estágio.
A criação
de um ente único vai permitir que a gestão da Previdência
ganhe em eficiência e na adoção de critérios
uniformes para a concessão de benefícios. Até aqui,
nada garante que os critérios adotados pelos três
Poderes, autarquias, fundações e universidades eram
homogêneos. “O modelo em São Paulo é o mais
completo que existe no Brasil”, opinou Rabelo.
Fonte:
O Estado de S. Paulo, de 02/07/2007
Uma
solução que valeu R$ 15 bi
Em meio às
negociações para definir o novo modelo, o grande
impasse era a situação dos 205 mil servidores temporários
contratados desde 1974 que, pela lei, deveriam estar
contribuindo para o INSS, mas recolheram para os cofres
do Tesouro paulista. O INSS foi à Justiça para receber
o acumulado, uma bagatela de R$ 15 bilhões.
Até o início
deste ano, a única reação do governo paulista tinha
sido contestar, na Justiça, a constitucionalidade da ação
do INSS.Nas negociações, a pressão da Apeoesp,
sindicato dos professores, para o governo absorver os
temporários foi grande. “Era uma pendência grave e
foi resolvida por uma negociação brilhante”, diz o
economista Flávio Rabelo.
A
“negociação brilhante” foi uma solução engenhosa
que livrou o governo paulista, a um só tempo, de três
enormes problemas: atendeu às cobranças da Apeoesp,
fechou a porta à contratação de novos temporários e
estancou o desembolso dos R$ 15 bilhões. A saída foi
simples. O governo paulista requalificou os temporários
como efetivos, declarou que ninguém mais será
contratado nessa condição e assumiu o compromisso de
pagar, ao longo do tempo, a aposentadoria deles.
O
governador José Serra e o ministro da Previdência,
Luiz Marinho, apuseram suas concordâncias à solução
numa cópia do projeto encaminhado à Assembléia.
Agora os
antigos temporários não serão mais formalmente
demitidos todo mês de dezembro e recontratados em
fevereiro. A solução criativa está agora sendo
copiada por outros Estados que também têm servidores
temporários, informa Rabelo.
Fonte:
O Estado de S. Paulo, de 02/07/2007
OPORTUNIDADE
LEGAL
Sai
quarta-feira o primeiro programa de parcelamento
incentivado do ICMS, montado pelo governo do Estado de São
Paulo. Até hoje, o único incentivo que a Secretaria da
Fazenda dava ao devedor era o de pagar à vista. Quem
aderir, poderá parcelar em 15 anos, terá redução de
multa de até 75% e redução de juros de até 60%.
Vale
lembrar que estavam inscritos na dívida ativa de 2006
cerca de R$ 74 bilhões.
Fonte:
O Estado de S. Paulo, de 30/06/2007
Comunicado
CAT orienta contribuintes paulistas sobre Simples
Nacional
A
Secretaria da Fazenda publica em 30/06, no Diário
Oficial do Estado, o Comunicado da Coordenadoria da
Administração Tributária (CAT), sobre procedimentos a
serem adotados pelos contribuintes paulistas frente ao
Simples Nacional - Regime Especial Unificado de Arrecadação
de Tributos e Contribuições devidos pelas
Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, que entra em
vigor a partir de 1º de julho. As orientações devem
ser adotadas pelos contribuintes enquadrados no Simples
Paulista - Lei nº 10.086, de 19 de novembro de 1998,
que deixa de produzir efeitos.
O
Comunicado CAT dispõe que o contribuinte participante
do Simples Federal (Lei nº 9.317, de 5 de dezembro de
1996) será automaticamente enquadrado no Simples
Nacional, salvo se estiver impedido por alguma vedação
imposta pela Lei Complementar nº 123/06. Assim, podem
ocorrer as seguintes situações:
a) O
contribuinte que tiver seu enquadramento automático
vedado pela Secretaria Estadual da Fazenda
poderá visualizar o motivo da vedação no sítio
do Posto Fiscal Eletrônico da Secretaria da Fazenda na
internet (http://pfe.fazenda.sp.gov.br/), no início do
mês de julho, e, se for o caso, tomar as providências
para regularização visando exercer, ainda durante o mês
de julho, a opção por meio do sítio do Simples
Nacional (www.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional/);
b) Na hipótese
de ter ocorrido vedação por existência de débito de
ICMS, o contribuinte deverá verificar no sítio do
Posto Fiscal Eletrônico quanto à possibilidade de
parcelamento;
c) O
contribuinte enquadrado automaticamente no Simples
Nacional que não pretender permanecer nesse regime
deverá solicitar sua exclusão durante o mês de julho
por meio do sítio do Simples Nacional.
Já o
contribuinte não participante do Simples Federal, que
pretenda ingressar no Simples Nacional, e desde que
atenda aos requisitos da Lei Complementar n° 123/06,
deverá exercer a opção durante o mês de julho por
meio do sítio do Simples Nacional. Caso possua débito
de ICMS, o contribuinte deverá verificar no sítio do
Posto Fiscal Eletrônico quanto à possibilidade de
parcelamento.
Nos próximos
dias a Secretaria da Fazenda também publicará no Diário
Oficial do Estado o Programa de Parcelamento Incentivado
(PPI), do qual poderá se valer o contribuinte com débito
de ICMS em atraso, relativos a fatos geradores ocorridos
até 31 de dezembro de 2006.
Os
optantes pelo Simples Nacional devem consultar legislação
e norma
Fonte:
Secretaria da Fazenda, de 29/06/2007
Criação
do Supersimples é novamente questionada no Supremo
Mais uma ação
chega ao Supremo Tribunal Federal (STF) questionando
dispositivos da Lei Complementar (LC) 123/2006, que
institui novo regime jurídico tributário para as micro
e pequenas empresas, conhecido como Supersimples. Dessa
vez pela Federação Brasileira de Associações de
Fiscais de Tributos Estaduais (Febrafite), que ajuizou a
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3910, com
pedido de liminar.
Para a
Febrafite, apesar de afirmar que a lei seria
complementar ao artigo 146, parágrafo único, alíena
‘d’ da Constituição Federal, na verdade o
legislador federal teria extrapolado os limites
estabelecidos pela mesma Constituição. Isto porque,
prossegue a federação, o Supersimples cria um novo
tributo federal que engloba, dentre outros, o Imposto
sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) e o Imposto
sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN).
“Ao
suprimir parcela fundamental das respectivas competências
normativas e administrativas de natureza tributária”,
ressalta a federação, diversos dispositivos da LC
123/06 violariam a autonomia financeira e tributária
dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios
brasileiros.
A ação
pede que STF suspenda liminarmente a eficácia dos
dispositivos questionados, “ainda que por meio de
declaração interpretativa conforme a Constituição”.
E, no mérito, que declare a inconstitucionalidade dos
dispositivos atacados.
Fonte:
STF, de 29/06/2007
Direto
do Plenário: STF julga mais de 92 mil processos no
primeiro semestre
Ao
encerrar a última sessão plenária do primeiro
semestre de 2007, a presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), ministra Ellen Gracie, informou que o
Plenário julgou exatos 5.264 processos até o dia 31 de
maio. Dois fatores foram fundamentais para a Corte alcançar
essa marca, muito maior que a dos anos anteriores: o
julgamento em bloco de processos, até então inédito
na Corte, sobre pensão por morte, e o aumento do número
das sessões extraordinárias. Até junho, foram
realizadas 49 sessões de julgamento no Plenário, sendo
que 30 foram extraordinárias.
No período,
houve um total de 92.632 decisões, somando-se as
colegiadas e as monocráticas (de um só ministro).
Outro destaque é a quantidade de acórdãos publicados
– cerca de 12 mil.
Fonte:
STF, de 29/06/2007
STJ
encerra semestre com um aumento de 55% de processos
recebidos
O Superior
Tribunal de Justiça (STJ) encerrou as atividades do
primeiro semestre deste ano registrando um aumento de
31,91% no número de processos julgados pelo Tribunal,
que passou de 118.071 em 2006 para 155.744 neste
semestre. Apesar da excelente marca, também houve
significativo aumento no número de processos distribuídos
e registrados. O acréscimo foi de 55,27% em relação
aos números relativos a esse mesmo período de 2006: de
2 de janeiro ao último dia 27, o STJ recebeu um total
de 163.621 autos. No ano passado, foram 105.377. Os números
foram divulgados pelo ministro Raphael de Barros
Monteiro Filho, presidente do STJ, na última sessão da
Corte Especial do semestre.
“É
importante ressaltar, no entanto, que tem crescido
igualmente nossa produção; ano após ano, cada
ministro tem julgado mais e mais. Neste semestre alcançamos
a média de 4.140 processos julgados por ministro”,
destacou o presidente. Acrestando que " posso
asseverar, porém, que, mesmo com tal volume de
processos, os indicadores que tenho não sugerem que
estejamos perdendo qualidade. Ao contrário, mostram que
estamos cumprindo com nossa Missão. Basta dizer que a
taxa de reforma interna no STJ é menor que 15%, e é
claro que pretendemos melhorar esse índice".
O número
de oito mil decisões proferidas pelo Núcleo de Agravos
da Presidência (Napre) também foi destacado pelo
presidente. O Napre foi criado em fevereiro deste ano
para impedir que agravos de instrumento manifestamente
inadmissíveis cheguem aos gabinetes.
Segundo o
presidente do STJ, ministro Raphael de Barros Monteiro
Filho, os resultados são gratificantes. Ele destacou
que a prova inconteste da efetividade do trabalho
realizado é a nova certificação do Sistema de Gestão
da Qualidade ISP 9001/2000 entregue à Secretaria Judiciária
em abril. Outra vitória, a seu ver, é a pré-seleção
do Tribunal pela revista Exame como uma das melhores
instituições do país para se trabalhar.
A primeira
colocação no Concurso Nacional de Prevenção do Uso
de Drogas no Ambiente de Trabalho, promovido pela
Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), em parceria com
o Serviço Social da Indústria (Sesi), também foi
lembrado pelo presidente Barros Monteiro. O prêmio (no
valor de R$ 6 mil) foi entregue pelo vice-presidente da
República, José Alencar, ao diretor-geral do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), Miguel Augusto Fonseca de
Campos, e à assistente social do Programa Alvorecer,
Irlene Márcia Cavalcante.
Os
ministros Nilson Naves e Humberto Gomes de Barros,
respectivamente diretor e vice-diretor da Escola
Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados
(INFAM), foram parabenizados pelos esforços na instalação
da escola. Em maio, com apenas um mês de funcionamento,
a instituição tornou-se membro da Rede Ibero-Americana
de Escolas Judiciais e foi eleita para compor a sua
Junta Diretiva.
“Expresso
os meus agradecimentos, portanto, aos eminentes pares,
cujo apoio e ingente trabalho são a causa dos
resultados alcançados”, finalizou o presidente Barros
Monteiro.
Fonte:
STJ, de 01/07/2007
De
cada 3 servidores do TJ-SP, só 1 trabalha na linha de
frente
por Lilian
Matsuura
De cada três
funcionários do Tribunal de Justiça de São Paulo,
dois trabalham na atividade meio. Ou seja, apenas um terço
dos funcionários trata do que a Justiça realmente tem
de tratar: do andamento do processo. A informação é
do presidente do maior tribunal do país, desembargador
Celso Luiz Limongi. A constatação, informa ele, foi
feita pela Fundação Getúlio Vargas, a quem o TJ
encomendou um amplo trabalho de auditoria e consultoria
para orientar a sua reforma administrativa.
Em
entrevista à revista Consultor Jurídico, Limongi
apontou alguns dos desvios responsáveis por tornar o
Judiciário um poder automaticamente associado à
morosidade: “Por exemplo, a petição inicial é
autuada em primeira instância. No tribunal, é
reautuada. Em qualquer apelação, o procedimento e
repetido. Só para esse trabalho, precisamos manter 180
funcionários no Tribunal de Justiça”.
O
presidente do TJ-SP intui que com um corpo de funcionários
menor, porém mais bem preparado e melhor distribuido,
pode-se aumentar a operacionalidade e a eficiência do
sistema.
Para o
desembargador, no que diz respeito ao Judiciário
paulista, um dos principais problemas está na sua
estrutura gigantesca — “é preciso reduzir o número
de funcionários” — e no orçamento que varia de
acordo com o humor do governador da ocasião. Limongi
defende que o Judiciário tenha orçamento fixo de 6% do
total do orçamento do estado.
A atual
gestão do TJ paulista investiu pesado em informática
na tentativa de dar celeridade aos procedimentos. Em um
ano e meio foram gastos R$ 300 milhões. “Ainda há
muita coisa para aperfeiçoar, mas conseguimos
informatizar 90% da rede de todo o Tribunal de Justiça”,
contou.
Questionado
sobre a febre de grampos em investigações, Limongi se
opôs à prática. “Não tem o menor sentido iniciar
uma investigação por meio de grampo. Não se investiga
mais. Coloca-se o grampo, que faz todo o resto. Está
errado”, disse. Para ele, as gravações telefônicas
só podem ser autorizadas nos casos em que existem sérios
indícios contra o investigado.
O mandato
do presidente do TJ acaba em dezembro. Em um balanço de
três quartos de sua administração, comemora a realização
das eleições para a escolha dos membros do Órgão
Especial. Segundo ele, os nove novos integrantes marcam
uma posição mais moderna em um colegiado conhecido
pela sua característica conservadora. “Essa eleição
é crucial, porque democratiza o Judiciário e muda o
modo de pensar.”
Mas
lamenta a impossibilidade de pagar pontualmente os
reajustes aos servidores. “Muitas vezes, o legislador
não é sincero. Faz uma lei e não há dinheiro para
cumpri-la”, criticou. Ao seu sucessor, sugeriu que não
desfaça o que foi feito. Dois juízes já lançaram
seus nomes para disputar o cargo: o atual
vice-presidente Caio Canguçu de Almeida e o
desembargador Ivan Sartori.
Os
jornalistas Elaine Resende, Fernando Porfírio, Márcio
Chaer e Rodrigo Haidar também participaram da
entrevista.
Leia os
principais trechos da entrevista
ConJur —
Como o senhor define a Justiça paulista?
Limongi
— O Judiciário paulista é gigantesco e, por isso,
difícil de governar. São 45 mil funcionários públicos
ativos e 10 mil aposentados. Em dez anos haverá mais 15
mil aposentados, de acordo com cálculo feito pela Fundação
Getúlio Vargas. É preciso reduzir o número de funcionários
e a informatização vai ajudar nisso.
ConJur —
Quanto custou a contratação da Fundação Getúlio
Vargas? O senhor está satisfeito com o trabalho?
Limongi
— Custou R$ 5,4 milhões por 17 meses de trabalho. Não
resolveu todos os problemas, mas trouxe vantagens. A GV
tem knowhow e conhece muito bem o Judiciário, não só
o paulista. Por isso, apontou erros e procedimentos
tolos que repetimos há mais de cem anos. Por exemplo, a
petição inicial é autuada em primeira instância. No
tribunal, é reautuada. Em qualquer apelação, o
procedimento é repetido. Só para esse trabalho,
precisamos manter 180 funcionários no Tribunal de Justiça.
ConJur —
Esses funcionários poderiam atuar como ajudantes dos
desembargadores nos recursos, para acelerar o andamento
processual.
Limongi
— Sim. Até porque com a informatização o processo
corre mais rápido, os juízes trabalham mais e precisam
de mais ajuda. Os despachos estão sendo cumpridos
imediatamente. Um exemplo disso é o convênio que
assinamos com a Receita Federal, por meio do qual o juiz
tem acesso à base de dados do Fisco. Há também a
penhora online. Em junho, mais de mil juízes receberam
a certificação digital, para dar certeza de
autenticidade da sentença no processo digital. Outros
seis mil funcionários vão receber a certificação.
Hoje, 10% da demora do processo é por conta do juiz,
20% por causa das partes e o restante fica por conta do
trâmite no cartório. Isso está mudando.
ConJur —
Juiz é bom administrador?
Limongi
— Não. O pior é que o juiz não é bom
administrador, mas pensa que é. Eu sei que não tenho
conhecimentos para administrar. Por isso contratei a
Fundação Getúlio Vargas para imprimir uma administração
profissional ao tribunal.
ConJur —
E quais os resultados?
Limongi
— Descobrimos, por exemplo, que de cada três funcionários
do tribunal, dois estavam na atividade meio. Não
interessa ter um monte de motoristas. Interessa ter
gente trabalhando no processo.
ConJur —
Qual é o volume de trabalho dos juízes e
desembargadores?
Limongi
— São quase 17 milhões de processos em andamento em
primeira instância, onde há cerca de dois mil juízes.
Em segunda instância são 600 mil processos divididos
entre os 360 desembargadores e 86 juízes substitutos em
segundo grau. Por dia, entram 26 mil processos. A
capital de São Paulo é pólo econômico. Muitas indústrias
estão instaladas no interior, que também se transforma
em um importante pólo econômico. Isso significa negócios
e, em conseqüência, conflitos. Daí esse volume
extraordinário.
ConJur —
O Poder Judiciário paulista depende totalmente da boa
vontade do Executivo em relação ao orçamento. Como
está a relação entre os dois poderes?
Limongi
— Pedimos R$ 5,7 bilhões e o governo liberou apenas
R$ 4,5 bilhões para este ano. Conversei com o
governador José Serra, que é um excelente
administrador e deve nos conceder verbas suplementares.
O que não podemos aceitar é que o Judiciário precise
contar com a benevolência e com a sensibilidade do
governador do momento. Com Geraldo Alckmin, Cláudio
Lembo e José Serra tivemos um tratamento de respeito e
independência entre os poderes. Mas amanhã pode haver
outro que não compreenda as necessidades da Justiça.
É necessária a efetiva autonomia financeira do Judiciário.
Defendo que 6% do total do orçamento do estado seja
destinado ao Poder Judiciário. É um valor razoável,
de cerca de R$ 6 bilhões.
ConJur —
A Emenda Constitucional 45 [Reforma do Judiciário] não
estabeleceu que as verbas geradas pelo Judiciário devem
ser destinadas à sua administração?
Limongi
— A redação é dúbia. Dispõe que a verba deve ser
destinada para a Justiça. Mas a Justiça é composta
por advogados, membros do Ministério Público,
defensores públicos, juízes. A emenda não determinou
claramente que é para o Poder Judiciário. Os demais
interessados usam esse argumento para reivindicar parte
das verbas.
ConJur —
Como é que o governador do estado faz o repasse das
custas judiciárias e extrajudiciárias para o tribunal?
Limongi
— A arrecadação é feita pela Fazenda, que repassa
ao tribunal 33% do que cobra por custas e 3% da arrecadação
com emolumentos. No Rio de Janeiro, 20% dos emolumentos
e das taxas são destinadas ao Tribunal de Justiça. E o
dinheiro não passa pela Fazenda. O Judiciário do Rio
tem tanto dinheiro que até empresta ao Executivo.
ConJur —
Esse é o modelo que o senhor queria ver implantado?
Limongi
— Certamente 20% do valor dos emolumentos daria um bom
dinheiro. Mas o modelo que defendo é o índice fixo
sobre o total da arrecadação.
ConJur —
O tribunal ainda mantém convênio com a Nossa Caixa
Nosso Banco em relação aos depósitos judiciais?
Limongi
— Temos R$ 13 bilhões depositados na Nossa Caixa em
favor do Tribunal de Justiça e não podemos aproveitar
esse dinheiro. Há cinco anos, a presidência do
Tribunal assinou um convênio por 15 anos. O tribunal
perdeu muito dinheiro com isso.
ConJur —
Quais os termos desse convênio?
Limongi
— A Nossa Caixa se comprometeu a construir um prédio
de 25 andares para o tribunal e informatizá-lo. Está
errado. Não temos de depender do banco para estruturar
a Justiça.
ConJur —
Tem prazo para o prédio ser construído?
Limongi
— Tem, mas não foi cumprido. Atualmente, estamos na
licitação para o projeto executivo. Nessa fase, ainda
serão escolhidos a alocação das unidades e uma
infinidade de itens como cadeiras, mesas e demais utensílios.
Equipar e aparelhar todo o complexo. Isso demora. Até
ficar tudo pronto leva oito anos ou mais.
ConJur —
Qual é a prioridade da sua gestão?
Limongi
— É a informatização. Em 2006, gastei R$ 200 milhões.
Até junho deste ano, foram mais R$ 100 milhões na
tentativa de modernizar rapidamente o tribunal. Ainda há
muita coisa para aperfeiçoar, mas conseguimos
informatizar 90% da rede de todo o Tribunal de Justiça.
Quase todas as comarcas estão informatizadas e ligadas
à rede do TJ.
ConJur —
O site do TJ paulista ainda é um dos mais atrasados do
Brasil em termos de acompanhamento processual. O que foi
feito para melhorar isso?
Limongi
— Uma empresa de Santa Catarina foi contratada para
digitalizar os processos. Aliás, a nova era do processo
digital começa em agosto, no Fórum João Mendes, com
um projeto piloto. No último dia 26, inauguramos o foro
regional da Nossa Senhora do Ó, que é totalmente
digitalizado. Não há papel, nem estantes. O que
estiver em papel será escaneado. O juiz vai examinar o
processo no computador. Em agosto, os desembargadores
também poderão trabalhar de maneira digital.
ConJur —
Tradicionalmente, o Órgão Especial sempre foi
conservador. A unificação dos tribunais de alçada e o
Tribunal de Justiça acelerou o processo de modernização?
Limongi
— A última eleição modernizou o Órgão Especial.
Hoje são nove desembargadores eleitos, que mudaram a
Corte porque têm mais ímpeto e motivação. Inclusive
porque querem ser reconduzidos por mais dois anos. Essa
eleição é crucial, porque democratiza o Judiciário e
muda o modo de pensar.
ConJur —
No que a Emenda 45 melhorou a Justiça paulista?
Limongi
— Ajudou ao determinar a distribuição de todos os
feitos. Os desembargadores receberam um acervo
monstruoso: 1,5 mil a 2 mil recursos. Aflitos, muitos já
acabaram com esse acervo para manter o serviço em dia.
Isso foi uma vantagem.
ConJur —
Apesar do esforço dos desembargadores, o estoque
continua crescendo. Levantamento da produtividade do
juiz de primeira instancia de São Paulo mostra que ele
é um dos mais produtivos do país. Já o dos
desembargadores é exatamente o contrário: são dos
mais improdutivos. Quais são as dificuldades?
Limongi
— Por incrível que pareça, os desembargadores de São
Paulo tem apenas dois assistentes. E o segundo
assistente veio no ano passado. No Rio Grande do Sul
eles têm três assistentes há anos. O tribunal
paulista é muito criterioso na contratação.
ConJur —
Quais os principais entraves que o senhor encontrou para
colocar em prática as mudanças que pretendia?
Limongi
— Não há condições de trabalhar do jeito que a
Justiça está. Três meses para julgar uma petição é
absurdo. No meu tempo de juiz, se demorasse três dias
era caso de punição. Não podemos admitir isso. Mas
como ninguém tem responsabilidade pessoal, as coisas vão
ficando como estão.
ConJur —
Isso pode mudar? Os desembargadores cooperam?
Limongi
— Claro. Já está mudando. Desde o meu antecessor, o
desembargador Elias Tâmbara. As comissões que montamos
cooperam muito.
ConJur —
Dentro de cinco meses o senhor vai passar o bastão. Que
recomendações dá ao seu sucessor?
Limongi
— Não desfazer o que foi feito. O Rio de Janeiro teve
sorte porque teve cinco administrações sucessivas
afinadas.
ConJur —
O que o senhor comemora e o que lamenta em sua
administração?
Limongi
— Comemoro as eleições para o Órgão Especial, para
as quais houve muita resistência. Contestaram as eleições
no Conselho Nacional de Justiça e perderam. Convoquei
as eleições e 280 desembargadores compareceram. O que
me frustrou foi não conseguir pagar pontualmente os
reajustes aos funcionários. Muitas vezes o legislador não
é sincero. Faz uma lei e não há dinheiro para
cumpri-la.
ConJur —
Levantamento feito pela ConJur mostrou que 75% das leis
federais levadas ao exame do Supremo Tribunal Federal são
consideradas inconstitucionais. Três anos atrás,
fizemos o mesmo levantamento em São Paulo e constatamos
que 80% das leis municipais são consideradas
inconstitucionais pelo TJ. Em que medida a má qualidade
das leis atrapalha a vida do Judiciário?
Limongi
— Há um número excessivo de leis municipais
inconstitucionais. Principalmente em Ribeirão Preto. Os
vereadores não se importam em fazer leis que têm
certeza que são inconstitucionais por vício de
iniciativa. Muitas vezes tenho a sensação de que o
legislador pensa que o que interessa é ter a iniciativa
de fazer uma coisa boa para a população, não importa
se é ou não inconstitucional.
ConJur —
O Judiciário pune mais os juízes hoje ou os desvios é
que são mais noticiados?
Limongi
— As duas coisas. Mas se há mais desvios, é porque há
mais juízes também. Quando entrei na magistratura
havia 600 juízes no estado de São Paulo. Hoje, são
dois mil.
ConJur —
O grampo no Brasil virou uma febre. Não deveria haver
mais parcimônia tantos nos pedidos quanto nas autorizações
para fazer escuta telefônica?
Limongi
— O juiz tem a obrigação de garantir os direitos
fundamentais. O direito à intimidade, previsto na
Constituição, tem de ser preservado. Não tem o menor
sentido iniciar uma investigação por meio de grampo. Não
se investiga mais. Coloca-se o grampo, que faz todo o
resto. Está errado. Temos de autorizar o grampo na
medida em que há provas ou indícios sérios de que a
pessoa investigada praticou algum crime. Não podemos
aceitar isso. Estamos em um Estado Democrático de
Direito.
ConJur —
Os juízes se ressentem muito das reportagens a respeito
de problemas com o Poder Judiciário? Como o senhor vê
o relacionamento do juiz com a imprensa?
Limongi
— O juiz sempre foi orientado para não dar
entrevistas. O Poder Judiciário sempre foi hermético.
A orientação que recebemos no início da carreira é:
juiz só fala nos autos. Acho errado. O juiz tem que
falar. Não há mal em falar com o presidente da Assembléia,
com deputados do PT, do PSDB, ou de qualquer outro
partido. Não posso falar de um processo que está em
julgamento. Mas posso falar sobre aborto, eutanásia,
difundir o Direito, comentar as declarações do Papa.
ConJur —
Essa orientação é dada aos novos juízes quando estão
na Escola da Magistratura?
Limongi
— Na escola ninguém fala muito da imprensa.
Recentemente, foram incluídas algumas palestras e aulas
sobre mídia. Na minha gestão no TJ e como presidente
da Apamagis (2004-2005) sempre orientei o juiz a falar.
Claro que com cuidado para não adiantar o resultado de
um julgamento.
ConJur —
Existem muitos casos de irregularidades de
desembargadores no Judiciário paulista? Alguma
investigação?
Limongi
— Não.
ConJur —
O caso do desembargador Di Rissio Barbosa foi
investigado?
Limongi
— Não sei o resultado o procedimento instaurado, mas
não soube de fatos que mereceram maior atenção [o
desembargador foi acusado de decidir causas a pedido do
filho, o ex-delegado André Di Rissio, acusado de
liderar esquema de liberação ilegal de mercadorias no
aeroporto de Viracopos, em Campinas].
ConJur —
O Conselho Nacional de Justiça, que deveria cuidar da
harmonização e padronização de normas do Judiciário
no país, está virando uma grande corregedoria para
cuidar de casos disciplinares. Em grande parte, porque
as corregedorias não são rigorosas. O senhor acha que
isso tem conserto?
Limongi
— O CNJ se desviou das suas atribuições. O Conselho
deveria trabalhar em política de administração, na
informatização e padronizar os procedimentos. No lugar
de trabalhar no macro, trabalho no varejo. Transforma os
tribunais em verdadeiros departamentos do CNJ, em termos
da função administrativa. O que nós não fazemos,
eles fazem. E o que nós fazemos, eles desfazem.
ConJur —
Mas são os juízes e desembargadores que pautam o
Conselho, não?
Limongi
— Sim, e reclamam de tudo. Eu determinei a mudança do
júri do bairro de Santo Amaro para o da Barra Funda,
porque há mais segurança. Aí acharam que os crimes
praticados em Santo Amaro deveriam ser julgados pelo júri
de Santo Amaro. A reclamação foi parar no CNJ. Tivemos
de ir até lá fazer sustentação oral. O julgamento
ficou empatado em seis a seis. Quem desempatou foi o
ministro Gilmar Mendes, que na ocasião presidia o
Conselho. Isso deveria ter sido arquivado de plano.
Somos obrigados a gastar energias com os equívocos do
CNJ.
ConJur —
Quantos cargos de juízes estão vagos em São Paulo?
Limongi
— Há 419 vagas. Quando assumi a presidência, havia
597. As varas já estavam instaladas, mas faltavam juízes.
Fizemos três concursos e 270 juízes foram contratados.
Mas muitos tomaram posse em um dia e no outro saíram
para a Justiça Federal.
ConJur —
A melhor remuneração da Justiça Federal continua
roubando servidores da Estadual?
Limongi
— Muito. Tanto juízes como escreventes.
ConJur —
Na prova técnica, a maioria dos candidatos é
reprovada. No entanto, praticamente todos os
concorrentes são aprovados no estágio probatório, que
é a avaliação vocacional. Todo mundo tem vocação?
Limongi
— Não. Muitas vezes a pessoa não tem vocação, mas
permanece. Trabalha bem, se esforça e continua. Se não
cria problemas, também fica.
ConJur —
O respeito ao princípio da publicidade é extremamente
lento. Há decisões que levam três meses para que
sejam publicadas. Além disso, o tribunal não tem
colocado material jurisprudencial no site. O
desembargador Ivan Satori criticou isso.
Limongi
— Com a informatização, a publicação das decisões
está bem mais rápida. Em relação à jurisprudência,
fizemos uma licitação para publicar a revista de
jurisprudência. Houve um problema no processo de
concorrência, que teve de começar de novo. O processo
licitatório é um entrave. Fica tudo difícil. Para a
assinatura de jornais na assessoria de imprensa, levou
seis meses.
ConJur —
O Diário Oficial Eletrônico já está funcionando?
Limongi
— Já está no ar. Mas a lei prevê que só depois da
publicação de 30 edições sucessivas ele passa a ter
valor oficial de comunicação dos atos do Tribunal de
Justiça. A partir de outubro, eliminamos por completo o
Diário de Justiça impresso.
ConJur —
Quanto o tribunal gasta com a Imprensa Oficial?
Limongi
— R$ 4 milhões por ano. O meio ambiente também vai
agradecer o Diário Oficial Eletrônico.
ConJur —
Por falar em meio ambiente, a criação das câmaras
especializas em Meio Ambiente e Falências foi salutar.
Há propostas de novas câmaras especializadas?
Limongi
— Não. A criação da câmara especializada em Crime
Organizado é uma coisa para se pensar, mas há
dificuldades para ser criada porque ainda não há
definição legal do que seja crime organizado.
ConJur —
Temos 17 milhões de processos em andamento no estado de
São Paulo. Mais de 50% são execuções fiscais. Há
uma forma de atacar esse problema?
Limongi
— Com a automação dos processos. Um programa que dará
tratamento de massa para as execuções fiscais. Depois
que a Lei de Responsabilidade Fiscal entrou em vigor, o
prefeito se sente na obrigação de distribuir qualquer
tipo de execução, mesmo aquelas com valor ínfimo, de
poucos reais. E é contraproducente porque o trâmite de
um processo de execução fiscal custa R$ 1 mil.
ConJur —
Em uma palestra, o juiz Eduardo Marcondes [assessor da
presidência do TJ paulista] afirmou que a população
cresce 1,1 % ao ano enquanto o número de ações
aumenta 12,5 %. Segundo ele, quem diz que a população
não tem acesso à Justiça está errado. Na verdade,
existe um excesso de acesso à Justiça. É isso mesmo?
Como evitar esse excesso?
Limongi
— As soluções alternativas para o conflito são a
mediação e a conciliação. A ação só deveria ser
iniciada depois de uma tentativa de conciliação. Nas ações
de família, eu costumava mandar citar a parte para
comparecer à audiência de conciliação e a partir
dali começaria a correr o prazo de contestação. Dá
trabalho trazer o réu para a conciliação, mas às
vezes é muito melhor. Investir na conciliação
resolveria o processo mais rapidamente.
ConJur —
Punir o mau litigante não seria uma forma de diminuir o
número de processos? O senhor não acha que os juízes
aplicam poucas multas por litigância de má-fé?
Limongi
— O problema de aplicar a multa por litigância de má-fé
é a dúvida sobre a ignorância da parte. Há
advogados, com boa oratória, que convencem qualquer um
de que o Judiciário é contra a cobrança da assinatura
básica, por exemplo. A pessoa que não tem noção de
Direito entra com a ação. Se aplicarmos a multa por
litigância por má-fé, não é o advogado que vai
pagar. É bom lembrar que sempre existe o interesse de
uma das partes na morosidade, como quando estão em jogo
causas do Poder Público, que é nosso maior cliente.
Quem não paga é caloteiro. O Poder Público não paga.
Logo, é caloteiro.
ConJur —
O senhor considera que o excesso de acesso à Justiça
também é gerado pela omissão estatal, que não provê
direitos básicos como educação, da saúde,
saneamento?
Limongi
— Quando um poder não funciona, os outros também não
podem funcionar a contento. Se o Executivo não dá
creche, escola, internação, remédios, sobrecarrega o
Judiciário. Hoje, as pessoas mais conscientes de sua
condição de cidadãos vão buscar a solução no
Judiciário. Isso faz crescer o número de ações
judiciais.
ConJur —
O senhor acaba de inaugurar uma Vara da Fazenda Pública
em Barueri, na grande São Paulo. Como foi, para o
presidente do tribunal, voltar ao local onde trabalhou há
mais de 30 anos como juiz?
Celso
Limongi — Muito bom. Trabalhei em terceira entrância
de outubro de 1972 a abril de 1975. Era a única comarca
que não tinha juiz auxiliar ou substituto. À época,
fazia 15 audiências por dia e saía sempre às nove da
noite. Hoje, a população triplicou, mas o número de
varas também aumentou.
ConJur —
Que tipos de causas o senhor julgava?
Limongi
— Tinha toda a jurisdição possível nas mãos:
eleitoral, trabalhista, infância, família, militar —
homicídios militares e sindicâncias contra a polícia.
Também julgava as causas federais porque não existia a
Justiça Federal. Julguei muitas causas trabalhistas
contra um mau patrão da região, o J.J. Abdala, que era
dono da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus.
ConJur —
Tem boas histórias da época para contar?
Limongi
— Lá decretei a prisão de Sérgio Fleury [delegado
do Departamento de Ordem Político e Social (Dops), que
se tornou um dos homens mais famosos na repressão
durante a ditadura militar]. Fiz uma audiência com sete
réus, incluindo ele.
Fonte:
Conjur, de 1/06/2007